Natalia Ponse
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A produção de lotes monosexuados de peixes é uma técnica utilizada na produção de várias espécies de corte, quando um gênero apresenta superioridade zootécnica a outro (crescimento e/ou ganho de peso), e para evitar a reprodução descontrolada nos tanques, que ocasiona lotes desuniformes, alta incidências de brigas e falta de apetite por atividade reprodutiva.
O tambaqui, por exemplo, é uma espécie nativa brasileira que apresenta diferença de rendimento zootécnico entre gêneros (machos e femeas). Nesses casos, a criação exclusiva de um gênero superior zootecnicamente aumenta a produção e o rendimento econômico da atividade.
Já a sexagem precoce de peixes é uma técnica relativamente nova e utilizada principalmente na formação e reposição de plantéis. A identificação do sexo ainda na fase juvenil agrega valor à produção, principalmente nas espécies em que a proporção sexual não é 1:1.
Ao se esperar o plantel atingir idade adulta (peixes maduros) para a sexagem, o laboratório pode se deparar com prejuízos pela detecção tardia de excesso de um gênero em detrimento do outro. Um importante exemplo entre as espécies brasileiras é o pirarucu, cuja sexagem visual (praticada atualmente) é tardia e de eficiência inferior a 80%.
Para auxiliar o setor nesta missão, a Embrapa, como parte dos lançamentos divulgados em celebração aos 50 anos da estatal, lança uma tecnologia de sexagem precoce dos peixes, baseada em marcadores moleculares do DNA associados ao sexo, utilizando a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR, na sigla em inglês).
O teste, desenvolvido pelos pesquisadores da Embrapa em parceria com cientistas franceses, alemães e escoceses, identifica machos e fêmeas por meio de análise rápida do DNA. Diferente dos métodos convencionais de identificação do sexo, o teste molecular pode ser aplicado em peixes jovens (alevinos).
Segundo a Empresa, com isso será possível comercializar animais juvenis com o sexo definido, facilitando a produção e agregando valor ao produto. Em segundos, uma amostra de 0,5 cm da nadadeira caudal do animal é coletada. Uma vez a amostra no laboratório, o resultado do sexo é gerado em poucas horas.
Até o momento, o teste de sexagem genética está liberado para pirarucu (realizado na Embrapa Amazônia Ocidental) e para tambaqui (realizado na Embrapa Pesca e Aquicultura). O anúncio foi feito durante coletiva para a imprensa, na última segunda-feira (22), pelo presidente da Embrapa, Celso Moretti.
Quem cria peixes como o pirarucu e o tambaqui enfrenta a dificuldade de identificar machos e fêmeas para formação de casais e seleção de reprodutores para formação de plantel. Isso porque não existem diferenças visuais marcantes ou precisas entre os sexos nestas duas espécies de peixe.
Além disso, um dos ganhos da nova tecnologia é facilitar e agilizar essa etapa, permitindo que a identificação do sexo dos peixes seja feita precocemente. Assim, os criadores de alevinos poderão formar lotes de machos e de fêmeas separadamente, de acordo com os objetivos de sua produção.
“Já sabendo qual é o seu grupo de fêmeas, fica mais fácil de realizar investimentos de forma assertiva para a multiplicação dessas espécies”, conta Moretti, continuando: “Em outras técnicas você acaba gastando muito dinheiro sem ter necessidade. Com a técnica de DNA você antecipa esse conhecimento”.