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AVICULTURA

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Artigo: Desafios para estender de maneira econômica o ciclo produtivo de poedeiras comerciais

Por: Marco Aurélio Nunes, Gerente Técnico Latam
Por Camila Santos

INTRODUÇÃO 

Nos últimos 100 anos, a humanidade tem experimentado ganhos espetaculares no que diz respeito a expectativa de vida. Uma pessoa nascida na Roma Antiga, tinha uma expectativa de vida não muito superior a 30 anos. Um brasileiro nascido nos anos 40 não tinha a expectativa de viver muito mais que 45 anos.

Hoje, se espera que um brasileiro nascido em 2024 vai viver em média até os 76 anos e as estimativas do IBGE apontam que em 2070 esta expectativa vai chegar próxima aos 84 anos. Esta melhoria incrível pode ser creditada aos avanços na ciência que proporcionaram melhores condições de higiene e controle de diversas doenças infecto contagiosas e parasitárias.

Infelizmente, os ganhos com o aumento da expectativa de vida vieram acompanhados do aumento da incidência e prevalência de outros problemas, como por exemplo problemas cardíacos, câncer, diabetes, demência, e outras doenças metabólicas. Podemos dizer que é a inevitável “fadiga da máquina” cobrando seu preço.

Atualmente já é consenso que um envelhecimento saudável envolve cuidados que devem ser iniciados ainda na juventude como alimentação saudável, exercícios físicos, cultivar bons hábitos e combater o estresse, bem como manter monitoramento e, caso necessário, controle sobre os problemas de saúde que possam ir surgindo com o passar do tempo. Neste contexto, podemos traçar um paralelo com a produção de ovos comerciais.

Nos últimos anos, estamos vivenciando uma significativa extensão do período de produção das aves em um único ciclo produtivo, ou seja, sem contar com o artifício da muda forçada. Não é raro encontrar lotes de poedeiras com idades superiores a 100 semanas ainda com bons índices produtivos e temos que agradecer aos relevantes avanços do melhoramento genético das aves para alcançar estes números.

Evolução da capacidade de persistência de produção de ovos das poedeiras atuais. 

O principal benefício em estender o ciclo de produção de poedeiras é econômico, já que esta estratégia dilui os altos custos de reposição representados pela compra das pintainhas e preparação das frangas, porém não podemos perder de vista que esta estratégia carrega com ela desafios importantes envolvendo justamente “A fadiga da máquina”. 

Em poedeiras, a “fadiga da máquina” pode ser verificada em números, principalmente ao redor 35 – 40 semanas de idade onde normalmente se verifica o apogeu das taxas de produção de ovos e que depois disso,  pouco a pouco vão diminuindo. Mas não só isso. Após as 60 semanas de idade, podemos também notar uma redução progressiva da qualidade dos ovos. 

Da mesma forma que em seres humanos, esta condição especial demanda estratégias especiais, tanto para corrigir como também para mitigar os seus efeitos. Qualquer estratégia elaborada neste sentido necessita levar em consideração que o ambiente intensivo de produção vai demandar ao limite todos os processos metabólicos das aves por toda a vida, do alojamento da  pintainha ao descarte do lote.

A tabela abaixo mostra a composição de um ovo estratificada por cada estrutura.

Quando usamos estes dados para estimar o montante produzido por uma ave em um ciclo de produção de 80 semanas de idade, uma galinha de ~ 2,00 kg vai produzir:

  • 22,6 kg de massa de ovos
  • 7,5 kg de gema de ovo
  • 2,82 kg de casca de ovo
  • 1 kg de cálcio

Isto nos dá uma ideia do tamanho da exigência metabólica por que passa uma ave durante a sua vida produtiva, sempre  é bom lembrar que alta exigência metabólica fatalmente resultará em alta produção de RADICAIS LIVRES.

