Camila Santos | camila@dc7comunica.com.br
Em 9 de setembro de 1933, o Decreto nº 23.133 regulamentou pela primeira vez a profissão de médico-veterinário no Brasil. Há 90 anos, esse ato histórico definiu as condições e os campos de atuação dos profissionais responsáveis por uma vasta gama de atividades essenciais à sociedade. Embora tradicionalmente associados ao cuidado com a saúde animal, os profissionais atuam em áreas tão diversas quanto a inspeção de produtos de origem animal, a prevenção de zoonoses, o desenvolvimento de medicamentos e vacinas, e até mesmo em áreas ligadas ao meio ambiente e pesquisa científica.
Atualmente, o Brasil conta com quase 240 mil médicos-veterinários registrados, dos quais 182,3 mil estão em atividade, segundo o levantamento mais recente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV), realizado em 2023. Esses números refletem a importância da profissão e destacam sua relevância em mais de 80 campos distintos de atuação.
Da saúde animal à segurança alimentar
A atuação destes profissionais vai além das clínicas e fazendas. Eles estão envolvidos diretamente na segurança alimentar do país, garantindo a qualidade dos produtos de origem animal consumidos internamente e exportados para o mundo. Em adição, eles são essenciais no controle de zoonoses, protegendo tanto a saúde animal quanto a saúde pública.
Outro campo campo de atuação vital em que os médicos-veterinários desempenham um papel essencial é a produção de alimentos. No Brasil, que é um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo, esses profissionais garantem a sanidade e o bem-estar dos animais de produção, como bovinos, aves e suínos.
Segundo Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), essa profissão é essencial para a competitividade e evolução do setor. “Os médicos-veterinários estão na base de duas cadeias altamente competitivas, a avicultura e a suinocultura. Em parceria com os produtores, são eles que norteiam os avanços produtivos, a ciência e a tecnologia empregada nos diversos elos, fortalecem a biosseguridade e promovem a competitividade e a segurança dos alimentos.”
Essa colaboração próxima com os produtores tem permitido que o Brasil mantenha uma posição de destaque no cenário global. No entanto, Santin ressalta que os desafios continuam evoluindo, exigindo dos veterinários um olhar ainda mais atento para o futuro. “Como protagonistas das cadeias produtivas, os médicos-veterinários se voltarão, cada vez mais, para os desafios impostos pelo meio e pelo mercado, construindo soluções que promovam, cada vez mais, sustentabilidade e competitividade, preservando a biosseguridade.”
Paixão pela Ciência e pelo cuidado
Entre os milhares de profissionais que compõem essa força de trabalho essencial está Fernanda Almeida, médica-veterinária especializada em suinocultura. Sua trajetória profissional ilustra a paixão pelo cuidado animal e o impacto significativo dessa profissão na produção de alimentos. “Desde jovem, fui apaixonada pela área biológica e pelos animais, especialmente os pequenos. Esse foi o meu ponto de partida para escolher a medicina veterinária,” relembra Fernanda.
Ao longo de sua carreira, ela se deparou com os desafios econômicos e de mercado inerentes ao setor de suínos, especialmente em momentos de instabilidade. No entanto, Fernanda reforça as vantagens do Brasil no campo da sanidade animal. “Nosso país é livre de muitas doenças que afetam seriamente outras regiões do mundo. Isso se deve à eficiência dos veterinários em áreas como sanidade, nutrição e reprodução animal.”
Além disso, o clima brasileiro e a vasta produção de grãos proporcionam um ambiente favorável para a criação de suínos. “Quando o mercado está aquecido, como agora, em que o preço do suíno vivo está acima de R$ 6,00, todos na cadeia produtiva se beneficiam”, diz ela, destacando o potencial do Brasil como grande fornecedor de proteína animal.
Descobertas e gratidão pela profissão
Felipe Pelicioni, gerente de Marketing Aves de Ciclo Longo da Ceva Brasil, também compartilha uma visão interessante sobre a profissão. Sua escolha pela medicina veterinária surgiu de uma visão inicial que, para muitos, ressoa familiar. “Grande parte dos estudantes de veterinária entra pensando na clínica, e comigo não foi diferente. Eu pensava que seria uma profissão que me daria oportunidades de trabalhar com saúde, que é algo que eu gosto, e com ampla atuação no Brasil. Inicialmente, eu queria morar na praia, e a veterinária parecia um caminho para isso,” conta Felipe.
No entanto, a jornada trouxe surpresas positivas. “Durante a graduação, percebemos o quanto a profissão é ampla, e esse é um dos grandes pontos de destaque. É uma das formações que permitem atuar em diversas áreas, com grande relevância, especialmente no Brasil. Hoje, depois de 20 anos de formado, sou muito grato pelas oportunidades que a profissão me trouxe. Minha carreira me proporciona discussões técnicas de alto nível, me obriga a estudar e me preparar constantemente, além de me dar oportunidades de aprendizado e viagens pelo mundo.”
Felipe celebra o dinamismo e as possibilidades que a medicina veterinária lhe trouxe, refletindo a versatilidade da profissão. “A escolha me proporcionou conhecer pessoas incríveis e viver essa amplitude de atuação do médico-veterinário que enxerguei na universidade. Tenho muita gratidão por tudo isso.”
O Futuro da Profissão e sua Relevância Global
Com nove décadas de história, a medicina veterinária no Brasil passou por uma transformação profunda, adaptando-se aos avanços tecnológicos e científicos. O papel dos médicos-veterinários tornou-se cada vez mais relevante em áreas estratégicas, como a sustentabilidade na produção de alimentos e a prevenção de pandemias.
Médicos-veterinários como Fernanda Almeida e Felipe Pelicioni, junto com líderes como Ricardo Santin, que atuam em níveis estratégicos das cadeias produtivas, continuam a moldar o futuro do setor, garantindo que o Brasil permaneça na vanguarda da produção animal global. Esses profissionais são fundamentais para assegurar que a produção de proteína animal seja não apenas eficiente e competitiva, mas também sustentável e segura, em um cenário global cada vez mais exigente.
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