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Produção de pescados é decisiva para segurança alimentar

Eliana Panty é CEO do IFC Brasil & Fish Expo
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Nem mesmo os cenários de incerteza nas cadeias de valor e comércio globais, nem os preços de energia, insumos e rações  que tem impactado diretamente nos  custos.  Nada freou o crescimento da produção de pescados no Brasil e isso já começa a projetar o País como player global. 

Esse crescimento consistente na produção e exportação vem ao encontro de uma crescente demanda mundial por pescados que deve dobrar até 2050, à medida   que aumenta também o poder aquisitivo da população. Quanto maior o poder de compra, maior o consumo de proteínas e nesse cenário o peixe nada em águas claras.  Com a projeção da FAO de crescimento de consumo em torno de  5k habitante/ano está na hora de pensar em como produzir mais e melhor com menor impacto ambiental, pois esse deve ser um fator determinante em várias partes do mundo e também no Brasil.

O consumo global de peixe já dobrou desde 1998, mostra pesquisa realizada pela  Universidade de Stanford, na Califórnia, que projeta um aumento adicional de 80% nas próximas três décadas.  

Um fator  importante será a preferência do consumidor, ou os hábitos por consumir outros cortes além do filé e até outros peixes. As preferências desempenharão um papel importante, o desafio está em convencermos o consumidor a comer também pequenos peixes como sardinhas, postas, cortes e outras espécies de menor valor agregado, que têm baixo impacto ambiental, mas são altamente nutritivos. Não há como abastecer o mercado com custo acessível para a grande parte da população e à base de filé e peixes nobres.

Uma oportunidade e tanto para a regionalização da produção e maior distribuição de renda com a produção de peixes para serem consumidos inteiros e outros peixes locais . A projeção  da pesquisa é que Brasil, Gana, Índia, México e Nigéria mais do que dobrem o consumo até 2050. A China,  que continua sendo o maior consumidor atual,  deve expandir seu apetite de pouco mais de 50 milhões de toneladas de peixe em 2015 para pouco menos de 100 milhões até 2050.

As projeções não assumem simplesmente um aumento linear a partir de 2015, mas levam em consideração mudanças nas espécies que as pessoas comem à medida que ficam mais ricas, como atuns, salmões, linguados e outros peixes considerados mais nobres.

A diversidade do consumo de pescado é alta em todo o mundo, uma vantagem para o Brasil que tem importantes bacias hidrográficas. No Brasil  tem os peixes amazônicos, peixes da região central do país e a predominância da tilápia no Sul. Isso sinaliza que há muitas oportunidades no papel da proteína vinda da água. O relatório da FAO sobre o Estado  Mundial da Pesca e Aquicultura (SOFIA) observa esse crescimento da oferta global impulsionado pela aquicultura, realidade que se expande no interior do país. Cada vez mais os alimentos e a proteína vinda da água representam uma contribuição fundamental para a segurança alimentar e nutricional no século XXI.

Números surpreendentes

No último ano a produção total de pesca e aquicultura atingiu um recorde histórico de 214 milhões de toneladas (178 milhões de toneladas de peixes aquáticos e 36 milhões de toneladas de algas), uma crescente que acende o alerta para o futuro do setor. 

A produção de animais aquáticos nos últimos 3 anos, por exemplo, foi 30% superior à média dos anos 2000 e mais de 60% acima da média dos anos 1990. Mas esse crescimento acelerado pede reflexões  voltadas para um setor de pesca e aquicultura mais sustentável.  Será necessária uma  transformação na forma como produzimos, gerimos, comercializamos e consumimos alimentos vindos da água.

Os dados mais recentes mostram que peixes e outros alimentos aquáticos contribuem cada vez mais para a segurança alimentar e nutricional. O consumo global de proteína vinda da água aumentou a uma taxa média anual de 3,0% desde 1961 – quase o dobro da taxa de crescimento anual da população mundial – e atingiu 20,2 kg per capita, mais que o dobro do consumo na década de 1960. No Brasil a média de consumo é de pouco mais de 9,5 kg/hab ano.

Brasil é o lugar certo na hora certa

A aquicultura  vai determinar o futuro dos alimentos aquáticos,  isso porque a  produção e o cultivo cresceram mais rápido do que a pesca de captura nos últimos dois anos e espera-se um aumento ainda maior na próxima década. O consumo está projetado para aumentar em 15% e alcançará 21,4 kg per capita em 2030, impulsionado principalmente pelo aumento da renda e urbanização e novas tendências alimentares, com atenção especial à melhoria da saúde e nutrição. Uma oportunidade ímpar para o Brasil, que tem água em abundância, grãos e áreas para crescer a produção em tanques escavados ou tanques rede em áreas alagadas de usinas hidrelétricas.

Especialistas projetam que a produção total de animais aquáticos está projetada para atingir 202 milhões de toneladas em 2030, principalmente devido ao crescimento contínuo da aquicultura, que deve atingir 100 milhões de toneladas pela primeira vez em 2027 e 106 milhões de toneladas em 2030.

Hoje mais de 60 milhões de pessoas  ao redor do mundo  trabalham no setor de aquicultura. Estima-se que a vida e os meios de subsistência de cerca de 600 milhões de pessoas dependam de alguma forma da pesca e da aquicultura, uma cadeia robusta, capilarizada e de grande impacto social e econômico que merece visibilidade, políticas públicas e atenção por parte de empreendedores e governos, como a grande oportunidade do século.

Números-chave do relatório o Estado Mundial da Pesca e Aquicultura (SOFIA) (2022): 

Produção mundial total de animais aquáticos e algas: 214 milhões de toneladas

Pesca de captura marinha: 78,8 milhões de toneladas

Pesca de captura de água doce: 11,5 milhões de toneladas

Produção animal de aquicultura: 87,5 milhões de toneladas

Consumo e comércio

Quantidade total para consumo humano (excluindo algas): 157 milhões de toneladas

Valor do comércio internacional de produtos da pesca e da aquicultura: USD 151 bilhões

Emprego e frotas

Total de trabalhadores no setor primário de pesca e aquicultura: 58,5 milhões (21% mulheres)

Esse e outros temas serão debatidos no IFC Brasil e Fish Expo, realizado de 19 a 21 de setembro em Foz do Iguaçu (PR), quando será lançado o  IFC Amazônia, evento que vai reunir aquicultura e pesca dos países da Região Amazônica nos dias 03, 04 e 05 de dezembro em Belém (PA).

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