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No “PDCA” do confinamento, porque o “C” é tão importante?

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Se for para arriscar um palpite objetivo para explicar a diferença entre o sucesso ou fracasso no confinamento, o mais evidente seria a capacidade decisória. É a antecipação tanto aos problemas quanto às oportunidades que surgem. Para se elaborar uma decisão adequada, coerente, é preciso estabelecer critérios no projeto, que vão desde o planejamento (P); desenvolvimento ou acompanhamento (D), controle ou checagem (C) e ação corretiva ou avaliação (A). Os critérios de avaliação são definidos no plano e devem ser seguidos à risca, conforme planejado.

A avaliação não pode ficar para o final do projeto. É inviável descobrir apenas no final do período que os animais de determinado curral ganharam cerca de 20% a 30% menos peso do que o previsto. Tal problema precisa ser antecipado, corrigido antes que o mau resultado econômico se torne irreversível. É preciso acompanhar o ganho de peso, o consumo da ração, a sobra de cocho, a qualidade de mistura, o escore de condição corporal dos animais, a disponibilidade e qualidade de água, o estatus sanitário, entre outras variáveis.

Depois de finalizado o período a avaliação do confinamento é necessário elaborar um relatório que faça inferência sobre desempenho, custos, problemas, medidas positivas e qualquer outra observação que se faça oportuna. Independente do fato do resultado ter sido bom ou ruim, o produtor precisa ter em mãos todas as variáveis que atuaram negativa ou positivamente em seu confinamento. Só assim será possível basear decisões adequadas no próximo ciclo.

Parece até “primário” colocar essa questão da forma com que está sendo colocada, mas o fato é que muitos confinadores não medem a eficiência e qualidade dos processos de uma das atividades de maior demanda de capital na pecuária.

Para planejar é interessante visualizar todo o desenvolvimento das atividades e os processos que influenciam os resultados. Para tanto, o uso dos diagramas modelo “espinha de peixe”, são sempre bem didáticos, conforme pode ser visualizado na Figura 1.

Figura 1. Ilustração dos principais processos do confinamento. Fonte: Athenagro Consultoria

Pela figura, é possível organizar todas as variáveis técnicas e econômicas que atuam sobre o grande processo, que é terminar lotes de bovinos no cocho. Essa estruturação pode ser usada tanto para organizar o orçamento como para, posteriormente, relatar os custos e os resultados do sistema de produção em questão.

Observe que no caso são apenas listados os principais processos, que por sua vez serão compostos por outros processos menores e, assim por diante. Nada pode furar. É como imaginar uma corrente em que um dos elos esteja comprometido.

De nada adiantará formular a melhor dieta se o processo de manuseio e distribuição dos ingredientes não for adequado. O mesmo conceito se aplica para a qualidade nutricional dos alimentos e dos nutrientes neles contidos. Se não corresponderem ao que se espera no modelo matemático de formulação de custo mínimo e lucro máximo, os ganhos esperados não se confirmam e, com isso, todo o cronograma de abate poderá ser comprometido.

E por aí vai. Tudo faz parte de uma corrente em que nada pode dar errado. Sendo assim, conhecendo essa corrente, é possível estabelecer um plano para garantir que os elos se mantenham firmes durante o período de confinamento. Tudo pode ser usado como decisão.

Um exemplo disso refere-se a análise bromatológica de silagens no momento do fornecimento. Especialmente nos confinamentos menores, muitos produtores acreditam que não há razão para analisar a silagem, pois há pouco tempo hábil de decisão. Faz até sentido, dependendo do manejo do volumoso na propriedade. No entanto, com a análise em mãos, mesmo que haja algum comprometimento da qualidade da dieta pela não conformidade do volumoso, algumas medidas ainda podem ser implementadas para evitar maiores despesas e, consequentemente, maiores prejuízos.

E, tão importante quanto evitar problemas no confinamento em andamento, as análises permitem compreender e, inclusive, planejar melhor a produção de volumosos e a própria dieta do ano subsequente. A avaliação exerce grande influência na decisão do ano seguinte.

