Welington Torres, de casa
Antes do turismo, pode se dizer que o elo mais resistente entre diferentes nações é alicerçado pela relação de compra e venda, posta em prática por meio das possibilidades de importar e/ou exportar produtos. O Brasil, país conhecido como celeiro do mundo, é responsável por muitas dessas trocas, principalmente com a China.
O país asiático, com território de 9.597.000 km² e cerca de 1,402 bilhão de habitantes, como aponta contagem de 2020, é um dos principais clientes para os diferentes setores produtivos nacionais, principalmente o proteico. Entre eles, a bovinocultura ganha destaque, mesmo com os altos e baixos acompanhados nos últimos meses.
Em meados de setembro de 2021, em decorrência da confirmação de dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) – problema popularmente chamado de “mal da vaca louca” – a China anunciou embargo à proteína. A iniciativa veio a ser contornada no dia 15 de dezembro, quase quatro meses depois.
O período, além de desestabilizar o setor no mercado interno, possibilitou que os Estados Unidos assumissem a frente como principal destino da carne durante o período de dezembro do mesmo ano. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ao analisar dados emitidos pela Secex, os embarques daquele mês ao país norte-americano registraram novo recorde mensal, com 30,3 mil toneladas ante 6,79 mil toneladas da China.
No entanto, com a chegada de um novo ano, as expectativas para a relação entre os países é positiva e deve render novos picos em exportação, como aponta o mais recente levantamento realizado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
De acordo com a Associação, para este ano, a expectativa, com o retorno da China às compras e a possibilidade de novas aberturas de mercado para produtos e destinos, como Canadá, Coreia do Sul e Japão, é de que a receita chegue pela primeira vez à casa dos US$ 10 bilhões.
O cenário positivo também é apontado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que “trabalha no sentido de que novas plantas sejam habilitadas”. Até então, 102 plantas são habilitadas (bovino, suíno, equino e aves) a exportar ao país asiático.
“De forma geral, há boas perspectivas para a demanda chinesa por carnes neste ano. No cenário global, em dezembro de 2021, as carnes figuraram na segunda posição entre os principais setores exportadores do agronegócio, com US$ 1,67 bilhão em vendas externas (+10,9%). Dentre as carnes, a principal exportada foi a bovina, com US$ 725,41 milhões (-2,0%). O volume comercializado de carne bovina caiu 9,9%, 151 mil toneladas, compensado em grande parte pela elevação de 8,7% no preço médio de exportação do produto, que atingiu US$ 4.805 por tonelada”, explica o Ministério.
Ao analisar os meses de dezembro de 2020 e 2021, a Pasta conta que durante o primeiro, os chineses foram responsáveis por importar US$ 410,82 milhões ou 64,0% do valor exportado pelo Brasil em carne bovina in natura, já no segundo, -90,0% em valores e 92,4% em volumes, em decorrência do embargo citado anteriormente.
“Vale lembrar que o mercado chinês foi totalmente reaberto em 15 de dezembro de 2021. Nesta data, a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC) publicou documento em que permitiu a retomada da importação de carne bovina do Brasil. A suspensão do embargo foi completa. O único critério de corte foi o Certificado Sanitário Internacional (CSI). Lotes de carne bovina com o CSI emitidos entre dia 4 de setembro e 14 de dezembro de 2021 não foram aceitos”, destaca o MAPA.
O Ministério também relembra que, em 2021, a China apresentou participação de 34% nas exportações do agronegócio, chegando a US$ 41,02 bilhões, o que corresponde a um aumento de 20,6%, em valor na comparação com o ano anterior e foi o principal destino da carne bovina in natura brasileira, com a soma de US$ 3,90 bilhões (queda de -3,3%) e market share de 49%, mesmo com a redução dos volumes exportados (-16,8%).
Além da carne bovina
Ao analisar os demais setores, a carne suína, forte representante brasileira no mercado chinês também deve contar com mudanças positivas em 2022, após a retomada da produção de carne suína na China, que afetou os preços internacionais da proteína no segundo semestre de 2021, com redução do ritmo de abate nos frigoríficos chineses.
“As exportações de carne suína totalizaram US$ 2,62 bilhões em 2021. O crescimento de 16,1% no valor exportado foi resultado da expansão de 10,7% do volume total negociado e da elevação de 4,9% na cotação média do produto brasileiro vendido no mercado internacional”, pontua o MAPA.
Para a proteína, com vendas recordes em valor e volumo dos produtos in natura, os principais mercados compradores em 2021 foram: China, com aquisições de US$ 1,28 bilhão (+4,3%) e participação de 51,9%; Hong Kong, com US$ 267,47 milhões (+12,3%) e 10,8%; Chile, com US$ 149.96 milhões (+47,9%) e 6,1%; e Cingapura, com US$ 114,43 milhões (-9,3%) e 4,6% de participação.
Ao que diz respeito a carne de frango, o MAPA também conta que a demanda chinesa permanecerá importante para as exportações. “Restrições do lado da oferta, especialmente escassez internacional de contêineres e casos de gripe aviária na Europa e na Ásia influenciaram a formação de preços para a proteína”, justifica.
Com vendas recordes em valor e quantidade em 2021, o principal comprador da carne de frango in natura do Brasil também foi a China, com US$ 1,27 bilhão (+0,3%) e 639,49 mil toneladas, seguida pelo Japão (US$ 831,34 milhões; +26,4%), Emirados Árabes Unidos (US$ 690,21 milhões; +63,3%) e Arábia Saudita (US$ 648,03 milhões; -5,3%).
Por fim, como também ressalta a Pasta, os dez produtos exportados pelo agronegócio brasileiro, que representam 76,0% da pauta exportadora, a China foi o principal destino de sete (soja, celulose, carne bovina, carne suína e carme de frango, açúçar e algodão).
“O setor de carnes está assim representado: “Carne bovina in natura: US$ 7,97 bilhões (China: 49,0% do total); Carne de frango in natura: US$ 7,20 bilhões (China: 17,7% do total) e Carne suína in natura: US$ 2,47 bilhões (China: 51,9% do total)”, finaliza.