Considerado um dos maiores ícones da avicultura brasileira, Zoé Silveira d´Avila faleceu na última sexta-feira (24), em São Paulo, aos 101 anos e por causas naturais. “Doutor Zoé”, como era conhecido, nasceu na Fazenda Aurora, Distrito de Jari, no município de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul, em 27 de maio de 1921.
Doutor Zoé deixa os filhos Eduardo, Yara, Denise e Daniele; nora, genros, sete netos e quatro bisnetos.
O velório é realizado no Cemitério do Murumby, das 10h às 13h, neste sábado (25). O local fica na Rua Dep. Laércio Corte, 468, Morumbi, São Paulo (SP). O e-mail para condolências é eduardo9davila@gmail.com.
COMO UM MÉDICO FOI PARAR NA AVICULTURA
Médico, clínico e cirurgião formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Zoé Silveira d’Avila ingressou na empresa Sadia Concórdia, na cidade de Concórdia (SC), em 1952, onde trilhou uma carreira marcada pela fixação e pelas realizações em controle de qualidade e inovação tecnológica.
Antes disso, atuou como médico na cidade. Recém formado, recebeu convite para mudar-se para Santa Catarina, fixando-se em Concórdia em 1951, onde, em menos de duas semanas já era médico no maior hospital local, responsável pelo posto de saúde do município, além de clinicar nas cidades vizinhas.
Como clínico e cirurgião nos anos 50 numa região interiorana, exerceu intensamente a Medicina ao cuidar das mais variadas enfermidades e cirurgias, o que lhe conferiu grande experiência científica e fama na região, tendo sido diretor do Posto de Saúde, diretor dos Hospitais São Pedro e São Francisco em Concórdia e Delegado de Higiene e diretor do Hospital Santo Antonio em Itupimirim.
“Com a simples presença do doutor Zoé já é metade da cura do paciente”, costumavam afirmar aqueles que passavam por suas mãos e que por ele eram medicados.
Em abril de 1953, casou-se com Odylla, a quarta filha de Attilio Fontana, fundador da Sadia e na época prefeito de Concórdia. Sua companheira faleceu recentemente, em maio de 2022.
Antes de chegar a altos cargos na Sadia, entrou como médico, criando pioneiramente a assistência médica aos funcionários e seus familiares. Zoé também experimentou uma breve carreira política, sendo vereador em Concórdia por duas legislaturas.
Em sua homenagem, em 2002 foi inaugurada em Concórdia, numa parceria entre Sadia e Prefeitura local, o Centro Municipal de Educação Infantil Dr. Zoé Silviera D´Ávila, com o objetivo de beneficiar principalmente filhos dos funcionários da BRF, reverenciando o médico que primeiro prestou atendimento aos funcionários da municipalidade.
Em 1962, após insistentes convites de Attilio Fontana para ingressar de vez na vida empresarial, Zoé largou a medicina e tornou-se o responsável por toda a área técnica industrial da Sadia.
UMA BRILHANTE TRAJETÓRIA NA AVICULTURA
Ingressou como diretor de Higiene e Produção e, como diretor Industrial, iniciou uma jornada contínua de medidas de controle de qualidade, aperfeiçoamento sanitário e inovações tecnológicas.
Já de início introduziu técnicas para coibir a entrada de insetos na área fabril, implantou protocolos de higiene para funcionários, introduziu técnicas de fabricação e embalagem totalmente isentas de manipulação e promoveu reformas em linhas de produção, modernizando plantas fabris. Em 1964, com a criação do Conselho de Administração da Sadia, Zoé passou a integrá-lo.
Em 1973, mudou-se para São Paulo, assumindo a tarefa de supervisionar e implementar inovações técnicas em todas as fábricas da Sadia, que àquela época já havia extrapolado as fronteiras de Santa Catarina e se expandiu para vários Estados brasileiros. O médico passou então ao cargo de Coordenador Geral de Produção do Grupo Sadia e no limiar dos anos 80 passou a Superintendente Geral de Produção.
Por sua formação e vocação, obcecado por controle de qualidade e higiênico-sanitário da produção, era ávido por estar sempre na vanguarda tecnológica e marcou sua trajetória no Grupo Sadia por elevar a produção alimentícia e os processos de fabricação aos mais altos patamares de qualidade.
Implantou avançados laboratórios e técnicas de análises inovadoras, mantinha integração constante com universidades, institutos de pesquisa, órgãos do governo e entidades especializadas do ramo agroindustrial, em tecnologia de alimentos e produção de cárneos no Brasil e no exterior.
Trazia técnicos do exterior para intercâmbio tecnológico e promovia a ida de técnicos da empresa para outros países, a fim de estagiarem e absorverem novas tecnologias nos centros mundiais de referência em produção de alimentos, além de incentivar e fazer parceria com fabricantes de equipamentos para a criação de modelos e processos fabris inovadores.
Zoé Silveira d´Avila foi vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Sadia (hoje BRF S.A.) de 1980 a 1987 e presidente do mesmo de 1987 a 1992. Voltou a fazer parte do colegiado de 1998 a 2001. Presidiu também a então Fundação Attilio Francisco Xavier Fontana, entidade dedicada à complementação previdenciária dos funcionários da empresa, hoje BRF Previdência, de 1983 a 1996.
Também foi vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias Alimentícias (ABIA), de 1982 a 1995; e Conselheiro da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Em 1996 assumiu a presidência da então União Brasileira de Avicultura (UBA) – atualmente ABPA –, tendo sido seu presidente por seis mandatos consecutivos, até 2008, acumulando a vice-presidência da Associação Latino Americana de Avicultura (ALA).
ÍCONE DA AVICULTURA MODERNA
O diretor-Presidente da Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia Avícolas (FACTA), Ariel Mendes, conta que trabalhou na UBA com Zoé por mais de dez anos e que ele teve um papel muito importante na Sadia, empresa que prezava pela qualidade.
“Pelo fato de ser médico, tinha a noção da necessidade de aspectos sanitários e no cuidado da saúde como um todo”, detalha. “Ele levou isso para a UBA como um líder associativista, principalmente pela importância de primar pela qualidade. Foi um dos responsáveis pelo trabalho de prevenção de Influenza Aviária. Ele tinha noção dos impactos na avicultura brasileira caso ocorresse a enfermidade no Brasil”, diz.
De acordo com Mendes, Zoé mostrou para a comunidade, através de um amplo trabalho de comunicação, o sistema de prevenção e que todos se preparassem para doenças como a Influenza Aviária. “Foram contratados à época três jornalistas para fazer um trabalho junto aos formadores de opinião, como médicos, infectologistas e mostramos que era baixo o risco para humanos”, afirma.
O receio, segundo Mendes, era que, caso fosse registrada a Influenza Aviária, por exemplo, no Brasil, profissionais ficassem com receio de entrar nas plantas frigoríficas. “Foram realizados workshops no país todo e, em um trabalho pioneiro, levamos apresentações sobre sanidade e mostramos a importância da avicultura para o País. Zoé foi um ícone da avicultura moderna”, afirma Ariel Mendes.
“Neste momento, a FACTA presta toda a homenagem e deseja apoio e força a toda a família”, diz.
Fonte: AI, adaptado pela equipe Feed&Food.
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