As preocupações da humanidade com o futuro do planeta nunca foram tão evidentes. Eventos climáticos cada vez mais adversos e um nível de consciência cada vez maior sobre a necessidade de seguir princípios de sustentabilidade em todas as dimensões da vida, da economia e da sociedade, tem se tornado o novo normal a nível global.
Poderíamos dizer que, embora com parcela da sociedade ainda reticente, o mundo virou a chave, a massa crítica da sociedade, incluindo empresas e diferentes atores econômicos, está convencida de que esta é a única estratégia capaz de estancar a crescente degradação do planeta. O caminho da sustentabilidade é um caminho sem volta.
Neste contexto, a preservação da floresta amazônica transformou-se no tema mais importante nos debates sobre o meio ambiente em fóruns internacionais. Sua destruição seria uma catástrofe para a humanidade. Consequentemente, o debate em torno das alternativas de como torná-la produtiva, já que nela vivem mais de 30 milhões de habitantes, mantendo a floresta em pé, tornou-se o desafio mais importante e estratégico para os países que dela fazem parte. E o Brasil tem liderado este debate reafirmando o compromisso com a sua preservação e sediando em Belém, em 2025, a realização da COP 30.
É neste cenário que a produção de pescado ganha relevância. Existe um grande consenso na academia, de que, das proteínas de origem animal, a produção de pescado é, para a Amazônia, a alternativa mais sustentável do ponto de vista ambiental e mais promissora do ponto de vista econômico.
Do ponto de vista ambiental, é a melhor alternativa porque:
- A produção de pescado pode ser realizada sem destruir a floresta, uma vez que a região conta com a maior reserva de água doce do mundo, muitos rios, lagos e reservatórios de hidrelétricas, além de muitas áreas já desmatadas com grande potencial para desenvolver a criação de peixes. Aliado a isso, a produção aquícola conta com uma grande vantagem, se comparada com a pecuária de corte, a produção por ha é muito superior;
- Menor emissão de gases de efeito estufa se comparada com a produção de outros animais;
- Menor consumo de alimento/energia para produzir um kg de carne. Enquanto que para produzir 1 kg de carne bovina há a necessidade, em média, de 7 kg de alimento, para produzir 1 kg de tambaqui, a necessidade é de apenas 1,6 kg e para produzir 1 kg de tilápia, a necessidade é ainda menor, pode chegar a apenas 1,3 kg de alimento.
Do ponto de vista econômico, é a melhor alternativa por várias razões:
- As caraterísticas naturais da região favorecem a produção de pescado, especialmente através da aquicultura: A região tem a maior reserva de água doce do mundo, faz calor o ano inteiro, conta com espécies muito saborosas e com grande potencial zootécnico como o pirarucu, tambaqui, matrinxã, pescada amarela, curimbatá, camarão. E já produz grãos para ração na maioria dos estados;
- A região tem a cultura de consumir pescado e familiaridade com a atividade. O consumo é muito superior às outras regiões do Brasil. Estima-se que em Manaus o consumo chegue a 35 kg/hab/ano, enquanto que a média nacional é de 10 kg/hab/ano, e a média mundial, 20,2 kg/hab/ano;
- É uma proteína com o mercado mundial crescente, fruto de sua saudabilidade. Segundo a FAO, em 2.030 haverá uma necessidade adicional de mais 24 milhões de toneladas de pescado e em 2.050, mais 5 kg/hab/ano (S0FIA 2022), que se considerarmos a população mundial projetada, de 10 bilhões de habitantes, deduz-se que serão necessárias mais 50 milhões de toneladas/ano. E o Sudeste Asiático, responsável por 89% da produção aquícola mundial, vem reduzindo seu ritmo de crescimento;
- A região tem proximidade dos grandes mercados mundiais como o mercado americano, europeu e inclusive o mercado asiático, através de portos do Peru e o canal do Panamá;
- Poucos são os países que podem produzir “Pescado da Amazônia”, ao contrário de outras espécies, o que reduz a concorrência. E o Brasil é o país que tem as melhores condições de liderar a produção na região;
- A produção de pescado, por ser compatível com a preservação da floresta, torna perfeitamente possível e extremamente necessária, construir uma MARCA forte incorporando este conceito. O conceito de que a produção de pescado preserva a floresta. Imaginem este apelo aos consumidores europeus: “Consuma Pescado da Amazônia e ajude a Preservar a Floresta”. Assim, mais do que vender um produto, poderemos vender VALOR e elevar em muito a rentabilidade da atividade.
- A região conta com um parque industrial instalado nos principais estados, que se construiu a partir da pesca e que se encontra ocioso em função da redução dos estoques e queda no nível de captura. Esta capacidade ociosa poderia ser suprida com a produção aquícola;
É preciso que os governos e a iniciativa privada lancem luzes para a potencialidade e as vantagens intrínsecas da produção de pescado na Amazônia e estruturem um plano de desenvolvimento de médio e longo prazo, com os instrumentos e ações necessárias para alavancar esta atividade na região, torná-la competitiva e com o VALOR de que ela assegura a sustentabilidade da floresta.
O IFC Amazônia, a ser realizado em Belém nos dias 03, 04 e 05 de dezembro, tem o propósito de constituir-se no maior fórum internacional para construção desta estratégia e de impulsionar sinergias e parcerias para a materialização deste grande objetivo.
Mãos à obra, vamos fazer da produção de pescado na Amazônia, um “case de sucesso” em produção de um alimento saudável, com grande impacto econômico, preservando a floresta.