RADICAIS LIVRES E ENVELHECIMENTO CELULAR 

O conceito de citoproteção ovariana para mitigar os efeitos do processo de envelhecimento ovariano

Os radicais livres são moléculas altamente reativas que possuem um ou mais elétrons desemparelhados. Eles são produzidos naturalmente produzido por processos metabólicos, como a respiração celular, porém, em condições de estresse ou nos casos de alta demanda metabólica, tem sua produção aumentada.  A teoria do envolvimento dos radicais livres no processo de envelhecimento sugere que o acúmulo de danos causados por essas moléculas ao longo do tempo contribui significativamente para o processo de envelhecimento celular. Esses danos ocorrem principalmente em componentes celulares essenciais, como DNA, proteínas e lipídios.

Em condições normais, as celular possuem mecanismos naturais de defesa contra o radicais livres (Enzimas como Superoxido Dismutase, Catalase, Glutationa Peroxidase, Vitamina E, C, A, Carotenoides, etc) . O problema é quando a produção dessas moléculas sobrepassa a capacidade de produção dessas defesas. Neste caso, entendemos que as células estão em uma condição de estresse oxidativo.

É sabido que o declínio das funções ovarianas ao longo do ciclo de produção de óvulos está ligado ao envelhecimento ovariano. O estresse oxidativo demonstrou reduzir a taxa de postura em galinhas poedeiras, reduzir a reserva folicular e aumentar a apoptose nas células dos ovários.

Uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes ao envelhecimento ovárico e das possibilidades de mitigar o estresse oxidativo está ajudando a encontrar maneiras de prolongar a vida útil ovariana e, assim, aumentar potencialmente a duração da produtividade da produção de ovos em galinhas poedeiras. 

Ensaios recentes conduzidos por Mountzouris et al. avaliando o impacto nos parâmetros de desempenho de produção de ovos e na capacidade antioxidante de ovários em galinhas poedeiras suplementadas com o produto ANCO FIT POULTRY (formulação complexa baseada em distintos fitogênicos) indicaram o potencial de sustentar a produção de ovos por mais tempo. A expressão gênica do Nrf2 e certas enzimas antioxidantes a jusante ligadas à via Nrf2-Keap1 foi significativamente aumentada nos ovários em resposta à inclusão do produto na dieta das aves, o que foi associado ao aumento das taxas de postura e à melhoria dos parâmetros de qualidade dos ovos. 

Diversas observações realizadas a campo demonstram que a estratégia de citoproteção ovariana tem o potencial de retardar o processo de envelhecimento ovariano, porém tem alcance limitado para reverte-lo. Após 70 – 80 semanas de idade, o processo de envelhecimento já está instalado e outras desordens metabólicas envolvendo a “fadiga da máquina” começam a ganhar prevalência. É o caso do diabetes do tipo II.

Diabetes do tipo II: Um problema complexo resultado da “fadiga da máquina” com impacto na performance produtiva na fase de postura tardia

A demanda energética, tanto para crescimento, mas principalmente para a produção de ovos é considerada alta para galinhas poedeiras. Basicamente esta demanda energética é atendia por carboidratos provenientes dos grãos, o que expõe as aves a uma pressão hiperglicêmica por toda a vida, principalmente no período de produção de ovos, já que a demanda energética para a produção de um ovo é ao redor de 1/3 do total da energia fornecida pela dieta.

Ao contrário de outras espécies, como ruminantes e suínos, as aves têm uma capacidade muito baixa de biossintetizar “de novo” triglicerídeos nos adipócitos. Isso explica por que as poedeiras mantêm uma alta concentração de glicose no sangue em torno de 1,90 a 2,20 g/L para enfrentar o enorme desafio da lipogênese para a formação de ovos . Assim, as galinhas estão altamente sujeitas ao diabetes tipo 2.

Dietas ricas em gordura ajudam a manter o fígado saudável, mas são muito caras para o avicultor por causa do custo da fórmula. Geralmente uma galinha poedeira pode receber 3 g de gordura por dia de uma dieta comercial, enquanto a gema de ovo média contém 6 g de lipídios . No entanto, a dieta contém principalmente cereais ricos em carboidratos como celulose e amido. É por isso que uma galinha poedeira precisa sintetizar ácidos graxos “de novo” no fígado para atender às necessidades lipídicas para produzir um ovo.