Outra questão de extrema importância, e não relacionada na Figura 1, é o caso dos colaboradores ou funcionários que executarão os processos. Não compõem a figura pelo motivo de que são igualmente importantes em todas as etapas. Sem o comprometimento e o treinamento prévio, nenhuma das atividades será executada com a qualidade que se permita garantir o resultado planejado.

Em relação à checagem, esta implica, basicamente na comparação entre o plano traçado e os resultados obtidos. A necessidade de um plano de checagem eficiente é grande, pois de nada adianta um bom planejamento se a execução não for capaz de cumprir o plano.

E, por incrível que pareça, a checagem é o componente mais complicado de se administrar em todo o planejamento. Um mês depois, ao pesar os animais, é fácil concluir que o item de verificação “peso do animal”, não atendeu ao planejado. No entanto, neste momento, o prejuízo de um mês já foi consolidado, pois não há mais o que ser feito. É por isso que os itens de verificação, ou de checagem, precisam ser acompanhados diariamente, ou mais tardar, a cada 3 dias.

Para que seja viável, a empresa precisa estabelecer um sistema eficaz de informação. O que acontece no campo tem que chegar, detalhadamente, nas mãos dos gerentes ou diretores. Os gerentes ou diretores, depois de analisarem as informações, precisam transformá-las em decisões. As decisões, por sua vez, precisam ser implementadas a campo.

Depois de implementadas, novas informações são geradas, e deverão novamente passar por todo processo. Trata-se de um ciclo de informação-ação que ocorre de acordo com o esquematizado na Figura 2.

Figura 2. Lógica do ciclo de informações.

Como em qualquer ciclo, não pode haver quebras ou ineficiência em nenhuma das etapas. Assim, o planejamento deve prever como as informações de campo serão anotadas, transportadas, recebidas pelo escritório, interpretadas e apresentadas para quem detém a capacidade de transformar uma informação em decisão. Ou seja, transformar um número em uma ação ou um conhecimento.

Sendo assim, qualquer plano de coleta e análise de dados que se estabeleça, o objetivo final deve ser chegar a uma decisão, nada mais. Armazenar os dados e não fazer nada com eles não agrega valor nenhum ao processo.

A dificuldade da coleta e transporte de informações é grande, por se tratar de uma etapa em que tudo acontece no campo, com todas as dificuldades que isso envolve. Geralmente, quem administra as etapas de campo do processo são as pessoas de menor instrução dentro da empresa, ou seja, o funcionário operacional da rotina, o vaqueiro, o tratorista, o capataz, o peão, etc. Por isso, o treinamento e a motivação, neste item, são extremamente importantes. Se não derem importância devida à necessidade de anotações, dificilmente os gerentes poderão contar com informações confiáveis e que permitam a tomada de decisão em tempo hábil.

Como exemplo desse fato, a Figura 3 demonstra a checagem de pontos críticos na rotina de um confinamento. Observa-se que são atribuídas “notas” para o processo que se deseja avaliar ou medir e, com isso, é possível corrigi-lo em tempo hábil, de forma que o mesmo não venha a comprometer o resultado do sistema.

Figura 2. Checagem dos pontos críticos na rotina do confinamento.

Planejar e implementar metas de melhoria é a razão fundamental de uma boa gestão. Por isso há a necessidade de se conhecer a fundo o que acontece na rotina operacional do confinamento.

Quando o produtor mantém os dados organizados, assim como os indicadores técnicos, é possível antecipar-se aos fatos, aproveitando melhor os momentos favoráveis e evitando erros nos momentos desfavoráveis.

Por fim, o desafio da checagem é criar um sistema onde os dados de campo sejam extremamente simples de serem coletados e analisados. As conclusões precisam ser rápidas, sem a necessidade de se estudar todas as informações contidas nos relatórios, mas principalmente, de serem fáceis de implementação.

Autor: Rogério Coan, Zootecnista – Doutor em Produção Animal – Diretor da Coan consultoria – rogerio@coanconsultoria.com.br