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Pecuária gaúcha: crise estrutural ou conjuntural?

Especialistas debateram pauta durante encontro do Instituto Desenvolve Pecuária
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Cattle Herd

“É muito fácil produzir no Brasil Central e Norte do País”, opina Fernando Costabeber, médico-veterinário e proprietário da Fazenda Pulquéria, de São Sepé (RS). Ele faz uma comparação: “No Rio Grande do Sul, se torna mais difícil porque quando tem a maior fotossíntese no nosso verão – o crescimento do pasto precisa de calor e luz – nós não conseguimos fazer um planejamento estratégico em cima da área”. 

Ele conta que, nos três anos anteriores, o que foi plantado de pastagens de verão em sua fazenda acabou não sendo aproveitado. “Foram apenas custos. Nossa produção de pastagens é muito baixa em comparação com as tropicais”, ressaltou, destacando que é muito mais caro e difícil produzir no Rio Grande do Sul. “Nós temos outros problemas que no Brasil Central não tem, como carrapato”, colocou.

O médico-veterinário, no entanto, também comentou algumas vantagens no Estado, como raças que produzem carne de melhor qualidade e que só conseguem produzir em um clima como o nosso. Salientou, porém, que “a nossa única alternativa para sobrevivência são as mudanças estruturais”. Citou como exemplo o Uruguai que num período longo de tempo conseguiu dar estabilidade para toda a pecuária do país.

Para Fernando, a pecuária gaúcha está vivendo um momento histórico e dramático, quando, em 45 dias, o preço do gado gordo caiu 40%. “Era esperada uma queda, mas não nesse nível. Entre as razões, está um aumento no Brasil da produção no primeiro semestre em torno de 10% e, ao mesmo tempo, o consumo interno e a exportação não aumentaram. E esta situação é muito mais séria no Rio Grande do Sul do que no resto do País”, enfatizou.

O tema foi debatido no ciclo de debates intitulado “SOS Pecuária Gaúcha – O que fazer agora?”, iniciado na última terça-feira (05), dentro da 27ª edição do Prosa de Pecuária, live realizada no canal do Desenvolve Pecuária, no YouTube. Ao todo, o ciclo contará com quatro painéis, envolvendo pesquisadores e empresários de renome do Estado do Rio Grande do Sul.

Edição contou com a colaboração de Júlio Barcellos e Fernando Costabeber (Foto: divulgação)

O professor Júlio Barcellos, do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), afirmou na ocasião que “este pedido de socorro precisa ecoar nos mais diferentes rincões para que todos compreendam que está se vivendo não apenas uma situação unicamente conjuntural, mas com elementos estruturais”. 

Referindo-se aos preços, o professor apresentou um panorama do valor do boi gordo no Estado desde 6 de julho de 2022. Disse que, historicamente, o quilo da vaca vale 10% menos que o do boi. “No final de 2021 a vaca valia 92% do preço do boi que havia aumentado muito, mas, hoje, no entanto, o deságio da vaca é de 23%. “Em 30 de agosto deste ano, o preço do boi gordo chegou a R$ 6,50 o quilo e a vaca ficou em R$ 5,00”, informou.

O professor explicou ainda que a queda dos preços é mundial, não sendo diferente no Rio Grande do Sul e, isto, é uma questão conjuntural, mas, quando é estrutural, os efeitos do estrago são diferentes. “Não vi pedido de socorro no Uruguai ou no Paraguai, nem nos estados de Rondônia, Pará ou Mato Grosso do Sul. Mas, aqui, nós precisamos de SOS”, alertou. 

Barcellos exemplificou sua fala com uma atualização de valores no preço do boi. “Em 1985 o quilo do boi custava 68 centavos de dólar. Corrigindo pela inflação americana, hoje este boi deveria estar em 2,2 dólares, o que seria atualmente em torno de R$9,50/R$10,00. Porém, nesta data de 5 de setembro, equivale a 1,32 dólares. Isto demonstra que a crise é muito maior do que imaginamos”, refletiu, colocando que a pecuária passou a gastar mais e perdeu poder.

Finalizando sua palestra, Júlio Barcellos destacou que a questão do Estado do Rio Grande do Sul é estrutural e não conjuntural. “Nossa estrutura produtiva é de alto custo, média/baixa produtividade, dispersa geograficamente, de pequena escala e não tem inteligência estratégica organizacional”, pontuou.

O vice-presidente do Desenvolve Pecuária, Paulo Costa Ebbesen, explicou que a iniciativa tem como objetivo analisar as causas desta crise no setor que provocou uma forte queda nos preços do boi gordo: “Será uma crise conjuntural decorrente dos fatores de produção ou uma crise estrutural de natureza mais profunda”.

O mediador do painel, João Ghaspar de Almeida, presidente da Comissão de Relacionamentos da entidade, disse que o resultado esperado deste ciclo de debates, em relação à missão do Desenvolve Pecuária, é sair com alguns dados para formar uma ação em busca de soluções para esta crise. 

O próximo painel ocorre no dia 11 de setembro, às 19h, com a participação do pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Danilo Sant’Anna, e do presidente da Comissão de Relacionamento com o Mercado do Instituto Desenvolve Pecuária, Ivan Faria.

Fonte: Desenvolve Pecuária, adaptado pela equipe FeedFood.

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