O diabetes é fomentado pela diminuição da sensibilidade das células à insulina (= resistência à insulina), especialmente quando se observa sobrepeso e sedentarismo. Isso sugere que a prevalência de diabetes em galinhas poedeiras deve ser maior em gaiolas do que em sistemas de aviários ou de criação ao ar livre. Para responder à alta demanda de insulina, as células pancreáticas produzem mais insulina até que não sejam capazes de produzir o suficiente. A produção de insulina torna-se insuficiente e leva a um acúmulo de glicose no sangue.

Quando as células se tornam resistentes à insulina e,  particularmente, as células do fígado, músculo e tecido adiposo, o hormônio não é capaz de gerar um sinal eficiente para garantir a entrada de glicose dentro das células. Sendo a glicose o principal “combustível” celular, os distúrbios ocorrem em níveis fisiológicos. No fígado, a insulina normalmente suprime a liberação de glicose. No entanto, no contexto de resistência à insulina, o fígado libera inadequadamente glicose no sangue. Outros mecanismos incluem o aumento da degradação de lipídios dentro das células de gordura . O acúmulo de gordura hepática é uma complicação do diabetes: Observa-se aumento do transporte de gordura para o fígado associado à diminuição da oxidação ou remoção de gordura do fígado, explicando a síndrome do fígado gorduroso que ocorre no final do período de produção.

Pesquisas recentes desvendaram o papel metabólico dos receptores ao estrógeno α (RE α) e β (REβ). O REα tem um papel protetor nos distúrbios metabólicos, melhorando a sensibilidade à insulina e a tolerância à glicose, enquanto o REβ reduz a sensibilidade à insulina e a tolerância à glicose, promovendo ações pró-diabetogênicas. Em aves jovens, os dois receptores estão ativos, respondendo aos estímulos do estrógeno, ou seja, a pressão pro-diabetogênica exercida pelo Reβ é neutralizada pela reatividade do REα. Com o passar do tempo, o REα vai perdendo a capacidade de reação à presença do estrógeno, porém esta capacidade é mantida no caso do Reβ, o que agrava a pressão pro-diabetogênica.

Uma maneira de superar essa síndrome é neutralizar a mudança da sensibilidade dos REs aos estrogênios circulantes e restaurar a sensibilidade dos REα aos estrogênios a fim de promover a sensibilidade à insulina e restaurar o equilíbrio com os efeitos pró-diabéticos exercidos pelos REβ. 

Graças a um fitonutriente específico da família Ferula spp rico em ferutinina, o produto PERFEGG é capaz de restaurar a sensibilidade do ERα, retomando o equilíbrio com o ERβ. A retomada da sensibilidade do ERα vai resultar em a uma produção de ovos mais regular, bem como à melhoria da eficiência alimentar e saúde hepática em aves na fase de postura tardia. Consequentemente, PERFEGG atenua a gravidade da diabetes tipo 2 e é especificamente recomendado para galinhas poedeiras no final do seu ciclo de produção.

CONCLUSÕES

Guardadas as devidas proporções, é perfeitamente viável traçarmos um paralelo entre o que acontece com seres humanos e galinhas poedeiras no que diz respeito a extensão da vida produtiva.

Como em seres humanos, o processo de envelhecimento fatalmente vai resultar em desordens metabólicas resultantes da “fadiga da máquina”

Retardar o processo de “fadiga da máquina” bem como corrigir as desordens metabólicas que vão aparecendo pelo caminho, atualmente são as estratégias exequíveis que podem ser aplicadas tanto em seres humanos quanto em galinhas poedeiras.

Os efeitos de citoproteção ovariana observados com o produto ANCO FIT POULTRY, complementados posteriormente  pelo produto PERFEGG visando correção dos problemas metabólicos advindos do aumento da prevalência de diabetes do tipo II em poedeiras em final de ciclo produtivo, podem compor o leque de estratégias para estendermos o período de produção de ovos de maneira econômica.

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