Natalia Ponse, de Gramado (RS)
O Brasil, como referência na produção de alimentos a nível global, não pode deixar de nutrir também o conhecimento para que essa expertise seja cada vez mais aprimorada. Neste contexto, a 4ª edição da Conferência Brasil Sul da Indústria e Produção de Ovos fez uma excelente contribuição.
Realizada na cidade de Gramado (RS), e recebendo mais de 360 congressistas, entre os dias 18 e 20 de junho, a Conbrasul reuniu grandes nomes do setor em debates aprofundados sobre as principais tendências e cenários atuais da avicultura de postura.
O diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luis Rua, ressaltou a necessidade de compreender o que alguns países estão estabelecendo enquanto necessidades; mas, sem deixar de lado a carência por alimentos vivida por mais de um bilhão de pessoas no mundo: “Precisamos pensar em todos os níveis da cadeia, equilibrando as tendências globais e esta demanda por alimento”.
E esta preocupação ainda divide o cenário com um clima de incerteza envolvendo políticas internas e externas. No entanto, de acordo com a analista de Mercado Pecuário com ênfase nos Mercados de Suínos, Aves e Ovos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Juliana Ferraz, mesmo assim, a demanda por produtos sustentáveis e por práticas de bem-estar animal vai continuar.
“O foco também é crescente no consumidor, e vai continuar de maneira bastante significativa, assim como os padrões mais rígidos para produção sustentável e as regulamentações e políticas ambientais. Se faz cada vez mais questão da transparência, rastreabilidade de produtos, assim como a intensificação de medidas sanitárias e de bem-estar animal”, complementa.
Em sua visão, estes são pontos que não vão mudar: “Pelo contrário, a tendência é que eles continuem avançando independente do cenário, aqui no Brasil ou fora”. Assim como a tecnologia, conforme explica o presidente da Embrapa Suínos e Aves, Everton Krabbe.
“Hoje existem tecnologias mais acessíveis, que cabem na palma da mão. Então certamente essas são as tecnologias que a gente vai ver mais e mais presentes nos próximos anos”, diz e adiciona: “E isso é muito positivo, faz com que a gente tenha uma das três grandes e importantes palavras acontecendo, que é a agilidade – as outras são informação e sinergia”.
O especialista ainda defende um olhar mais apurado e crítico para as tantas variáveis que possam fazer surgir conflitos. Um exemplo envolve os sistemas de criação livre: “É muito bacana escutar os consumidores, mas precisamos pensar: é seguro? Não aumenta os riscos? Como vamos explicar para ele que nem sempre tudo que chega para ele de informação é o mais sustentável?”.
E quanto às instalações: será que, por melhor que sejam, elas não deveriam ser diferentes no futuro? Será que não precisaremos ter ambientes mais fechados, para controlar absolutamente todas as variáveis? “Acredito que, em algumas áreas das nossas cadeias de produção, é necessário. A inteligência artificial, por exemplo; lá na frente, a máquina pode passar a tomar decisões por nós”.
Tão presente nas rodas de conversa atualmente, a inteligência artificial pode contribuir e muito para a avicultura. Everton exemplifica sobre o uso dessa tecnologia utilizando a vocalização para identificar eventuais situações de risco, disposição, estresse etc.
“Também podemos utilizar a inteligência artificial para análise do ambiente externo”, insere o presidente da Embrapa. “Pensando em vetores no entorno de fábricas, aves e roedores são um grande problema pois estão em busca de alimento. Se tivéssemos externamente um sistema com base em imagens e geramos uma escala de risco que permitisse ao gestor identificar o horário ou região que atrai animais silvestres, poderia ajustar o ambiente”, explica.
Entre os fatores que contribuem e muito para elevar a expertise nacional na produção de proteína, o bem-estar animal foi o ponto ressaltado pelo diretor Presidente do Grupo Faria, Ricardo Faria.
“É importante estarmos cada vez mais conectados à juventude e aos novos hábitos dos consumidores, tendências que no mundo são extremamente importantes – e se um produtor quiser ser de classe mundial, ele não pode ficar desconectado”, diz.
Para ele, também não há como ter uma produção de qualidade, hoje, sem a digitalização. “Existe um universo de automação envolvendo todos os níveis de produção e consumo”, afirma e finaliza: “As empresas precisam se transformar, e o melhor lugar para reinvestir o nosso dinheiro, é o nosso negócio”.
Após três dias de programação, o presidente Executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) e do Programa Ovos RS, José Eduardo dos Santos, também presidente da Conbrasul, antecipou que a próxima edição do evento está marcada para junho de 2025, também em Gramado: “Vamos continuar trabalhando para proporcionar este momento de união e conscientização dos desafios, das oportunidades e tendências do nosso setor”, finaliza.
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