Wellington Torres, da redação
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No centro de debates sobre produção sustentável de proteína animal e conservação da fauna e da flora local, Brasil pode unir frentes em prol de mercado cada vez mais consciente. Ao menos, essa é a ideia de projeto piloto desenvolvido pela Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO) em parceria com o Instituto Homem Pantaneiro (IHP).
A iniciativa, anunciada ainda em 2022, visa conservar onças e proteger rebanhos bovinos, como explica o Gerente Executivo da ABPO e Coordenador dos Programas de Carne Orgânica e Sustentável do Pantanal, Silvio Balduino: “O projeto surgiu da necessidade de equacionar o conflito entre grandes felinos e os rebanhos pantaneiros, pois a predação de bovinos por onças [pintadas e pardas] é fator gerador de altos índices de mortalidade de animais, provocando grande prejuízo para os produtores da região”.
Como mostra estudo realizado em 2018, a população de onças-pintadas na região é composta por cerca de 1668 indivíduos – número antecede a onda de incêndios que atingiram parte do Pantanal, em 2020. Pesquisas mais recentes, segundo levantamento realizado pelo Jornal da USP (Universidade de São Paulo), destacam a possibilidade de haver 13 indivíduos por 100 quilômetros quadrados (km²).
“O Pantanal concentra a segunda maior população de onças das Américas, ficando atrás apenas da Amazônia, sendo o Pantanal o menor Bioma do Brasil e a Amazônia, o maior. Desta forma o primeiro concentra a maior população por metro quadrado de onças”, frisa Balduino, ao pontuar que “a área também é a única no mundo em que se tem produção pecuária em harmonia com a fauna e a flora silvestre, embora haja grande prejuízo com a morte de bovinos predados por animais do topo da cadeia”.
De acordo com o profissional, “esses animais, assim como toda a biodiversidade, devem ser conservados para o bem de toda a humanidade”, porém, atualmente, o custo da conservação recai apenas sobre os produtores, o que deve ser mudado.
Na tentativa de contornar este cenário, a iniciativa propõe que os prejuízos que não puderem ser evitados venham a ser contabilizados de forma sistematizada e auditável, para que a sociedade possa fazer parte da solução por meio de políticas públicas, pagamentos por serviços ambientais e de prêmio ou sobre-preço pelos produtos produzidos nos locais.
Para dentro da porteira, a coexistência deve estar ligada à implementação de estratégias de mitigação dos prejuízos, como alocação de maternidades em locais adequados, instalação de cercas elétricas com voltagem e altura que impeçam a circulação dos felinos junto aos rebanhos, repelentes luminosos e criação de animais que expulsam os predadores de perto dos rebanhos, como búfalos.
Até o momento e de forma voluntária, três fazendas participam do projeto. Elas estão localizadas em Nhecolândia, Nabileque e Aquidauana. No entanto, para o presidente da ABPO, Eduardo Cruzetta, a participação e adesão de mais pecuaristas pantaneiros acontecerá na medida em que a viabilidade dos investimentos seja confirmada – parte essencial para que o projeto tenha sucesso.
“A conta não é barata, precisamos primeiramente mostrar que a pecuária pantaneira existe e coexiste com a diversidade do bioma. Também precisamos proteger nosso rebanho. Essa é uma via de mão dupla, que tem seus desafios e precisa de apoio e valorização”, frisa Cruzzeta.
Um projeto de várias mãos
Além do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), a Fundação Panthera, o Governo do Mato Grosso do Sul, através do secretário da Semagro, Jaime Verruck, e o Sebrae MS também apoiam a iniciativa.
Para Silvio Balduino, os dois primeiros desempenham papéis de protagonismo: “Eles estão trazendo todo conhecimento acumulado no comportamento dos grandes felinos, e também experiências da aplicação das estratégias anti-predação que já estão sendo aplicadas em outros países da América Latina”.
O grupo, como também reforça Balduino, está alinhado ao comportamento do pecuarista local, uma vez que o “pantaneiro está há quase 300 anos desenvolvendo atividade pecuária de forma sustentável”.
“A iniciativa é fundamental para o bioma pela conservação da Biodiversidade, pois os grandes felinos estão no topo da cadeia alimentar e representam um importante indicador de conservação. Para os produtores, representa o desenvolvimento sustentável de suas atividades, já que o pilar econômico da produção pecuária é favorecido pela redução de danos”, finaliza.