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Panga: depois da tilápia, esta é a nova aposta da piscicultura brasileira

Mercado estabelecido em solo verde e amarelo dá respaldo para escolha da espécie
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Natalia Ponse | [email protected]

Somente em 2023, o Brasil importou aproximadamente 500 milhões de reais em filé de panga do Vietnã, ficando atrás somente da tilápia quando se trata de peixes de cultivo. Já pensou se esse montante de recursos girasse dentro da nossa economia? 

Essa é a nova aposta da piscicultura brasileira, de acordo com a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). A novidade foi revelada durante o lançamento do Anuário Brasileiro da Piscicultura 2024, no final de fevereiro, pelo presidente Executivo da entidade, Francisco Medeiros.

“Quem orienta o produtor nas suas escolhas sobre o que produzir é o mercado: se tem mercado, ele produz”, sintetiza Francisco Medeiros (Foto: divulgação)

A equipe do Portal FeedFood conversou com Francisco para saber mais sobre esta estratégia, começando pelo fato de esta não ser uma espécie nativa. Sobre isso, ele lembra que o agronegócio brasileiro, com exceção da mandioca, é feito totalmente de espécies vegetais e animais exóticas, e, desta forma, essa não seria uma preocupação.

“A biodiversidade brasileira vegetal e animal é uma das maiores do mundo, e nem por isso as utilizamos para produção, por vários motivos. O propósito de oferecer alimento em grande quantidade e preços acessíveis é o que orienta o agronegócio”, explica. 

E olhando para os números da importação de filé da panga do Vietnã, dá para entender que este é um mercado estabelecido no Brasil. “Quem orienta o produtor nas suas escolhas sobre que produzir é o mercado: se tem mercado, ele produz; se não tem, não produz – simples assim”, resume Francisco.

O peixe, de origem asiática, entrou no Brasil há vários anos como peixe ornamental, conta o executivo, e posteriormente o Ibama baixou portaria impedindo o seu cultivo e comercialização em grande escala. Após a tilápia, é o peixe de cultivo mais comercializado no mundo, superior ao salmão, com aceitação em dezenas de países, principalmente nos Estados Unidos.

“Atualmente, no Brasil, temos 92 mil hectares de viveiros com produção de peixes de cultivo. Com o panga, podemos aumentar dez vezes a produção nacional sem a necessidade de construção de novos viveiros”, insere Francisco, complementando: “O mais importante neste processo é que, como a tilápia, o panga é uma commodity – e o produtor brasileiro é especialista nisto”.

Escala produtiva do panga já supera a do salmão, na avaliação global (Foto: reprodução Peixe BR)

Dentre os fatores que chamam a atenção do produtor brasileiro para esta espécie, além do mercado já estabelecido no país, é que este filé não tem espinhas, facilitando o processamento e a comercialização – o consumidor prefere peixes e filés sem espinhas, e a segurança alimentar é fator importante pela decisão do peixe a comprar. 

“Também há um um fator zootécnico. Por esta espécie ter respiração pulmonar, ou seja, respirar o oxigênio do ar, isso facilita maiores densidades de produção do que as praticadas no Brasil atualmente”, diz e confirma: “Com essa característica, podemos multiplicar por 3, 4 ou mais vezes a produção em um mesmo viveiro sem fazer novos investimentos”.

Filé sem espinhas é fator que facilita comercialização do panga, já que o consumidor está mais acostumado a comprar o filé do que o peixe inteiro (Foto: reprodução)

Cenário atual da produção de panga no Brasil

Atualmente grande parte dos municípios produtores de peixes já tem o panga em seus cultivos de peixes em terra. No entanto, Francisco Medeiros conta que a produção ainda é muito pequena. São Paulo foi o primeiro estado a regulamentar a prática, mas a maior produção está na região nordeste. “Isso se deve principalmente ao fato da falta de regulamentação da atividade por parte do Ibama”, indica. 

Para a Peixe BR, resta o posicionamento do Governo Federal quanto à regulamentação. “É fundamental para trazer a esta espécie a segurança jurídica ambiental tão necessária para o desenvolvimento da cadeia produtiva. Esta é uma ação estruturante, e somente a partir dela é que teremos uma base sólida para o desenvolvimento da atividade”, explica o presidente da instituição. Na visão de Francisco, logo após a regularização do panga, deve haver um crescimento rápido e significativo.

”Outras ações, como a promoção do produto no ponto de venda, já começaram a ser executadas. Mas, ainda será preciso produzir algo bem melhor do que está sendo importado”, afirma e finaliza: “Um grande desafio é a industrialização da produção nacional, pois, atualmente, os principais núcleos de produção no Brasil estão na região nordeste, onde não há presença massiva das indústrias desse setor, e o consumidor brasileiro se acostumou a consumir o filé e não comprar o peixe inteiro”.

Dia Nacional da Aquicultura – 20 de março

A FeedFood celebra a data deste ano trazendo essa importante informação para o setor piscicultor brasileiro. Com a consagração da tilápia neste mercado, é estratégico que a atividade volte seus olhos para outras oportunidades e, assim, pavimente seu caminho para os degraus onde se situam outras proteínas já estabelecidas.

Em um país com vasto potencial hídrico e um profissionalismo gigantesco por parte dos produtores e sua indústria, o Dia Nacional da Aquicultura representa um momento para celebrar a produção que tem tudo para alavancar o agronegócio brasileiro a patamares ainda mais altos. Agora, é o momento de pensar estrategicamente e sanar os entraves para a piscicultura verde e amarela não somente decolar, mas também, se manter no alto.

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