João Paulo Monteiro, de Cancún (México)
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A pecuária e, em particular, a bovinocultura, tem sido amplamente rotulada como grande emissora de metano (CH4) e importante impulsionadora das mudanças climáticas.
Contudo, ao mesmo tempo em que a produção pecuária cresce, visando atender a demanda mundial de alimentos, não há necessariamente um aumento proporcional da produção de CH4.
Este foi o fio condutor da apresentação do professor da Universidade da Califórnia, Frank Mitloehner, durante o World Nutrition Forum, evento global realizado pela DSM. Em sua palestra, o especialista compartilhou sua preocupação: “Enquanto a população do mundo triplicou, não conseguimos triplicar os recursos naturais para produzir mais alimentos. É óbvio: não temos os mesmos recursos à medida em que cresce a população”.
Atualmente, apenas 1/3 do planeta pode ser destinado ao cultivo de alimentos, sinalizou. “É clara a nossa limitação. Por isso é tão importante fazer o melhor uso possível da terra”, discorreu.
Desta forma, o professor abordou os efeitos reais das emissões de CH4 da produção pecuária sobre a temperatura e propôs um novo pensamento sobre o metano associado à pecuária, necessário para esclarecer mal-entendidos de longa data e, assim, descobrir o papel potencial da pecuária no combate às mudanças climáticas.
Em síntese, o gás metano é emitido pelos bovinos devido à fermentação entérica no processo digestivo desses animais. E, assim como o gás carbônico (CO2) – e também o óxido nitroso (N2O) –, é um dos responsáveis pelo efeito estufa.
Porém, cada um tem suas particularidades, evidenciou Mitloehner. Como detalhou, o metano é um gás de efeito estufa 28 vezes mais potente que o CO2. Porém, enquanto o carbono fica estocado por mil anos na atmosfera, a vida atmosférica do metano é de 10 a 12 anos.
Ao colocar uma lupa sobre o metano, há muito a ser abordado. O professor explicou como se dá o ciclo deste gás emitido pelos ruminantes: “Parte significativa é destruída por processos químicos antes que se acumulem sobre o planeta. Isso porque, ao sofrer uma reação química, o metano é quebrado em moléculas de gás carbônico e água, retornando ao sistema via fotossíntese das plantas, que serão consumidas pelos animais, dando início ao ciclo novamente”.
Em contraponto, as emissões oriundas da queima de combustíveis fósseis são jogadas diretamente na atmosfera, sem chance de compensação. E esse acúmulo de gás carbônico na atmosfera é muito longevo, destacou Mitloehner.
Deste modo, “inevitavelmente teremos aquecimento global”. “A discussão e as propostas apresentadas são para frear esse aquecimento. Mas, ele vai ocorrer”, afirmou ao apontar os caminhos prováveis: “Podemos reduzir as emissões de metano da pecuária, assim como diminuir as emissões relacionadas à matriz energética e depender menos de combustíveis fósseis”.
Assim, enquanto a comunidade científica desenvolve soluções de longo prazo para as emissões de carbono de combustíveis fósseis, a pecuária – ao melhorar continuamente a eficiência da produção e as práticas de gestão – pode ser uma solução de curto prazo para combater o aquecimento global, concluiu o professor.
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