Quando o Censo Agropecuário mais recente foi divulgado, alguns números chamaram a nossa atenção: entre os levantamentos de dados de 2006 e 2017, o total de pecuaristas de leite reduziu, mas os índices seguiram em destaque. Embora o número possa mudar de um ano para outro, em média, o Brasil produz cerca de 35 bilhões de litros de leite por ano, em 1.176.295 propriedades.
Outro dado que salta aos olhos no setor é a sazonalidade vista em quase metade dos produtores. Muitos deles entram e saem do mercado conforme mudanças no cenário de consumo, de mercado e dificuldades na produção. Distribuição, padronização da qualidade e mão de obra são alguns dos desafios que o pecuarista enfrenta e fazem com que ele segure a produção em certos períodos.
Solucionar esse ponto para estabilizar a atuação no mercado não é uma tarefa simples. Parte da resposta está na automatização da pecuária leiteira, uma mudança de paradigma que combina tecnologia física (robôs, braços automatizados, cabine de ordenha) com softwares (programas que monitoram a qualidade do leite e customizam a extração para cada vaca). Como expoentes deste mercado temos acompanhado essa transformação em clientes que colocaram a produtividade em outro patamar usando robôs. E as vantagens têm superado os desafios.
Se o cenário parece ficção científica para alguns, para muitos produtores o uso de robôs já é uma realidade. Com a automação, os ganhos vêm para todos os envolvidos: o produtor passa a fazer uma melhor gestão do seu empreendimento, consegue se programar para se manter atuante no mercado; o consumidor ganha com um leite de qualidade, especialmente agora que a preocupação com alimentação e imunidade vem aumentando; e também é vantagem para as vacas que ganham autonomia na ordenha, têm mais qualidade de vida e convivem em um ambiente mais humanizado.
É curioso notar que a robotização da ordenha traz maior humanização da produção, e isso se relaciona com estudos que mostram que o bem-estar do animal se reflete em um leite de melhor qualidade. Baixo escore corporal, agitação do animal e dificuldade na extração do leite podem estar relacionados diretamente com o estresse animal. Se um sistema automatizado evita este tipo de problema, ele deixa de ser investimento apenas financeiro, mas é também sinal de continuidade dos negócios.
Quando o produtor investe em automação e robôs o custo fixo inicial é maior, porém o custo variável é menor e mais competitivo comparado com sistemas tradicionais de ordenha, devido aos fatores de produção relativos a mão de obra, processos de manejo, estratégia de oferta de alimento concentrado, melhor desempenho em reprodução e saúde animal, melhor estratégia na frequência de ordenha e redução de descarte de animais. Nas ordenhas tradicionais a realidade é inversa, o pecuarista pode até ter um custo fixo menor inicialmente, porém os gastos variáveis são instáveis e maiores.
Com frequência o produtor faz investimentos em ordenha em média a cada 10 a 15 anos, em alguns países a escolha pela ordenha robotizada chega a 85% das propriedades leiteiras, como já é realidade na Holanda. Vale lembrar que, o país do noroeste europeu é reconhecido como o berço da produção de leite e seus produtores trabalham e investem muito em tecnologia e eficiência para manter o alto nível de qualidade e excelência.
No último ano, observamos que a tecnologia ajudou a evitar um colapso na Economia. Quem investiu conseguiu obter melhores números e pôde acompanhar novos comportamentos de consumo, alcançar novos mercados e se manter atuante. No caso da pecuária leiteira, sabemos que os desafios não são poucos, e superá-los exige gestão, tecnologia e mente aberta para novas transformações. Com a ajuda dos robôs especializados podemos chegar lá de forma mais saudável e sustentável.
Fonte: João Vicente Pedreira é gerente comercial da Lely no Brasil.