A 38º Conferência FACTA WPSA-Brasil realizada nesta semana debateu questões sobre a abertura do mercado internacional para a pequena e média avicultura da América Latina, entre outros assuntos relevantes para o setor.
O presidente da Asociación Nacional de Avicultores y Productores de Alimentos – ANAPA, da Nicarágua, Alfredo Vélez Lacayo, explicou que nos últimos 25 anos a indústria avícola de médio e pequeno porte passou por diversos estágios de competitividade e competência, tendo alcançado de forma consistente a autossuficiência no abastecimento do consumo interno de produtos avícolas, atingindo estabilidade no equilíbrio entre oferta-demanda.
“Porém, embora com o advento de melhoramentos genéticos, novas tecnologias e conhecimentos, a competição entre as empresas locais e estas por sua vez com as importações é crescente, o que, somado à falta de mercados de exportação, está limitando seu crescimento ao tamanho do mercado local”.
O próximo passo
Para dar “o próximo passo” no crescimento do setor, Vélez salientou que uma excelente oportunidade é expandir mercados de exportação e que o volume necessário pode ser enviado para a indústria manter seu crescimento interno. Mas, para isso, ele cita como elemento-chave que o país tenha uma plataforma de exportação que ajude a facilitar as negociações com terceiros países para abrir seus mercados às exportações avícolas.
“É importante e necessário que as médias e pequenas aviculturas contêm com essa plataforma de exportação, o que implica uma tarefa monumental, tarefa que consideramos caber às Associações Avícolas conduzi-la em coordenação com os seus associados”, detalhou.
Vigilância para Influenza Aviária e doença e Newcastle
O médico-veterinário e diretor da CERES BCA, Hernán Rojas, comentou durante a sua apresentação que a avicultura é uma atividade fundamental na América Latina, tanto para a produção de carne e ovos, quanto para outros produtos e subprodutos. Diante disso, salientou que as doenças virais, Influenza aviária (IA) e a Doença de Newcastle (DNC) constituem ameaças presentes e permanentes para a avicultura da região.
Ele explicou ainda que, devido às características da infecção/doença e seus potenciais impactos socioeconômicos, a avicultura dos países, juntamente com os serviços veterinários, é obrigada a ter uma estratégia de gestão de saúde adequadamente eficiente e eficaz. “A vigilância é uma tarefa grande, complexa e permanente. Não é possível que se realize somente pelo estado ou pelo setor privado. Ainda mais na região, onde existe tanta diversidade de sistemas de produção avícola e a multiplicidade de necessidades que os produtores e serviços veterinários têm”.
Portanto, como ponto-chave, Rojas acredita que as parcerias público-privadas formais são necessárias. “Essas parcerias podem seguir as diretrizes do Guia de Parcerias Público-Privadas da OIE e estabelecer responsabilidades no delineamento, gestão e financiamento da vigilância epidemiológica, como parte da gestão sanitária avícola. Esta parceria deve ser uma declaração e precisa traduzir-se na identificação conjunta de lacunas e desafios, identificação de soluções, prazos e responsáveis. Assim, um roteiro de trabalho progressivo pode ser gerado”, finalizou Rojas.
Coronavírus na indústria avícola
Ainda falando sobre a necessidade de uma estratégia de gestão de saúde adequadamente eficiente e eficaz, o Doutor em Medicina Veterinária e professor assistente e associado de Medicina Avícola, na Universidade de Califórnia, Davis (EUA), Rodrigo Gallardo falou sobre a importância do controle ou prevenção contra infecções por coronavírus.
Os coronavírus possuem um genoma RNA de fita única e sentido positivo. Este é o maior genoma de vírus RNA, variando entre 27 mil e 30 mil nucleotídeos. Estes vírus são sensíveis a desinfetantes, calor e sabão, devido a seu envelope formado por uma dupla camada fosfolipídica que é facilmente desintegrada por ele. Além disso, o capsídeo, a estrutura que protege o genoma, não é fechado firmemente em vírus sem envelope, deixando o genoma suscetível a desintegração. Por fim, todos os coronavírus são altamente contagiosos e têm um tempo de incubação que varia entre 2 e 14 dias.
Gallardo detalhou que a estratégia mais importante para o controle ou prevenção contra infecções de coronavírus em um dado local é a vigilância constante. “Essa vigilância demanda o uso do genoma completo ou de segmentos representativos das regiões hiper-variáveis do genoma. A informação coletada deve ser usada para compreender a evolução do vírus e para a detecção precoce de variantes antigênicas. Os ciclos do IBV manifestam surtos a cada 5 a 7 anos. A pressão seletiva da vacinação (vacinas vivas) contribui para a sua variabilidade”.
Ele acrescenta que esse vírus tem a capacidade de manter-se em populações de galinhas por um longo tempo, em parte devido aos níveis de imunossupressão em lotes avícolas, que favorecem a emergência de cepas variantes e salienta que as chaves para o controle e prevenção do IBV são vacinação e prevenção.
“Em resumo, os coronavírus são uma grande família de vírus, incluindo diversas espécies animais e humanas. O IBV é um coronavírus gama e o SARS-CoV-2 é um coronavírus beta, havendo semelhanças e diferenças entre eles. O conhecimento da epidemiologia, imunologia e biologia molecular do IBV pode contribuir para a compreensão do comportamento e dos efeitos do SARS-CoV-2 em humanos. Vigilância e detecção constantes são necessárias para compreender os coronavírus em circulação e elaborar boas estratégias preventivas”, finaliza Gallardo.
Fonte: Facta.