O conceito de sustentabilidade agrícola tem se tornado cada vez mais relevante no contexto global, especialmente dentro da Agenda 2030 das Nações Unidas, que busca equilibrar as dimensões econômica, social e ambiental do desenvolvimento. A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) tem se destacado na formulação de indicadores para medir a sustentabilidade agrícola, com foco no ODS 2.4.1, que avalia a proporção de terras agrícolas sob sistemas produtivos e sustentáveis. No entanto, a escassez de dados em países em desenvolvimento, como o Brasil, tem dificultado a implementação desses indicadores de maneira eficaz. A FAO tem sugerido o uso de indicadores proxy como solução temporária até que a coleta de dados seja completamente viável.
A contribuição teórica e prática do Brasil é crucial nesse contexto, dado seu papel como um dos maiores produtores agrícolas do mundo. O país, com sua diversidade de biomas e sistemas de produção, pode influenciar diretamente a formulação de indicadores que considerem as especificidades da agricultura tropical e os desafios socioambientais locais. Participar das discussões sobre indicadores globais oferece uma oportunidade para o Brasil integrar suas realidades agrícolas e garantir que os indicadores sejam mais aplicáveis a países em desenvolvimento, que dependem fortemente da agricultura para sua economia e subsistência.
Além de sua contribuição teórica, o Brasil precisa focar no fortalecimento de suas capacidades internas, especialmente na coleta e análise de dados agrícolas. O país já conta com diversas plataformas que divulgam informações sobre produção e uso do solo, como o Sistema IBGE e as bases de dados do MAPA. No entanto, a integração dessas informações com os indicadores propostos pela FAO ainda enfrenta desafios, como a falta de periodicidade e cobertura adequada. Para que os indicadores de sustentabilidade sejam eficazes, é necessário investir na melhoria da coleta de dados sobre aspectos como qualidade do solo, eficiência no uso de nitrogênio e emissões de gases de efeito estufa.
Ao comparar os dados de sustentabilidade agrícola do Brasil com os de países da OCDE e G20, percebe-se uma grande disparidade. Países desenvolvidos têm investido em tecnologias de precisão e práticas de manejo sustentável, o que resulta em indicadores mais robustos de eficiência e menor impacto ambiental. Apesar dos avanços em políticas e programas sustentáveis, o Brasil enfrenta dificuldades em refletir de forma precisa essas práticas nos seus dados, como exemplificado pelo inventário nacional de emissões de gases de efeito estufa, que não consegue capturar as práticas sustentáveis do Plano ABC+.
Por fim, a participação do Brasil nas discussões globais sobre sustentabilidade agrícola representa uma excelente oportunidade para aprimorar seus indicadores de sustentabilidade e alinhar-se com as metas da Agenda 2030. Essa participação permitirá não só melhorar a coleta de dados, mas também influenciar as diretrizes internacionais para garantir que os indicadores reflitam as complexidades da agricultura tropical. Para isso, é recomendável que o Brasil realize análises de desempenho dos seus indicadores com base nas diretrizes do MAPA e colabore com acadêmicos, garantindo que os indicadores sejam eficazes tanto para o monitoramento interno quanto para comparações globais.
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