A Associação Brasileira da Indústria Saboeira (ABISA) emitiu um comunicado nesta terça-feira (07) comentando sobre o biodiesel utilizado na mistura do diesel, especificamente quanto ao biodiesel à base de sebo bovino.
De acordo com a entidade, o aumento do percentual de biodiesel no diesel integra importante diretriz de sustentabilidade adotada pelo Governo Federal em seu programa Renovabio, criado em 2017.
“O mercado de biodiesel cresce paulatinamente, fomentado pelos constantes aumentos no percentual do biocombustível na mistura obrigatória do diesel”, continua a ABISA, acrescentando: “Diante dessa expansão, o uso de sebo bovino como matéria-prima do biodiesel ganhou amplitude, gerando impactos diretos na oferta e preço do sebo destinado ao setor saboeiro, precursor do uso deste produto para fins de industrialização” .
Enquanto o setor saboeiro expandiu 8,9% de 2019 para 2020, conforme dados da Associação Brasileira Inds Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (Abipla) via Nilsen, a oferta de sua matéria-prima principal foi redirecionada para o setor de biocombustíveis, fator que gerou distorção do volume e dos preços do sebo bovino no mercado.
“Em função da ausência de produto similar para a substituição do sebo na cadeia do sabão, o setor passou por iminência de desabastecimento durante o período da pandemia da COVID-19, dado o alto consumo pelo setor de biodiesel e o aumento da demanda por sabão no mercado interno”, continua o comunicado.
Além disso, o documento ainda destaca que o óleo de palma, produto utilizado para a fabricação de sabonetes e diversos produtos da cadeia de alimentos, não possui produção nacional suficiente para atender a demanda, tanto que é objeto de pleito de desabastecimento. Em função da oferta global e alto custo, é incapaz, portanto, de substituir o sebo bovino na composição do sabão em barra.
O aumento do consumo de sebo bovino pelo setor de biocombustível elevou o preço dessa matéria-prima de uma média anual de R$ 2,65 em 2019, a R$ 7,72 em 2022, influenciado pelo preço do óleo de soja, conforme dados da própria ABISA.
“Tais oscilações de preço, impactam diretamente a população de baixa renda, maior segmento de consumo de sabão em barra, sendo este, inclusive, um dos produtos componentes da cesta básica”, declara a associação.
A ABISA ainda afirma que o sebo, quando destinado ao setor saboeiro, possui especificidades em relação às características e à qualidade, enquanto para o biodiesel os critérios são mínimos, inexistindo controle sobre a matéria-prima.
Nesse contexto, a Abiove, a Aprobio e a Ubrabio, em nota conjunta divulgada em 24/02/2023, se manifestaram no sentido de que o biodiesel à base de óleo de soja gera efeitos deflacionários na cadeia alimentícia (carnes, ovos e lácteos), tendo em vista a ampliação na oferta e utilização dos derivados da soja, como o farelo de soja. Bem como pode gerar redução do custo do próprio combustível.
“Para além disso, estudos acadêmicos comprovam os riscos quanto aos efeitos do sebo bovino, que pode ocasionar, por exemplo, a solidificação do biocombustível e, consequentemente, menor rendimento do combustível produzido”, pontua a entidade.
Nesse sentido, a representante da indústria saboeira afirma ser evidente que o óleo de soja é mais eficaz como matéria-prima para a produção do biodiesel. Dessa forma, continua, a utilização de sebo bovino para a produção de biocombustível deve ser reanalisada pelo setor e pelos órgãos reguladores, em relação à qualidade do produto ofertado aos consumidores.
“É crucial que o uso de biodiesel avance em meio à pauta sustentável, porém, a qualidade e sustentabilidade da matéria-prima e do produto final devem ser analisadas atentamente. Com base nisso, deve-se considerar o óleo de soja como matéria-prima com maiores benefícios à cadeia dos biocombustíveis”, finaliza a entidade.
Fonte: ABISA, adaptado pela equipe Feed&Food.
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