Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Embrapa utilizou um modelo inovador de análise baseado na coleta de métricas de sustentabilidade (dados econômicos, ambientais e sociais). A “descoberta” – mais como uma comprovação, para quem já está no setor há algum tempo – aponta que as fazendas que praticam modalidades de sistemas de integração (lavoura, pecuária e floresta) apresentaram os melhores desempenhos nessas três dimensões.
O método atribuiu uma escala numérica para cada variável analisada, permitindo comparações e categorizações. Os resultados comprovaram que os índices de sustentabilidade nos sistemas de integração foram maiores do que os de estabelecimentos exclusivamente voltados à produção de grãos ou de pecuária.
O artigo, publicado no periódico Agronomy for Sustainable Development, propõe um modelo baseado na lógica difusa, composto por 18 indicadores que permitem avaliar a sustentabilidade de sistemas agrícolas e apresenta 22 estudos de caso com os sistemas produtivos mais comuns na fronteira agrícola mato-grossense em seus três biomas (Amazônia, Cerrado e Pantanal).
Segundo os autores, o modelo de análise contempla o conhecimento científico e a percepção de especialistas na formulação dos indicadores, considera a grande variabilidade de desempenho dos sistemas agrícolas, bem como as interações entre as dimensões econômica, ambiental e social da sustentabilidade, podendo ser ajustado a diferentes contextos ambientais e socioeconômicos.
O pesquisador Júlio César dos Reis, da Embrapa Cerrados (DF), é um dos autores do artigo e destaca que o conjunto de indicadores e o modelo de análise foram construídos associando as atividades produtivas aos efetivos resultados econômicos, ambientais e sociais, indicando que a sustentabilidade é considerada como um todo, e não como a soma de seus componentes.
Os dados foram apurados na safra 2018/19, e envolveram nove estudos de caso de rotação soja-milho e um de rotação soja-milho-feijão, representando as dez fazendas de grãos; sete casos com criação de gado de corte, representando as propriedades de pecuária; e cinco casos de fazendas com sistemas de integração, sendo quatro com rotação soja-milho integrada com a criação de gado (Integração Lavoura-Pecuária) e um com gado pastejando entre árvores de teca destinadas à produção de madeira (Integração Pecuária-Floresta).
As propriedades com sistemas de integração receberam valores médios e altos para o índice de sustentabilidade (IS). Duas fazendas com sistemas de integração – uma com Integração Pecuária-Floresta (IPF) e outra com Integração Lavoura-Pecuária (ILP) – mostraram os maiores índices de sustentabilidade (91,87 e 91,78, respectivamente), com elevados desempenhos nas três dimensões, ou seja, um favorável equilíbrio em termos econômicos, sociais e ambientais.
A fazenda com IPF é especializada na produção de madeira de teca para exportação, combinada a uma pecuária de alta tecnologia. Apesar dos níveis medianos de lucro e produtividade, a elevada organização e expertise na produção de teca explicam os altos índices social e econômico. A eficiência no uso de fertilizantes e pesticidas e os serviços ecossistêmicos proporcionados pelas florestas, como baixa perda de solo superficial, sequestro de carbono e baixo escoamento superficial, se destacaram na dimensão ambiental, que obteve excelente resultado, o que contribuiu para um elevado IS.
Já a propriedade com ILP mostrou alto desempenho produtivo baseado em práticas de gestão para melhorar os resultados financeiros e operacionais, como estratégias de comercialização para mitigar os impactos negativos da volatilidade do preço das commodities e a divisão de lucros com os empregados.
Além disso, o sistema pecuário é focado apenas na engorda do gado, aproveitando as pastagens consorciadas com o milho. A fazenda colhe três safras ao longo do ano agrícola, sendo duas de grãos (soja e milho) e um período de três meses de engorda dos animais na mesma área.
A propriedade apresentou o segundo maior lucro (969,91 dólares por hectare) entre as 22 fazendas analisadas e um desempenho ambiental similar à fazenda com IPF, particularmente quanto à reduzida perda de solo superficial, ao uso de fertilizantes e a emissões de GEE.
Por outro lado, os pesquisadores também encontraram desempenhos desequilibrados mesmo em propriedades com sistemas de integração, com elevados resultados nos indicadores econômico e ambiental, e mais baixo desempenho social, o que comprometeu o seu IS. Uma delas, com sistema de ILP, apresentou baixa escolaridade e atratividade do emprego; já outra, também com ILP, obteve baixos valores para treinamentos e cursos e qualidade do emprego.
Segundo os autores, os diferentes resultados entre os sistemas de integração demonstram que é difícil estabelecer uma conclusão geral sobre os benefícios da intensificação sustentável, pois eles são específicos para cada contexto. “O simples fato de as fazendas utilizarem sistemas de integração não garante um elevado IS. Elas precisam ter um desempenho elevado e equilibrado entre as três dimensões da sustentabilidade”, diz o pesquisador Geraldo Stachetti, da Embrapa Meio Ambiente (SP).
Já as propriedades de pecuária receberam os valores de IS mais baixos. Mesmo uma fazenda que utiliza manejo de pastagem, melhoramento genético e sistemas de confinamento dos animais não alcançou bons resultados. Apesar de ter apresentado o melhor desempenho econômico entre as propriedades de pecuária, o baixo IS se deve aos baixos desempenhos social e ambiental. As propriedades foram agrupadas em três categorias.
O objetivo é que o estudo apoie políticas públicas em prol dos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal. O estudo está disponível, em inglês, no periódico Agronomy for Sustainable Development. Mais informações sobre a pesquisa também podem ser encontradas, em português, no site da Embrapa.
Fonte: Embrapa, adaptado pela equipe FeedFood.
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