Gabriela Couto, da redação
O ozônio (O3) é um dos gases que compõe a atmosfera e cerca de 90% de suas moléculas se concentram na estratosfera, formando a tão conhecida camada de ozônio, que vêm sofrendo com os efeitos da industrialização. Como apontam pesquisas, sua preservação é necessária para lidar com as perdas na natureza, as mudanças climáticas e a poluição, além dela ser essencial para proteger o planeta da radiação ultravioleta.
Por ser tão importante, a camada tem um dia especial dedicado à sua preservação, nesta sexta-feira (16), é celebrado o Dia Internacional para Preservação da Camada de Ozônio. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1994, para lembrar a assinatura do Protocolo de Montreal (1987), que previa medidas para controlar a produção e o consumo global de produtos químicos que a destroem.
Neste cenário, o agronegócio brasileiro – frente as mais diversas ações focadas em sustentabilidade – está adotando práticas para contribuir com o meio ambiente, principalmente às focadas em gases de efeito estufa (GEE). “Os problemas com o ozônio me parecem que não estão cientificamente resolvidos” afirma o engenheiro agrônomo Arno Schneider, de 80 anos, que trabalha com agronomia há 56 e é um dos pioneiros do sistema silvipastoril, uma opção tecnológica de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), com a combinação de árvores, pastagens e gado.
“Eu estou sempre por dentro de assuntos sustentáveis, é um tema que sempre está em pauta na hora de tomarmos decisões, mas o meu interesse maior em emissões de gases de efeito estufa, especificamente na bovinocultura, iniciou faz uns três anos, quando as críticas maiores começaram, onde se viu que existiam muitas coisas que não condiziam com a realidade, então comecei a estudar mais sobre o assunto”, explica Arno.
O engenheiro conta que seus estudos servem para colocar as coisas dentro da realidade do campo e que as instituições estão cedendo sobre esse assunto: “É bem possível que na COP-27 haja muitas mudanças em relação a métrica de cálculo do balanço do carbono da bovinocultura”.
Schneider é natural do Rio Grande do Sul, mas vive há 45 anos no Mato Grosso, onde, junto com seus filhos, cuida de sua fazenda no sistema ILPF. Inicialmente, ele trabalhava apenas com agricultura e pecuária de corte, até que começou a plantar árvore Teca (Tectona grandis) e desenvolveu o sistema silvipastoril. “Comecei a plantar Teca em sistema adensado para produção de madeira nobre, e surgiu a ideia de fazer esse plantio consorciado com pastagens. No começo houve muitos erros, plantei árvores demais, por conta do excesso de sombreamento, que impossibilitou a fotossíntese, o pasto morreu, então eu fui aprimorando, mudando o que era necessário, demorei anos para chegar no sistema de consórcio que tenho hoje. Que está mais ou menos de acordo com aquilo que deve ser feito”, pontua.
Ele também explica que a observação é o fator mais necessário na criação do sistema ILPF: “a observação de uma floresta não é em um ano que ocorre, mas sim em um prazo mais longo, então, fica mais difícil tirar conclusões em um curto período. É preciso de paciência para observar e fazer os ajustes necessários”.
Segundo o agrônomo, as árvores indicadas para o sistema silvipastoril, hoje, no Brasil, são a Teca, que é a usada por ele, o Eucalipto e a Pinus. “Quando comecei a implantar o sistema, o Eucalipto só servia para biomassa, e ela era tirada do cerrado nativo que era desmatado, então não tinha mercado, ao contrário do mercado de Teca, que estava evoluindo com exportações de madeira nobre para Índia. Então, naturalmente, parti para esse consórcio. Mas hoje, muitas pessoas utilizam o Eucalipto no sistema, que além da biomassa, hoje é utilizado para produção de celulose”, analisa.
O sistema de Integração Lavoura-pecuária-floresta, além de ser bom para o meio ambiente, traz benefícios ao produtor, já que, ao consorciar duas culturas, os ganhos são maiores. “Eu devo ter ganhos econômicos, ou outros ganhos que irão gerar renda. O sistema precisa ser mais vantajoso economicamente, tenho que ganhar mais com as duas culturas, do que ganhava com uma. Se não tiver esse resultado, o sistema está ‘furado’ e precisa de ajustes”, explica Arno.
Para o sistema funcionar perfeitamente é necessário ter equilíbrio entre as culturas, tudo precisa estar em harmonia para dar bons resultados. “Se plantar 30% da área com floresta, você não consegue fazer um consórcio que seja vantajoso para as duas culturas, fica desiquilibrado. Nessa condição, é melhor plantar separadamente o Eucalipto e a pastagem. O consórcio está no modismo, e o modismo, às vezes, leva a exageros”.
A fazenda de Arno possui 2 mil hectares de pasto, 100 hectares de Teca em sistema adensado e 150 hectares em sistema silvipastoril. “Minha fazenda pode ser considerada como uma fazenda Net zero e carne carbono neutro também”, comemora.
A produção consciente e o pioneirismo
Arno, considerado um dos pioneiros na área silvipastoril, lembra que outras pessoas fizeram pesquisas antes dele e sua equipe e trocaram ‘figurinhas’ sobre o assunto e, hoje, o sistema é muito conhecido, e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realiza pesquisas nessa área por meio do Embrapa Agrossilvipastoril, localizado em Sinop (MT). “Não me sinto especial por ser um dos pioneiros na área, tudo normal, sem nenhuma vaidade e nada desse tipo. Fiz o que tinha que ser feito”, complementa.
Um dos pontos mais importantes do sistema ILPF para o meio ambiente é o sequestro de carbono. As árvores plantadas, de forma correta, sequestram o carbono, sem prejudicar a pastagem e mantendo a produtividade do pasto.
Segundo o engenheiro, o sistema é um pouco difícil de implantar, no caso da Teca, a maturação econômica é de 25 anos, de médio a longo prazo, e isso assusta um poucos as pessoas: “Muita gente não implanta o sistema por conta dessa maturação econômica mais longa. Mas o sistema é muito vantajoso para aqueles que topam e não se assustam com a demora. A adesão está aumentando”.
Para seguir com a implantação do sistema, é necessário orientação técnica, para evitar erros no processo. “Orientação técnica é importante, eu cometi muito erros, eu aprendi fazendo e os corrigi observando o que havia feito. Depois de muito observação, durante esses 22 anos de implantação do sistema, estou chegando, finalmente, numa condição que eu acho próxima da verdade”, declaram ao reforçar que a iniciativa é vantajosa de diversas formas e, apesar de todo trabalho, vale a pena a implantação, desde que a pessoa se sinta bem e tenha prazer em trabalhar com aquilo.
“Você tem que sentir prazer em fazer o consórcio, e isso eu sinto. Eu gosto demais de trabalhar com o sistema. Quando fico nervoso, vou passear no meu bosque de Teca e acalmo, fica tudo bem”, brinca.
Ainda segundo ele, o sistema silvipastoril veio para ficar. “O sistema é lucrativo, é prazeroso e veio para ficar, nos faz bem. Acredito que o aumento da adesão seja lento, por conta da maturação a longo prazo, mas o processo vai crescer e será rentável e prazeroso para aqueles que executarem”, finaliza.
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