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Ovo orgânico x caipira: entenda as diferenças e como são produzidos

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Natália Ponse, da redação

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Uma análise realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, Piracicaba/SP) apontou que o ano de 2017 deve prosseguir com consumo de ovos favorável. A lenta recuperação da economia e o crescimento moroso do poder de compra do brasileiro favorecem a busca pelo ovo como opção de proteína mais em conta.

Ao mesmo tempo, o mercado brasileiro de alimentos orgânicos está crescendo, com taxas que passam de 20% ao ano, conforme registros do projeto Organics Brasil. O índice foi de 25%, em 2015, e agora deve passar de 30%. O setor ainda representa um “nicho” de consumidores que buscam alimentos sem agrotóxicos, o que exige uma organização da cadeia produtiva e do sistema de certificação. Nessa leva de produtos, em se tratando de ovos, entram também os “caipiras”. Mas você já parou para pensar qual a diferença entre eles, já que ambos prezam por uma vivência mais “natural” da ave?

Mas antes de falar das diferenças, vamos às semelhanças. Tanto o ovo caipira quanto o orgânico, para serem caracterizados de tal forma, precisam atender a normas que estabelecem regras e padrões para sua produção. No caso do ovo caipira, a recente Norma ABNT 16437, publicada em 12 de dezembro de 2016, estabelece regulamento para produção, classificação e identificação do ovo caipira, colonial ou de capoeira. Para ser classificado como orgânica, a produção de ovos deve estar de acordo com o estipulado por Instruções Normativas que estabelecem o Regulamento Técnico para os Sistemas Orgânicos de Produção Animal e Vegetal. Para receber o selo de orgânico, a produção deve ser auditada anualmente por uma certificadora credenciada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF).

Outro fator bastante semelhante entre as duas atividades é o manejo das galinhas: em ambos os casos elas são criadas soltas com acesso ao piquete. Existem apenas pequenas divergências quanto à área de piquete disponível para cada galinha ou dentro do galpão, além do tempo em que estas ficam soltas. No manejo caipira, cada galinha tem 0,5 m² de piquete disponível e a densidade de alojamento é de sete aves por m² dentro do galpão; além de ser criada livre de gaiolas para que possa manifestar todas as características naturais da espécie. No caso dos orgânicos, a área de piquetes é de 3 m²/ave em sistema extensivo e 1 m² em sistema rotacionados; o galpão comporta 6 aves/m². As duas produções atendem ao Programa Nacional de Sanidade Avícola e tanto ração quanto água são servidos dentro do galpão, telado com malha menor que uma polegada. As aves são soltas no período da manhã e recolhidas no final da tarde. Em caso de chuvas e frio intenso, as aves permanecem dentro do galpão.

Do ponto de vista do consumidor, ambos podem ter coloração do branco ao vermelho, e ressalvados casos de nutrição específica, os ovos têm composição nutricional semelhantes. A cor da gema pode ser alterada com a adição de corantes naturais, não sendo indicativo de um tipo ou outro. “Apesar de não haver diferenças nutricionais em relação ao ovo industrial, o público tende a se sentir mais seguro já que toda a ração e manejo são livres de agrotóxicos e quimioterápicos”, explica o presidente da Associação Brasileira da Avicultura Alternativa (AVAL, Ipeúna/SP), Reginaldo Morikawa, que também é produtor de ovos orgânicos.

Quanto menor a interferência, melhor. Falando agora das diferenças, tanto Morikawa quanto o vice-presidente da AVAL, Luiz Ricardo Bianchi (que é produtor de ovos caipiras) apontam que ela está na nutrição. As galinhas que produzem ovos orgânicos, por exemplo, consomem milho e soja não transgênicas orgânicas, e têm uma série de restrições quanto aos demais insumos nutricionais. Já as galinhas que produzem os ovos caipiras podem consumir milho e soja transgênicos, sendo que o restante dos insumos atendem somente aos requisitos nutricionais, sem sofrer as restrições da cadeia orgânica. Estas últimas, também, devem ser alimentadas por ração sem o uso de antibióticos ou quimioterápicos de forma preventiva a doenças ou como melhorador de desempenho. Nos dois casos, estes podem ser utilizados apenas para tratar a doença, e não para preveni-la. “As galinhas podem ser de genética industrial ou caipira para a produção de ovos. Nossa empresa decidiu que todos os ovos caipiras de nossa marca serão produzidas por galinhas caipiras pois acreditamos que agrega coerência com o produto final, apesar de ter um custo maior”, explica Bianchi, devendo o alto custo ao preço e pouca disponibilidade de milho e soja orgânicos no mercado.

O vice-presidente da AVAL ainda destaca que a associação está trabalhando pela certificação dos produtos caipiras para garantir ao consumidor final que não está comprando gato por lebre. “Não existe diferença visual entre um ovo caipira e um ovo industrial criado em gaiola maquiado para parecer caipira, por isso, a importância de se conhecer o fornecedor que está produzindo esses ovos”, ressalta.