Quem somos? Quantas somos? O que queremos? Nos últimos anos, compreender o papel e a importância do universo feminino no agronegócio tem sido o objetivo de uma série de pesquisas recentes produzidas no Brasil e no mundo.
O tema é relevante, porque não somos poucas. Mas, sobretudo, porque nem sempre tivemos voz. Agora, quando começamos a ser ouvidas, mostramos que não é possível reduzir a participação das mulheres no agro a um estereótipo. Somos várias e essa diversidade é uma riqueza que precisa ser valorizada.
Segundo o último Censo Agropecuário realizado pelo IBGE (2017), cerca de 19% das propriedades brasileiras são comandadas por mulheres. Isso corresponde a cerca de 1 milhão de estabelecimentos rurais produtivos. Dentro desse recorte, o maior contingente se encontra nas pequenas propriedades familiares, com até 1 hectare. Aqui, elas são as responsáveis por cerca de um terço do total.
À medida em que o tamanho das fazendas aumenta, o poder feminino diminui. Isso se reflete na área rural controlada por gestoras. Elas respondem por apenas 8,5% do total — uma proporção bem inferior à vista no número total de propriedades.
São números bastante conhecidos, mas que sempre devem ser revisitados. Menos pela situação atual, mais pelo potencial que eles revelam.
Se olharmos em perspectiva, vemos que essa presença feminina tem aumentado. O censo anterior, de 2006, indicava apenas 13% das propriedades nas mãos de mulheres. O avanço é real e perceptivo.
Quando combinados com outros levantamentos feitos sobre o tema, pode-se ter a dimensão qualitativa dessa evolução. Uma pesquisa apresentada há um ano pelo grupo Agroligadas — e feita em conjunto com Abag, Corteva e Sicredi — com mulheres atuantes na gestão de fazendas revela alto nível de escolaridade (41% têm pós-graduação) e, ainda mais importante, grande desejo de melhorar seu desempenho profissional (95% das entrevistadas manifestaram interesse nesse sentido).
Preocupações profissionais, apontou o estudo, aparecem no topo da lista de desafios listados por elas. Elas desejam mais oportunidades para estudar, mais treinamentos, no mesmo nível do que é oferecido aos homens na mesma posição.
A capacitação deve ser encarada como uma prioridade para o agro como um todo. Mas as mulheres merecem um olhar especial nesse sentido.
A desigualdade de gênero é um obstáculo presente, segundo dois terços delas. Ao removê-lo, pode-se criar um ambiente ainda mais propício para o desenvolvimento das empresas do agro, assim como tem acontecido em diversos outros setores.
A diversidade de gênero nas equipes é uma marca das empresas mais eficientes, segundo indicou o estudo Diversity Matters — América Latina, publicado pela consultoria McKinsey. O trabalho mostra que aquelas que combinam homens e mulheres em suas equipes executivas têm 14% mais probabilidade de superar a performance financeira de seus pares. Já nas que são percebidas pelos funcionários como tendo diversidade de gênero, essa probabilidade sobe para 93%.
Não é difícil imaginar que esse melhor desempenho possa ser verificado em outras áreas, além da financeira. Na gestão agronômica, pecuária ou de recursos humanos e ambientais. O agro responsável não pode prescindir da força e da capacidade femininas.
Precisamos, mais do que nunca, ouvir as mulheres rurais. Uma importante oportunidade será o evento Vozes Responsáveis Femininas, que a Produzindo Certo e a Nutrien Soluções Agrícolas organizam no dia 26 de outubro, dentro do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio.
Lá, podemos ter uma amostra clara da crescente energia das mulheres rurais. O congresso, que acontece no Transamérica Expo Center, deve reunir mais de 3 mil visitantes. Terei a honra de representar o agronegócio responsável no painel de abertura do evento. E poder contar com a parceria da Nutrien, que abriu seu espaço no congresso para a série Vozes Responsáveis, tem um valor inestimável.
Fonte: Aline Locks, engenheira ambiental, Cofundadora e atual CEO da Produzindo Certo
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