Natália Ponse, da redação
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Uma reportagem publicada no portal da Revista Superinteressante relata que uma fazenda de criação de gado em Kiserian, no Quênia, teve uma ideia inteligente para aproveitar o sangue dos aproximadamente 120 bois e 400 ovelhas que abate a cada dia: transformá-lo em biogás, que pode ser engarrafado e vendido. O sangue, que até então era jogado fora, passou a ser recolhido e misturado com as fezes dos animais. A mistura se decompõe e produz o biogás, que é bastante inflamável e pode ser usado para alimentar fogões e geradores. A fazenda já usa o gás para gerar a própria energia, mas agora pretende começar a engarrafá-lo e vendê-lo por US$ 8 o botijão – metade do preço cobrado pelo gás tradicional (GLP).
Não é preciso ir tão longe para encontrar destinações responsáveis para esse tipo de produto. No Brasil, para a reciclagem animal, o sangue é utilizado como matéria-prima para farinhas de sangue e produção de hemoglobina em pó e plasma em pó, utilizados como ingrediente na formulação de rações. De acordo com a Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA, Brasília/DF), um dos benefícios desse produto é ser transformado em ingrediente para rações de animais oferecendo uma nutrição rica, além de gerar renda e empregos nas indústrias de reciclagem animal.
O Brasil gera aproximadamente um milhão de toneladas de sangue de aves, bovinos e suínos ao ano. A maior parte dessa matéria-prima é transformada em alimento e ingredientes para a alimentação animal como, por exemplo, a farinha de sangue, gerando aproximadamente 114 mil toneladas desse produto ao ano. Além da farinha, o plasma também é usado na fabricação de embutidos e do soro, confeccionando-se vacinas. A farinha de sangue é aplicada como fertilizante, por causa do alto teor de nitrogênio, e o sangue solúvel é desidratado e aplicado em ração animal e na cola de madeira compensada.
Mas, não foi por todos estes usos que, no início deste ano, o sangue de boi roubou os holofotes. Na madrugada do dia 23 de fevereiro, um caminhão que carregava cerca de 10 mil litros de sangue bovino tombou e derrubou a carga no Rio Vermelho na cidade de Goiás, cidade histórica do Estado, localizada há pouco mais de 140 quilômetros da capital Goiânia.
A Prefeitura da Cidade de Goiás, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, realizou comunicado oficial na época, em que informa sobre a coleta de amostra da água para uma análise mais criteriosa. O órgão também acionou a transportadora para explicações e possíveis responsabilidades ambientais. “Não houve implicações, justamente pelo fato do produto ser orgânico. Em nosso município, casou a apreensão pela surpresa do fato e foi solicitado que a população urbana e rural evitasse a utilização da água do rio, mas após as análises tudo voltou à normalidade”, informou ao portal feed&food a assessoria de imprensa da prefeitura.
O transporte de produtos de origem animal é regulamentado Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017 e pela Instrução Normativa 34 de 28 de maio de 2008, instituída pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF), que engloba todas as etapas da produção, desde a coleta, recepção, processamento, controle de qualidade embalagem, armazenamento, destinação e transporte. Dentre outros termos, a normativa estabelece que as matérias-primas de origem animal devem ser transportadas em veículos apropriados, cobertos, vedados e que possam ser higienizados após a operação.
Ainda de acordo com a ABRA, o risco ambiental de um vazamento desse tipo “depende muito do caso”. É preciso realizar um estudo completo do impacto, como volume de água adicionado ao sangue, velocidade de vazamento (litros por hora), distância entre o incidente e o corpo d’água, e volume de água que passa no rio, temperatura da água, dentre outros dados. De acordo com a prefeitura da cidade de Goiás, após a passagem da mancha, uma nova análise foi realizada comprovando a não contaminação da água.