MERCADO

Conteúdo

Pesquisador destaca relação do uso correto de fertilizantes com segurança alimentar global

feedfood
fertilizante

Gabriela Couto, de casa 

gcouto@ciasullieditores.com.br 

O Brasil é um grande aliado na segurança alimentar global e também um importante exportador de alimentos, sendo um dos principais exportadores de carne e soja do mundo. De modo que, se o País saísse do mercado de exportação, causaria um grave desabastecimento mundial, com consequências no preço dos alimentos e na segurança alimentar.  

O uso correto de fertilizantes é fundamental para garantir a segurança alimentar, principalmente no caso dos solos tropicais, dos quais a produtividade está diretamente relacionada ao uso desse insumo. De acordo com o pesquisador da Embrapa Solos (RJ), Vinicius de Melo Benites, muitos países subsidiam os fertilizantes entregues ao produtor com o objetivo de garantir a segurança alimentar.  

Para Benites, sistemas agrícolas de baixa produtividade aumentam a pressão sobre as áreas de vegetação nativa, fazendo com que mais áreas tenham que ser deflorestadas para aumentar a produção e garantir a segurança alimentar. Dessa forma, sistemas agrícolas bem manejados, com o uso correto de fertilizantes, permitem a conservação de áreas nativas, diminuindo a necessidade de expansão de área agrícola sobre as áreas de reserva.  

“Um exemplo bastante atual da importância do uso de fertilizantes sobre a segurança alimentar é o caso do Sri Lanka. Nesse país asiático, em 2021 o governo proibiu o uso de fertilizantes solúveis importados, obrigando os produtores a usarem somente fertilizantes de origem orgânica. O resultado foi uma catástrofe sobre a produção agrícola, fazendo com que o governo tivesse que revogar suas imposições e pagar multas milionárias para os produtores rurais”, conta o pesquisador.  

No Brasil, as culturas de soja e de milho consomem sozinhas mais da metade de todo o fertilizante produzido. A maior parte deles, são as fórmulas NPK, misturas de fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos, mais especificamente das matérias-primas uréia, monoamônio fosfato, superfosfatos simples e triplo e cloreto de potássio. Esses são os tipos mais usados, mas ainda existem uma centena de outras fontes que têm uso específico para algumas culturas e para algumas regiões, entre elas fertilizantes minerais solúveis, fertilizantes orgânicos e fertilizantes organominerais. 

“A fonte de fertilizante a ser usada depende mais do tipo de cultura que está se cultivando e do tipo de manejo empregado pelo produtor. Aspectos regionais, como a logística e a proximidade de fábricas ou de portos, pode influenciar o preço dos fertilizantes e a escolha do produtor”, explica Benites.  

No intuito de reduzir a dependência externa brasileira e desonerar os custos para o produtor rural, o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). Uma série de medidas tributárias e legais estão previstas, para favorecer a produção nacional de fertilizantes e reduzir os custos desse insumo. Medidas de incentivo à inovação tecnológica, por meio da criação de fundos de fomento à pesquisa, também estão previstas. As iniciativas do PNF irão contribuir também com a segurança alimentar global.  

“O PNF prevê ações estruturantes que terão impacto no longo prazo e que, se forem de fato implantadas, deverão mudar nosso cenário de dependência extrema ao longo das próximas décadas. Mas é importante salientar que as principais matérias-primas para fertilizantes têm sua origem no gás e em minérios, alguns dos quais não são abundantes no Brasil, devido à sua geologia. Ações podem ser tomadas no sentido de amenizar nossa dependência, mas seremos sempre dependentes de importação de algumas dessas matérias-primas”, destaca o pesquisador. 

Caravana Embrapa FertBrasil  

Para promover o uso eficiente e sustentável de nutrientes na agricultura brasileira, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) criou a Caravana Embrapa FertBrasil. A ideia é que a caravana esclareça as dúvidas dos produtores de várias regiões do Brasil.  

“Muito conhecimento científico sobre as melhores práticas de uso de fertilizantes foi gerado nos 12 anos de existência da Rede FertBrasil , e agora profissionais de alto nível irão apresentar esses resultados de uma forma direta e objetiva aos produtores brasileiros”, ressalta o profissional.  

De acordo com o pesquisador da Embrapa Solos (RJ), a segurança alimentar global depende muito do País e de suas práticas utilizadas na agropecuária, por ser um dos poucos países que tem condições de ampliar sua produção sem destruir suas áreas de preservação, em um cenário com população crescente e demanda por alimentos também crescente. 

“Há no Brasil mais de 50 milhões de hectares de pastagens degradadas, que poderiam ser transformadas em áreas agrícolas e aumentar a produção de alimentos. Essas áreas estão atualmente sob algum nível de degradação e precisam ser manejadas para conseguirem uma agricultura sustentável, isso exige muita tecnologia e novos insumos para a correção de acidez e aumento de fertilidade. O País tem gerado tecnologias nesse sentido por meio da Embrapa e de todo o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, que envolve universidades e centros de pesquisa”, salienta Benites. 

Entre as iniciativas, destaca-se a integração lavoura-pecuária, que é uma técnica que permite a produção de grãos e carne na mesma área, em uma forma de intensificação ecológica onde um sistema se beneficia do outro de forma sinérgica. Essa técnica permite a correção gradual da fertilidade dos solos e aumento da produtividade do solo ao longo do tempo. Outras tecnologias, como a utilização de resíduos agrícolas e agroindustriais e a identificação de novas fontes de nutrientes para a agricultura, também têm surgido para apoiar essa transformação. 

Pensando na segurança alimentar, e também na saudabilidade, a Embrapa Agroindústria de Alimentos criou o Projeto Biofort, que é voltado para biofortificação de alimentos que combate à desnutrição e a fome oculta.