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Como Fundos Internacionais podem incentivar a pecuária sustentável?

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Como os fundos internacionais podem estimular a preservação da Amazônia? Para Anna Lucia Horta, gerente de negócios e investimentos na The Nature Conservancy (TNC) Brasil – palestrante da conferência Entendendo a Amazônia –, o primeiro passo é a regularização fundiária de propriedades destinadas à pecuária com apoio de financiamento, o que não existe atualmente no país. A contrapartida desse financiamento seria a exigência de um arcabouço de controles, visando o desmatamento zero e a recomposição acelerada do déficit de reserva legal e de Áreas de Preservação Permanente (APP).

“Em algumas simulações, a regularização do título onera entre 60% e 80% de todos os custos iniciais relativos à intensificação [da atividade]. É um ciclo vicioso que os fundos podem ajudar a quebrar. O produtor não intensifica porque ele não tem capital; para ter capital, ele precisaria do título [de posse]; para ter o título, ele precisaria de outro empréstimo – e os fundos podem ajudar”, afirmou Anna Lucia. Sua palestra, que aconteceu no dia 22 de julho, está disponível gratuitamente para o público até 31 de julho no site www.entendendoaamazonia.com.br. No total, o evento teve 30 apresentações – todas podem ser acompanhadas on-line.

Formada em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), Anna Lucia Horta é mestre pela Universidade do Estado de Nova York (Estados Unidos) e tem mais de 20 anos de experiência no setor financeiro, tendo atuado em bancos e renomadas empresas multinacionais. Na TNC desde 2016, seu trabalho é voltado para o desenvolvimento de mecanismos financeiros inovadores e modelos de negócios para produção sustentável da pecuária e soja na Amazônia, no Cerrado e no Chaco.  De acordo com ela, é possível produzir proteínas animais com sustentabilidade e bons resultados financeiros.

“A indústria de carne é um dos principais vetores de desmatamento. A Amazônia tem hoje cerca de 40% do rebanho brasileiro – e o crescimento desse contingente vem acontecendo prioritariamente no Bioma Amazônico e cada vez mais perto da Amazônia. Hoje, o bioma representa 27% da área de pastagem do Brasil e quase metade disso já está degradada”, comentou a profissional.” O aumento das arrobas por hectare é chave para reduzir a necessidade por mais espaço para produção.

Tecnologia x Produtividade

“Uma importante parcela da pecuária brasileira utiliza pouca tecnologia e tem baixa produtividade, mas é importante reconhecer que há melhoria significativa. Entre 1990 e 2019, a produtividade mais do que dobrou, indo de 1,6 arrobas para 4,5 arrobas por hectare ao ano (uma arroba são 15 quilos). Isso é [resultado de] melhoria tecnológica, intensificação, genética e práticas sustentáveis. Mas essas 4,5 arrobas ainda representam baixa eficiência. Trazendo tecnologia, podemos chegar a 26 arrobas [por hectare ao ano] em pastagem”, afirmou Anna Lucia.

“Estamos presos em um ciclo vicioso. O produtor compra terra e planta capim. Com poucos funcionários, ele consegue ter produtividade de 4,5 arrobas e isso paga as contas; não sobra dinheiro. Só que, ao longo de 5 anos, quanto mais chuva tem na região mais tempo isso demora para acontecer e esse solo começa a se exaurir e perde a capacidade natural de renovação: a pastagem vai ficando degradada e a produtividade vai caindo. E o produtor, que já não tirava dinheiro daquilo, começa a ter perda de renda. E aí ele vai abrir mais uma área. E esse círculo fica vicioso”, disse, ao se referir à necessidade de investir em ações biosustentáveis.

“A intensificação sustentável pode perfeitamente atender à demanda futura por carne no Brasil e no mercado internacional, liberando terras para expansão de soja e outros produtos. Gerando mais receita, todo mundo ganha. E isso aqui é uma oportunidade de investimento só na pecuária de US$ 17 bilhões”, salientou a gerente da The Nature Conservancy. Ela entende que o produtor precisa de acesso a mercados que valorizem a carne de áreas sem desmatamento – com mais essa oportunidade de renda, ele pode ter um importante estímulo para investir em práticas cada vez mais ligadas à sustentabilidade.

“Todas as questões, exigências sociais, ambientais e de governança passam pelo funil de investimento dos bancos, frigoríficos e varejistas. E uma questão importante é a transparência e o monitoramento. Nós precisamos de ferramentas e de tecnologias para garantir que a carne não esteja associada ao desmatamento. Mas isso, sozinho, não vai resolver. A gente precisa ser realista e pensar que cada jurisdição, cada estado, cada conjunto de municípios precisa se organizar de forma coletiva para garantir que todas as partes fiquem juntas”, finalizou Anna Lucia Horta.

Fonte: A.I.

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