Na busca por uma pecuária brasileira cada vez mais sustentável, estudo da Universidade Federal de São Paulo (ICAQF/Unifesp), Campus Diadema, ajuda a compreender o tamanho da interferência da atividade para o alcance das metas climáticas estipuladas pelo Acordo de Paris.
O material, intitulado “Produção de carne bovina e emissão de GEE no Brasil – valoração monetária das emissões e perspectivas para as metas climáticas da NDC”, deve ser veiculado em breve no periódico científico Journal of Cleaner Production, especializado em pesquisas transdisciplinares sobre produção mais limpa.
“Dentre todos os setores da economia brasileira, a pecuária se destaca pela grande produção e alto volume de exportação de carne bovina, atividade sabidamente conhecida também pelos altos impactos ambientais associados, como desmatamento e emissão de GEE. A motivação de nosso estudo foi, justamente, compreender o nível de interferência de toda essa produção no cumprimento das metas climáticas estipuladas pelo nosso país”, explica a autora da pesquisa, Mariana Vieira da Costa.
O Acordo de Paris, firmado em 2015, marca o compromisso de 196 países com o planeta: barrar a elevação de temperatura média global. O objetivo é manter o aquecimento abaixo dos 2ºC, preferencialmente no limite máximo de 1,5ºC.
Neste cenário, a iniciativa da pesquisadora considerou algumas etapas. A primeira envolveu uma previsão das emissões do gado de corte para 2030 a partir da projeção Business As Usual (BAU) de produção. Na sequência, o foco foi identificar a emissão máxima necessária do gado de corte para que a emissão total brasileira se limite a 1,6 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e). Por fim, o estudo estimou a produção máxima de carne bovina para que a NDC seja cumprida, bem como o impacto no mercado interno. Para complementar as análises com uma visão econômica, foi utilizado o custo social do carbono (CSC) para valorar as emissões do gado de corte.
“Ao valorarmos as emissões de GEE por meio do CSC, sendo que a emissão máxima estimada em 2030 para atender a NDC deve ser de 0,257 GtCO2e, conseguimos observar a oportunidade de reduzir entre US$ 18,8 e 42,6 bilhões no custo das emissões BAU da produção de carne bovina em 2030 se a NDC for atendida”, descreve Mariana. A profissional foi orientada no estudo pela professora do ICAQF/Unifesp, Simone Miraglia.
De acordo com Simone, “a pesquisa também indicou que, avaliando um cenário onde as metas climáticas e as exportações de carne bovina são priorizadas, entre 2-10 kg de carne bovina per capita estariam disponíveis no mercado doméstico em 2030”. “Os resultados apontam que a emissão de GEE pelo gado de corte será entre 1,6 e 2,5 vezes maior do que a máxima necessária para cumprir as metas climáticas estipuladas nesse prazo”, explica.
O estudo estima que, para se manter dentro do limite estabelecido pela NDC, a emissão máxima do gado de corte deve ser de 0,257 GtCO2e. A produção de carne bovina, por sua vez, deve-se manter entre 3,9 e 5,8 toneladas. O custo social do carbono aponta a possibilidade de reduzir entre US$ 18,8 e 42,6 bilhões no custo das emissões BAU da carne bovina, em 2030, se a emissão máxima for cumprida.
“Esses números revelam a necessidade e urgência de mudanças na produção pecuária para emitir menos GEE por kg de carne produzida e o custo monetário evitado de reduzir as emissões. É preciso, assim, discutir formas de cumprir as metas climáticas com menor impacto social possível. Igualmente importante e urgente é investir na produção agropecuária intensiva, que pode ser uma alternativa potencialmente eficaz de produzir quantidades suficientes de carne bovina com baixo impacto ambiental”, conclui Simone.
Fonte: AI, adaptado pela equipe FeedFood.
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