Eva Hunka, mestre em medicina veterinária preventiva, fala sobre avanço das vacinas
A avicultura 4.0 vai além das questões de ambiência e equipamentos. Essa revolução tecnológica também trouxe benefícios para o processo de vacinação.
A vacinação de aves por meio da injeção intramuscular sofreu pouca evolução ao longo do tempo. Apesar da utilização de seringas de precisão, ainda somos muito dependentes do fator humano, inclusive na questão da “precisão”, visto que o vacinador é responsável por movimentar o êmbolo da seringa, que, por sua vez, garante a dose precisa.
As vacinas injetáveis podem ser mais ou menos viscosas de acordo com sua composição de antígenos ou mesmo do tipo de emulsão, e isso ainda pode sofrer interferência da temperatura. Esta viscosidade afeta diretamente a força empregada no êmbolo, aumentando a fadiga do operador e a probabilidade de sub doses.
Essas aves recebem vacinas inativadas com a finalidade de elevar os títulos de anticorpos e, consequentemente, promover proteção mais duradoura, pois os anticorpos específicos, oriundos de imunização ativa, geralmente, perduram por longos períodos.
Quando falamos em resultados de sorologia, é natural que logo pensemos em qualidade ou potência da vacina utilizada, visto que existem muitas variáveis no produto, que podem interferir nesta resposta, como adjuvantes, tipo de emulsão, concentração, tipo do antígeno etc. Mas muitas vezes esquecemos que o processo de vacinação é tão importante quanto o produto e também impacta neste resultado.
Em 2012, Perelman et al. demonstrou que o simples fato de a equipe de vacinação saber que está sendo avaliada altera a sorologia das aves. Isso mostra claramente que o processo de vacinação é uma parte essencial do resultado.
A tecnologia 4.0 trouxe novos equipamentos de vacinação, com uma nova proposta, na qual o erro humano é minimizado e a coleta, o compartilhamento e o armazenamento de dados do processo possibilitam correções em tempo real e também a tomada de decisões estratégicas de longo prazo. Por meio da Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), esses equipamentos trazem mais controle e melhoria para a vacinação. Com essa melhoria no processo, a resposta vacinal é mais eficiente e uniforme.
Na avicultura, temos o lote como unidade epidemiológica e os animais devem ser o mais uniformes possível, porém existe grande número de animais sendo tratado ao mesmo tempo, e quando falamos em processo eficiente devemos garantir que todos os animais recebam a mesma dose, em um mesmo momento, e, por isso, devem se comportar, sanitariamente, de um modo muito parecido.
Os equipamentos 4.0 trouxeram o processo de vacinação para os dias atuais, elevando o status sanitário das aves e transformando este processo em um ponto crítico de controle da produção.
Precisamos garantir que todo animal que recebeu a vacina esteja, de fato, imunizado, pois existem diferentes fatores que contribuem para a eficácia da vacinação, que variam desde a armazenagem correta do produto até erros de aplicação, como dose incompleta, vacinação a partir de frascos vazios ou mesmo aplicação em local errado. Tudo isso pode alterar os resultados sorológicos.
Quanto mais controlado for esse processo de vacinação, menores são as chances de erros. Um lote bem vacinado tende a apresentar títulos sorológicos mais uniformes, com baixo coeficiente de variação. Essa uniformidade diminui a quantidade de indivíduos suscetíveis na população e, no caso de reprodutoras, isso também se reflete na transferência de anticorpos para a progênie.
Com esse novo conceito, o processo de vacinação deixou de ser um procedimento operacional padrão e se transformou em ponto crítico de controle, permitindo ajustes e controles em tempo real e em uma ferramenta para decisões estratégicas de longo prazo, por meio da análise dos dados coletados, oriundos dos diferentes episódios de vacinação realizados, ordenados e compilados, permitindo visualização completa dos processos.
Ter uma visão clara, confiável e totalmente conectada com a realidade de cada granja permite melhor utilização dos insumos, neste caso vacinas, e proporciona ganhos que, anteriormente, não seriam percebidos.
Autor: Eva Hunka, médica-veterinária pela UFRPE, mestre em medicina veterinária preventiva pela Unesp e gerente de negócios biológicos da Phibro Saúde Animal