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Pesquisa elabora mapa da presença feminina no agronegócio 

Projeto do AgTech Garage levanta dados por todo o Brasil para descobrir “quem são elas” 
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Natalia Ponse, da redação

natalia@ciasullieditores.com.br 

Wellington Torres, da redação

wellington@ciasullieditores.com.br 

A presença das mulheres no agronegócio já não é uma tendência – se tornou uma consolidação. E a segunda edição da pesquisa #MulheresQueInovamOAgro, lançada pelo AgTech Garage, hub de inovação para o agronegócio da PwC Brasil, vem para mostrar isso em números. 

A pesquisa mapeou a crescente presença feminina no agronegócio brasileiro, traçou o perfil destas profissionais, quais são suas trajetórias e os seus desafios. Para isso, o questionário foi aberto para todas as mulheres que trabalham em diferentes elos da cadeia produtiva do agronegócio no Brasil.  

A innovation Strategist no AgTech Garage, Dalana de Matos, conta sobre a origem desta iniciativa: “Comecei a trabalhar com inovação no agronegócio em 2021. Esse é um setor com suas particularidades, características e também com o seu tempo de maturação. Conhecendo um pouco mais sobre ele, me deparei com poucas referências femininas. Então chegamos à conclusão de que precisaríamos mapear essa presença para entender o que está acontecendo e propor ações, já que somos um clube de inovação”. 

Dentro dessa pesquisa, ela conta que a preocupação vem não só do mapeamento da presença dessas mulheres, mas dos seus desafios, de quais tipos de discussões que elas querem participar etc.  

Pensando nisso, a pesquisa tem três sessões: quais são os desafios, quais são as opiniões e o que elas enxergam para o futuro do agro. “Na última pesquisa, realizada em 2021, identificamos quem são essas mulheres; agora, buscamos saber de quais discussões elas querem participar”, define Dalana.  

Prévia dos resultados deste ano

Os resultados deste ano apontam que oito em dez mulheres que trabalham nas áreas de inovação das empresas se sentem acolhidas pelo mercado. Por outro lado, nove em cada dez já passaram por episódios de machismo e constrangimento no trabalho. 

A edição ainda diz que 37% das mulheres atuam na área administrativa (que envolve os departamentos financeiro, de marketing e recursos humanos), 34% trabalham na prestação de serviços e 22% no desenvolvimento de tecnologias. 

Confira outros números do levantamento, que foi respondido por 837 pessoas e que será divulgado, na íntegra, até o final deste mês: 

– 76% se dizem brancas; 

– 19,3% se declaram pretas e pardas; 

– 38,4% tem entre 26 e 35 anos; 

– 31,9% tem entre 36 e 45 anos; 

– 21% são sócias ou proprietárias; 

– 19% atuam como gerentes 

Um dado destacado por Dalana foi o número de mulheres que mudaram de carreira para o agro: 44,7% das respondentes, contra 55,3% das que iniciaram no setor. “O agro abre portas e acolhe”, afirmou. 

inclusão além da pauta

Um dos levantamentos na pesquisa envolve o quanto as mulheres se sentem representadas nos eventos do setor, normalmente com uma presença massiva de homens no debate das programações.  

A participação da mulher no agronegócio, na visão de Dalana, precisa ir além do assunto em si. “Chamá-la para falar de diversidade e equidade de gênero, por exemplo, é importante; mas, também é preciso incluir as mulheres em outros temas”, diz e acrescenta: “Temos muitas profissionais prontas e preparadas, assim como os homens”.  

Os desafios

Ao colocar em prática um projeto desta magnitude, em um País de proporções continentais, é natural que ocorram alguns desafios. Conforme conta Dalana, um deles foi encontrar alguns segmentos de mulheres. 

“Existem muitas regiões onde não há energia elétrica, por exemplo, onde existem mulheres ali, batalhando”, pontua. Uma pesquisadora da Embrapa, ela conta, conduz um projeto na região do Matopiba junto a quebradeiras de côco. Um grupo fácil de acessar, pois existe esse elo para conectar a pesquisa ao grupo – mas e quanto aos diversos grupos espalhados pelo Brasil, sem essa conexão? 

“Nossa dificuldade está em acessar alguns grupos que são bastante segmentados e, muitas vezes, não estão mapeados nos nossos canais digitais; porque, querendo ou não, os canais digitais são a nossa maior ponte”, explica. 

O lado positivo é que, ao encontrá-las e conseguir contato com essas mulheres, elas se sentem representadas e querem participar do projeto. “Criamos um espaço de confiança tão grande que, em um dos grupos de conversa que fizemos, passaram-se duas horas e ninguém havia se apresentado – só contamos várias histórias umas para as outras”, lembra Dalana.  

Em regiões mais próximas à sede do AgTech Garage, como no Sudeste, os grupos já existentes conduzidos pela startup facilitam essa conexão. “São mulheres que conhecem outras mulheres, então a rede acaba ficando muito forte por uma questão física”, pontua. Por isso, a equipe busca se conectar com as outras regiões por meio dos polos regionais.  

Evolução ao longo do tempo

Ao longo dos últimos anos, a análise de Dalana diz que as mulheres no agronegócio têm um perfil mais conectado. “Elas entenderam que o poder está conosco”, diz e acrescenta: “As mulheres estão se fortalecendo, e essa conexão que é provocada pelas próprias redes, pela própria tecnologia de conectividade, faz com que elas se aproximem”. 

E isso inclui as iniciativas conduzidas pelo setor privado, impulsionando a inclusão nesse meio. Várias mulheres hoje fazem parte de grupos, startups etc. “A união entre as mulheres tem sido muito mais tangível”, define.  

“Esse movimento de agregá-las a estes conceitos acaba gerando uma ação de empoderamento, mostrando que elas estão construindo o setor tanto quanto uma equipe numa sala cheia de post-it, fazendo brainstorm”, complementa Dalana. 

Isso também fomenta um movimento crescente de trazer luz ao que essas mulheres fazem em seu dia a dia, dando “o nome aos bois”. Ela explica: “A inovação está presente em todo lugar. Mulheres que inovam no agro não são só aquelas que têm a inovação no nome do cargo – você pode ser uma estrategista em bem-estar animal dentro da propriedade, criando estratégias para a construção de um futuro mais sustentável dentro da pecuária, por exemplo”. 

Inovação, portanto, deixa de ser um aquário para se tornar um ecossistema. “Agora, não se trata mais de apenas construir um ambiente favorável, mas, também, de reparar essas lacunas e ampliar a conectividade dentro do setor”, finaliza.