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Agenda do clima passa por adaptação à realidade brasileira

Asbram reúne 62% das indústrias produtoras de suplementos para a pecuária
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Natalia Ponse

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Com o crescimento da discussão sobre a agenda climática, várias empresas estão adotando metas de neutralidade na redução de emissões. Em um evento em São Paulo (SP), o embaixador para Clima, Energia e Meio Ambiente, André Corrêa do Lago, falou sobre as discussões com os europeus em relação à regulamentação, os impactos das exigências para comprovar a ausência de desmatamento e, também, da negociação do acordo do qual o desmatamento entra como um tema central.

Segundo ele, esse assunto está na agenda comercial e tem uma conexão enorme com a agenda climática. Mas, na visão do sócio-diretor da Agroicone, Rodrigo Lima, a exigência pode se transformar em barreira. 

“Os Estados Unidos estão caminhando para isso, o Reino Unido também e a China unificou sua declaração aos norte-americanos de que não vai comprar de fazendas com desmatamento ilegal. Se a China pedir uma comprovação disso, o que vamos fazer?”, questiona. 

O assunto foi debatido durante a reunião de abril da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram). Para Rodrigo, a conexão verde e amarela com estes temas é intrínseca: “Não podemos fingir que não existe, porque, daqui a pouco, deixamos de vender ou pagamos o preço. E isso torna a agenda climática não só uma questão do risco climático em si, mas também envolve perda de produção, quebra de safra, endividamentos e mais. E isso é preocupante, considerando a força que a agricultura brasileira tem no mundo”. 

Os esforços já estão sendo colocados em prática para agregar valor aos produtos nacionais, pontua, e isso passa pelo mercado de carbono. “A partir do momento em que todos os países têm metas e vão buscar implementar e adotar suas ações climáticas nos diversos setores para reduzir as emissões, é automático: se cria um mercado de carbono como opção para permitir a redução de emissões via compensação de emissões pela aquisição de crédito de carbono”, explica.

Isso porque, continua Rodrigo, não é toda empresa que consegue reduzir emissões fazendo uma mudança tecnológica ou energética; mesmo substituindo a caldeira, por exemplo, ainda terão emissões – e nem sempre se consegue reduzir tudo.

Então, a compra de crédito de carbono acaba por ser estratégica para o Brasil. “O mercado de carbono regulado, potencialmente, pode ser uma forma de nos fortalecermos em relação às taxas sobre as emissões”, indica.

E o Brasil, como sétimo maior emissor do mundo, tem sua presença estratégica no mercado regulador de redução de emissões e de projetos que gerem essa redução de emissões, declara Rodrigo. E isso ajuda os setores a se transformarem e desenvolverem projetos que possam ser vendidos no mercado interno e externo. 

“Como País que tem uma meta de neutralidade de emissões até 2050, penso que é inexorável termos um mercado de carbono – especialmente porque temos 66% do território coberto por vegetação nativa”, declara Rodrigo.

E ele questiona: o carbono florestal será a maior fonte de crédito de carbono brasileira em detrimento de outros setores? “Esse fato terá que valer a pena nessa negociação”, diz e acrescenta: “Temos muita floresta e usamos o carbono florestal, vamos vender carbono florestal pro mundo inteiro e aí conservar vegetação, pagando por ela e valorizando nossa floresta?”. 

Para o sócio-diretor, o Brasil precisa receber dinheiro para a floresta, com o crédito de carbono atuando como compensação de emissões, mas, é preciso viabilizar setores que podem gerar crédito – envolvendo então a agricultura, além do carbono reduzido ou sequestrado na agropecuária.

Será uma grande fonte de crédito? “Nunca vai ser a maior fonte de créditos – mas, é possível gerar esse crédito nesse setor”, indica. Por isso, Rodrigo acredita que formalizar o enfoque brasileiro de ações climáticas de segurança alimentar é fundamental, e o setor usa isso na medida em que seja feito para vender suas tecnologias. “Mostrar que esse é o nosso caminho, e não o caminho que uns ou outros querem vender como solução”, fala.

Portanto, resolver o problema do desmatamento ilegal é inerente à comprovação de que o agro é sustentável. O agro se tornou o fiador do desmatamento ilegal.  E como o Brasil tratará de mercado de carbono é um tema inerente à competitividade dos setores produtivos, e inerente também aos negócios e ao comércio internacional.