Em alta, custo de produção de leite aumenta 62% em dois anos, como apontam especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Neste cenário, não é apenas a entressafra que explica a inflação dos lácteos no País.
De acordo com os profissionais, apesar de o litro de leite UHT ter atingido o valor de até R$ 8,00 em alguns estabelecimentos – montante atrelado a chegada do inverno e da redução das chuvas em boa parte das regiões produtoras – o produto já seguia em elevação nos últimos meses.
Como explica o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Glauco Carvalho, a principal causa do aumento é a menor oferta do produto nos laticínios, o que se deve principalmente à elevação dos custos de produção.
A entressafra tem início em abril, mas, segundo o pesquisador, “a oferta de leite já vinha fraca desde meados de 2021 e acentuou nos primeiros meses de 2022”. Além disso, o período acentuou a escassez de leite no mercado, tendo em vista que nos últimos anos houve uma alta de 62% nos custos para o produtor, gerando uma elevação de 43% no preço ao consumidor.
O preço, mesmo em alta, como complementa o pesquisador, não está sendo suficiente para cobrir os custos, o que piorou a rentabilidade nas fazendas e levou o produtor a diminuir a oferta, reduzindo a alimentação das vacas.
Uma pesquisa, referente à compra de leite pelos laticínios no primeiro trimestre do ano, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela uma queda de 10,51% em comparação aos três primeiros meses de 2021. Como aponta a Embrapa, essa foi a quarta queda trimestral consecutiva e a maior em uma avaliação trimestral desde o início da pesquisa, em 1997.
Segundo Carvalho, a expectativa é que os números do segundo trimestre, que coincide com o início da entressafra, repitam o cenário de escassez do primeiro. No entendo, há perspectiva de algum crescimento na oferta, motivada pelo início do período de chuvas e, também, por uma recuperação nas margens de lucro do produtor. “Os preços ao produtor estão em alta e isso vai dar um incentivo para melhorar a produção”, pondera o pesquisador, ao relembrar que muitos produtores saíram da atividade e outros destinaram animais para o abate.
A escalada dos custos, como reforça a Empresa, vem ocorrendo desde meados do ano passado, impactando a rentabilidade dos produtores. De janeiro a junho deste ano, o preço médio do leite pago ao produtor, deflacionado pelo custo de produção, recuou cerca de 3,8% comparado ao mesmo período de 2021. Entre os insumos que mais subiram de preço estão os fertilizantes, os combustíveis e os voltado a alimentação do gado.
“Produzir silagem e adubar pastagens está bem mais caro”, constata o analista da Embrapa, José Luiz Bellini Leite. A ureia no mercado brasileiro passou de R$ 2,3 mil por tonelada, no início do ano passado, para cerca de R$ 6,3 mil em março de 2022. O cloreto de potássio foi de R$2 mil/t para R$6 mil/t. Esses insumos tiveram os preços afetados diretamente pelo conflito no leste da Europa, que tem a Rússia como a principal exportadora.
Fonte: Embrapa, adaptado pela equipe feed&food.
LEIA TAMBÉM:
ABPA destaca importância de simpósio realizado pela revista feed&food