Luma Bonvino, de São Paulo (SP)
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Reunindo lideranças associativistas, produtoras e empresárias, a Associação Brasileira dos Produtores de Suínos (ABCS, Brasília/DF) e o Sebrae Nacional (Brasília/DF), em parceria com a Markestrat (Ribeirão Preto/SP), empresa especializada em estudos de segmentos agroindustriais, lançaram um conteúdo inédito qualificado como um raio-x da atividade suinícola do Brasil e suas contribuições sociais e econômicas. Em São Paulo (SP), o encontro de hoje (29) contou com o apoio e engajamento de diversas associações, como ABPA, Sindan, Sindirações e CNA, além da parceria institucional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Embrapa.
Conquista da união da cadeia, a publicação traz da produção ao consumo e revela a importância de cada elo da cadeia. A publicação bilíngue (português/inglês), de mais de 340 páginas e disponível no site da entidade, prevê ampla divulgação que alcance desde a sociedade como um todo, enquanto público final, até as mais altas reuniões do setor, como o Congresso Mundial do Agronegócio.
“Em 2016, a ABCS avançou sua atuação no campo e na indústria, no marketing e no setor político. E, para que esse trabalho continue a crescer, entregamos agora esse estudo que fornece uma radiografia fiel e atualizada de toda a cadeia produtiva, cujos resultados surpreendem a todos, sendo ainda uma ferramenta de grande utilidade nas mãos de todos os envolvidos”, afirma o presidente da ABCS, Marcelo Lopes.
Segundo ele, até então o setor não possuía números exatos da suinocultura e se fazia necessário algo mais concreto para batalhar especialmente por políticas públicas. Inspirados no trabalho desenvolvido pela Markestrat em outras cadeias, como cana-de-açúcar e citros, uma ideia que já era abordada desde 2014 tomou corpo com informações sólidas. “Com dados, poderemos voltar a exigir o preço mínimo da carne suína que foi anteriormente aprovado pela Câmara e rejeitado pela ex-presidente. O processo volta para a estaca zero, mas, como isso já tramitou nas comissões, sabemos o caminho e, segundo o Deputado Covatti Filho, já há uma ‘pré-aprovação’ do ministro do MAPA, Blairo Maggi, o que é de grande importância”, discorre Lopes.
Entre os objetivos de elaboração de material, estão tópicos com identificar os principais negócios inseridos na cadeia produtiva; estimar movimentação financeira ao longo da cadeia em 2015, pontuar o PIB gerado pelo setor; calcular o número de empregos e massa salarial em 2015; prever arrecadação de impostos gerada pela cadeia e identificar a distribuição de granjas e animais por modelo de negócio – independente, cooperado e integrado – nos diferentes Estados.
Para concluir essas aspirações, foram 6 meses de trabalho, com 7 pesquisadores dedicados, 12.731km rodados, 42 entrevistas com suinocultores, 17 entrevistas com especialistas e associações, 6 entrevistas com frigoríficos, 2 workshops de trabalhos e revisão e minutos a fio de ligações telefônicas para coleta de dados. “Isso não é um censo, não identificou individualmente as propriedades, mas sim buscamos inúmeras fontes de órgãos públicos e empresas privadas e sinalizamos as instalações mapeadas por essas diversas empresas. Assim, acreditamos ter colocado no mapa grande parte da produção tecnificada”, cita o diretor-Executivo da ABCS, Nilo de Sá.
Dessa junção de informações, alguns números foram ressaltados. A suinocultura brasileira registrou, em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 62,57 bilhões e gerou 126 mil empregos diretos e mais de 900 mil indiretos. Além disso, o País registrou um plantel reprodutivo de mais de 1,7 milhão de matrizes tecnificadas; o abate de 39,3 milhões de animais e uma movimentação de R$ 149,86 bilhões em toda a cadeia produtiva. De acordo com o sistema de produção, a suinocultura independente representa 38% da atividade, cooperativas 23% e integração 39%.
“Há muito por fazer e o Sebrae tem interesse em continuar auxiliando porque entende e reconhece a importância de levar aos suinocultores uma visão cada vez mais aprimorada de negócios, além de mecanismos que possam fazer os pequenos produtores ascender resultados positivos”, frisa o gerente da Unidade de Atendimento Setorial Agronegócios do Sebrae, Augusto Togni. De acordo com ele, “poderemos e deveremos desenvolver políticas mais bem direcionadas e concretas com essa publicação”.
E, de fato, é esse um dos principais desafios da agenda do setor, como pode ser visto abaixo:
Desafios e agenda estratégica na suinocultura
- Reduzir custos de produção e transação;
- Aprimorar políticas públicas;
- Disponibilizar linhas de créditos acessíveis;
- Criar um seguro rural efetivo;
- Abrir novos mercados internacionais;
- Fomentar o mercado interno;
- Aderir ao smart farming;
- Continuar evoluindo em termos de sanidade;
- Investir em bem-estar animal;
- Ampliar os investimentos em marketing de alimentos
“Considero primordial e vem ao encontro de objetivos do trabalho a definição de políticas públicas que possam reduzir a oscilação da rentabilidade da atividade. Ficou claro nesse ano de dificuldade que, caso elas existissem – como estoque regulador de milho; subvenção econômica quando o custo de produção ultrapassa o de comercialização – a atividade não teria sofrido nessa gravidade”, pontua Nilo que adiciona: “Na prática, queremos ter as políticas públicas para, quando necessitar, tenhamos suporte. Não adianta esperar ficar ruim pra brigar porque, muitas vezes, já é tarde.”
Presença de lideranças. Durante o evento, parceiros que ajudaram na execução do projeto estiveram presentes. Covatti Filho, líder da frente parlamentar da suinocultura, acredita que esse mapeamento ajuda exigir e cobrar postura do governo federal. “Nosso atual desafio é criar o preço mínimo da carne suína e com esse levantamento podemos chegar nas autoridades e exigi-lo frente aos números de arrecadação e PIB, ou seja, isso fortalece a atividade”, diz e adiciona que, além do conteúdo atuar como facilitador, Blairo Maggi também é a favor da medida.
Os sindicatos, Sindirações, representado por Ariovaldo Zani, e Sindan, presente por meio de Cherla Romeiro, também apoiadores da iniciativa, valorizaram a mobilização da equipe ABCS: “A maioria das organizações não teria sobrevivido sem dados de qualidade. Até hoje, sobrevivemos, mas partir daqui temos uma base de dados de qualidade para os prósperos próximos anos”, resume.