A produção sustentável de pescado precisa ser encarada como uma oportunidade para o Brasil e não como um problema ou uma mera necessidade imposta pelo mercado.
A sustentabilidade é um caminho inexorável. Os processos de mudanças na sociedade, em especial as mudanças de conceitos e de valores, ao maturarem, se tornam irreversíveis. É o caso do caminho da produção sustentável. Lá se vão quase 30 anos da primeira COP no Rio de Janeiro, que reuniu chefes de estado do mundo inteiro para discutir a sustentabilidade do planeta. Nestes quase 30 anos o mundo mudou. As evidências que demonstram um futuro sombrio para a humanidade, caso não se reverta o atual modelo de desenvolvimento, ficaram muito mais evidentes. E o nível de consciência sobre a necessidade de seguir princípios de sustentabilidade como um caminho a ser perseguido em todas as dimensões da vida, da economia e da na sociedade, elevou-se, em muito.
Poderíamos dizer que, embora com parcela da sociedade ainda reticente, o mundo virou a chave, a massa crítica da sociedade, incluindo as empresas e os diferentes atores econômicos, estão absolutamente convencidos de que esta é a única estratégia capaz de estancar a crescente degradação do planeta.
O caminho da sustentabilidade é um caminho sem volta. Nesta perspectiva, a produção sustentável é um imperativo, uma condicionante cada vez mais determinante a ser adotada no processo produtivo e como critério de acesso ao mercado, porque a sociedade global assim exige. Assim, certamente, quem se preparar para esta nova onda, colherá os frutos. Neste sentido, encarar o novo momento como uma oportunidade e não como um problema é a estratégia mais correta e mais promissora para o desenvolvimento da produção agropecuária brasileira, em especial, da pesca e aquicultura e, sua inserção no mercado nacional e internacional.
Nesta perspectiva, a produção sustentável de alimentos no Brasil tem um componente que a fortalece como “oportunidade”, porque os olhos do mundo estão voltados para o nosso país, preocupados com as políticas de preservação do meio ambiente, em especial, da floresta amazônica. Neste contexto, uma estratégia clara, objetiva e consistente na direção da produção sustentável de alimentos, ganhará visibilidade e ampliar-se-ão as possibilidades de acesso ao mercado onde o Brasil já é responsável pela oferta de mais de 20% dos alimentos consumidos no mundo.
Nesta direção, as oportunidades para a produção sustentável de pescado se amplificam também por suas características intrínsecas. A produção de pescado é intrinsicamente mais sustentável que as demais proteínas de origem animal, por duas razões:
- Menor consumo de energia/alimento para produzir um kg de carne, pois, enquanto que para produzir 1 kg de carne bovina existe a necessidade de 7 kg de alimento, para produzir 1 kg de carne suína, 2,5 kg de alimento, para produzir 1 kg de frango, 1,8 kg de alimento, para se produzir 1 kg de tilápia, são necessários 1,2 a 1,5 kg de alimento. E em sistemas multitróficos, menos que 1 kg de alimento.
- Menor emissão de gás metano, gás de efeito estufa altamente nocivo à camada de ozônio, que o bovino, suíno e frango.
- Maior saudabilidade como alimento. Proteína nobre, de alta qualidade nutricional e de fácil digestão.
Ou seja, o pescado é muito mais saudável para o consumo das pessoas e muito mais sustentável para o planeta.
As oportunidades são potencializadas na Região amazônica que tem a maior reserva de água doce do mundo e a maior área de floresta do planeta, cuja preservação pode definir o futuro da humanidade e para onde a ONU propôs a realização da COP 30 em 2025. Na região, a produção de pescado é a alternativa de produção de proteína animal mais sustentável, que tem maior sinergia com a preservação da floresta. Adotar a produção de pescado como estratégia para manter a floresta em pé, pode atrair muitos investimentos e promover um mercado com grande apelo e potencial a nível global.
Enfim, não há dúvidas de que o caminho da produção sustentável de pescado deve ser encarado como uma oportunidade e não como um problema e, para isso, é estratégico ter o governo como um ator articulador, mobilizador e propositor de políticas que criem um ambiente de negócios favorável e estimulem o seu desenvolvimento. E ter o setor privado como investidor, organizador da produção e competitivo no mercado.
Mãos à obra, vamos fazer do Brasil um “case de sucesso” na produção sustentável de pescado a nível mundial.
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