Ação visa reutilizar objetos como redes e linhas descartados em rios e mares
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), por meio do Instituto de Pesca (IP-APTA), desenvolve um projeto de pesquisa para enfrentar a quantidade de objetos de pesca perdidos, abandonados ou descartados nos rios e mares, o que causa poluição, prejuízo econômico e ambiental. Ação visa reutilizar os materiais coletados, como redes, linhas, anzóis e boias, por meio da ecoinovação.
De acordo com a pesquisa, a pesca fantasma pode ser entendida como a capacidade que um objeto de pesca perdido no ambiente aquático tem de continuar a capturar ciclicamente os animais, problema que afeta diversas regiões do mundo. Segundo o Programa das Nações Unidas voltado para Preservação ambiental (UNEP), cerca de 670 mil toneladas de apetrechos perdidos ou abandonados vão parar nos rios, mares e oceanos e a cada 25 toneladas de pescado, uma tonelada desses objetos são abandonados no oceano.
“O IP já está atento a isso há mais de uma, cumprindo a função da pesquisa científica de estar sempre um passo adiante do problema, mostrando proatividade”, diz o pesquisador do Instituto, Luiz Miguel Casarini. Ele lembra que, mesmo quando não ocasiona a pesca fantasma, esse material é problemático, pois vai se fragmentando na forma de microplásticos, que contaminam os animais marinhos e podem chegar, via consumo, aos humanos.
Segundo o pesquisador, no Brasil, essa situação é bastante disseminada e abrange desde populações em localidades remotas até a pesca industrial. “Há uma corresponsabilidade: parte deste material é perdida por ausência de melhores práticas a bordo, assim como os próprios fornecedores que importam ou produzem panos de redes de pesca e demais materiais deveriam ter canais de comunicação mais eficientes com seus consumidores”, afirma, ressaltando que a pesca ilegal é um agravante deste cenário. Para ele, há a necessidade de um programa de prevenção consistente visando promover a destinação ambientalmente adequada para os materiais de pesca (em sua maioria, feitos de plástico), o que envolveria tanto o poder público quanto a iniciativa privada.
Reutilização dos materiais. Para agir no enfrentamento da situação, a equipe de pesquisadores passou a utilizar recursos tecnológicos avançados para mapear os pontos onde eram encontrados os artefatos, que após o recolhimento, são lacrados e lavados para análise.
Por meio de parceria com o Senai e com a indústria para reprocessar a poliamida do nylon, o principal componente presente nos objetos, o projeto conseguiu desenvolver um produto que é praticamente pura rede, sem aditivos, com designs de produtos upcycling, com alto valor ambiental agregado, explicou o pesquisador.
Cesarini também destacou que há um crescente número de consumidores que se preocupam com a origem dos produtos que adquirem e os aspectos ambientais relacionados à sua produção. Neste contexto, surge o “consumidor azul”, que prefere consumir produtos responsáveis do ponto de vista do uso dos recursos marinhos. “Estamos trabalhando pesadamente na questão da rastreabilidade, o que temos feito aplicando conceitos de inteligência artificial para reconhecimento das imagens em micrografia do produto, para que o consumidor tenha transparência da história que ele transporta. Um material que foi retirado do fundo do mar, que estava impactando animais como tartarugas e peixes, que era lixo, ganha um novo significado”, contou.
Fonte: A.I., adaptado pela equipe feed&food.