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Mulher rural: evolução e reconhecimento

José Zeferino Pedrozo é presidente da Faesc e do Senar/SC
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Foto: reprodução

Um fato que precisa ser festejado é a crescente presença da mulher no universo rural, não mais apenas nas atividades laborais, mas, também, na gestão e no comando dos estabelecimentos agrícolas. Esse fato foi aferido pelo IBGE que constatou um crescimento de 38% de mulheres à frente das empresas rurais nos últimos dez anos. É a comprovação de que o papel social e econômico da mulher ganha cada vez mais expressão no Brasil contemporâneo, sendo inexorável que ela vá assumir atividades cada vez mais relevantes e ocupar cargos de maior complexidade – nos sindicatos, nas cooperativas, nas empresas, nos colegiados, no setor privado, no setor público ou no chamado terceiro setor.

Essa evolução não é gratuita, nem caiu do céu. É o resultado do reconhecimento de que a mulher rural exerce um papel fundamental, não só na organização familiar, como também no sucesso da produção econômica. As mulheres renovaram e valorizaram as atividades sindicais e cooperativistas. Seu mundo não se circunscreve mais somente na vida familiar, na condução da casa e na educação dos filhos, mas agora ajuda a cuidar da gestão e decidir sobre investimentos.

É um processo em construção em todos os setores da vida social e econômica, mas é evidente que a mulher busca um status de plena igualdade com o homem nas zonas rurais. É inegável que hoje, graças em grande parte ao associativismo e as mudança que movem as sociedades modernas, ela é mais valorizada, reconhecida e respeitada – e, portanto, resgatando sua dignidade. 

Vários movimentos que brotaram na sociedade foram beneficiando essa jornada emancipadora das mulheres rurais. Um dos mais importantes movimentos talvez tenha sido o combate e o repúdio à violência doméstica, um crime presente em muitos lares. E nesse aspecto, em defesa das mulheres de todas as classes e de todas as ocupações, a lei 11.340/2006, também chamada de lei Maria da Penha, foi um dos maiores avanços. É o mais eficiente remédio legislativo-penal para coibir e prevenir a violência familiar contra a mulher ao estabelecer medidas para a proteção delas que são vítimas, muitas vezes, dentro das suas próprias casas. Lembrando que é considerada violência doméstica qualquer ação ou omissão que provoque, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, dano moral ou dano patrimonial, e morte.

O público feminino rural tem sido alvo e prioridade das ações das entidades do agronegócio, em especial, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). As ações estão orientadas para duas direções: a saúde e a capacitação profissional. Levar serviços de assistência à saúde da mulher rural é um desafio muito grande. A Organização Mundial de Saúde definiu que a saúde reprodutiva compreende não só o planejamento familiar, mas também a educação sexual, a maternidade sem risco, o controle das doenças sexualmente transmissíveis, a atenção a complicações do aborto, tendo, portanto, uma abrangência e um impacto muito mais amplo na vida familiar e no desenvolvimento humano do que apenas a concepção.

A assistência à saúde das mulheres rurais brasileiras vem apresentando avanços nas últimas décadas, mas, ainda são necessários investimentos e decisão política para enfrentar os inaceitáveis coeficientes de mortalidade materna, do câncer de colo uterino e de mama, a violência doméstica e sexual, as elevadas taxas de gravidez na adolescência e o aborto em condições inseguras.

Para mudar este cenário, o Senar criou o programa Útero é Vida para prevenção do câncer do colo do útero que funcionou com muito sucesso até 2016, ano em que foi aperfeiçoado e passou a ser chamar Programa Especial Saúde da Mulher Rural. A diretriz é promover a diminuição de fatores que afetam diretamente a saúde sexual e reprodutiva da mulher rural, numa perspectiva de educação, focalizando a prevenção e o diagnóstico do câncer do colo do útero, contribuindo para o aumento da autoestima e qualidade de vida. O objetivo é estimular o aumento da autoestima e os cuidados com a saúde das mulheres do meio rural. Enfim, busca gerar oportunidades de educação e prevenção, levando conhecimentos que possibilitem a mudança de atitudes favorecendo melhor qualidade de vida.

Em outra direção igualmente importante surgiu o programa Mulheres em Campo voltado para a capacitação profissional e empresarial. Estimula as mulheres a acreditar em si, tornarem-se grandes líderes rurais e desenvolverem as habilidades femininas capacitando-se na gestão de negócios agropecuários. É uma iniciativa que faz com que as mulheres pensem além e vejam o quão inovadoras podem ser dentro de suas propriedades.

Em homenagem a essa figura humana emblemática, em 1995 a ONU instituiu o Dia Internacional de Mulher Rural, comemorado sempre em outubro, reconhecendo que a mulher rural representa um enorme capital humano, de extraordinária importância para as famílias, as comunidades, os estabelecimentos rurais e as empresas que merece apoio, estímulo e proteção.

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