Sustentabilidade é um termo que traz inúmeros questionamentos. A palavra já tão bem conhecida tem ganhado novas roupagens, mas a grande dúvida ainda é como aplicamos ela na prática e na realidade de cada empresa. A entrada do setor financeiro há três anos trouxe uma celeridade nunca vista antes para esse mercado e foi quando realmente a agenda climática passou a ser tratada como uma agenda econômica.
O último Relatório de Riscos Mundiais do Fórum Econômico Mundial, divulgado em janeiro deste ano, apresenta os ambientais como os quatro primeiros riscos de longo prazo (10 anos), por exemplo: falha na mitigação e na adaptação das mudanças climáticas, desastres naturais e perdas da biodiversidade, e colapsos de ecossistemas. Em curto prazo (dois anos) metade dos riscos apresentados no top10 também são riscos ambientais. O que nos valida que a sustentabilidade não é um fim que desejamos alcançar, mas sim o meio necessário para a transição para a economia verde.
Prova disso foi o grande movimento do setor privado que aconteceu na COP26 (2021) com a maior participação dos empresários de todos os tempos na conferência. O que indica a atenção do setor para as mudanças climáticas, na tentativa de entender o movimento global em torno dessa agenda e como adaptá-lo para cada realidade. Nesse contexto, a sustentabilidade começa a ser vista como requisito para os negócios, porém num país como o Brasil, com uma agropecuária de baixo carbono e com as condições climáticas que temos, precisamos vê-la como oportunidade.
As estratégias das empresas para o mercado da sustentabilidade precisam ser construídas em diferentes timings, de curto, médio e longo prazo, abordando mitigação e adaptação para mudanças climáticas. Além disso, é preciso identificar oportunidades dentro da operação da empresa e com seus parceiros. A sustentabilidade tem nos mostrado que esse mercado é um conjunto que reúne os mais diversos setores e atores, afinal para combater o aquecimento global é necessário um movimento de força global.
Quando o assunto é o mercado da sustentabilidade, as falas se concentram no mercado de carbono, pela estreita conexão com a agenda climática. No entanto, para o Brasil ainda faltam metodologias para os projetos de crédito de carbono. Há a necessidade de normas adequadas aos sistemas brasileiros e às condições climáticas, é o que temos chamado de ‘tropicalização’ das métricas. Mesmo com essa dificuldade têm se percebido a importância do início do processo educacional dos envolvidos e principalmente dos produtores rurais, os quais serão os principais provedores desse crédito. Na rotina do nosso time de campo estamos adaptando a linguagem desse mercado para dentro das fazendas, além de promovermos a conexão entre campo e mundo corporativo através do desenvolvimento de projetos e negócios sustentáveis.
Por se tratar de um mercado novo, temos desafios para identificar práticas, processos e sistemas de produção que podem – e devem – ser valorizados e difundidos. Aqui estamos falando em entender diferentes formas de monetização da sustentabilidade, com a ressalva de que produtividade e meio ambiente não são objetivos distintos e que não deve haver a escolha por um ou por outro, mas sim pelo equilíbrio de ambos.
O fato é que ainda enfrentamos falhas na comunicação de como produzimos alimentos de forma sustentável no Brasil. Nesse sentido surge o papel fundamental do setor privado em levar essa experiência para o mundo, além de incentivar a agropecuária brasileira, pela valorização do que já acontece dentro da porteira.
Fonte: Helen Estima Lazzari é Gerente de Projetos e Sustentabilidade do SIA – Serviço de Inteligência em Agronegócios, organização associada ao GTPS.
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