Filho de pequeno produtor, Irineo da Costa Rodrigues cresceu assistindo a evolução da atividade na região da Campanha, no Rio Grande do Sul. Por essa vivência no campo, quando iniciou os estudos, foi matriculado no colégio agrícola, e ali permaneceu por sete anos.
Ao longo deste período, teve um contato muito próximo com o cooperativismo – além de ver seu pai fazendo parte do movimento como associado, durante os anos no colégio fez parte de uma cooperativa escolar: “Naquela época já se falava desse assunto – que era uma forma adequada de reunir os pequenos agricultores para buscar a sua viabilidade”.
E ter conhecimento disso tão cedo, relembra, foi algo importante para sua carreira. Após completar o período do ginásio interno, onde finalizou o técnico agrícola, Irineo teve que escolher uma profissão. E naquele momento já sabia o caminho que iria percorrer: seguindo os passos do pai, escolheu ser agricultor: “Então, cursei Agronomia e continuei na atividade”.
Nesta jornada, ao iniciar sua carreira, buscou se aperfeiçoar para ter condições de, mais tarde, ser produtor. A primeira experiência profissional foi dentro do Serviço Público do Paraná, na antiga Emater, hoje mais conhecido como Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR).
“Quando saí do Rio Grande do Sul para trabalhar no município de Matelândia (PR), me engajei no trabalho junto à LAR, antiga Cotrefal. O objetivo era dizer aos agricultores que eu atendia sobre os benefícios de eles serem sócios de uma cooperativa, pois teriam segurança na produção, bons insumos e assistência técnica”, destaca.
E depois desse período, Irineo vivenciou diversas experiências até ocupar a presidência na LAR. Neste bate-papo, ele conta como foi esse encontro e como está a atual estrutura. Além disso, agora como presidente do Conselho Diretivo da ABPA, ele compartilha as expectativas do novo cargo. Confira a entrevista completa a seguir.
Revista Feed&Food – Para começar Irineo, como foi esse encontro com a Cooperativa LAR? Irineo da Costa Rodrigues – Um ano depois que eu deixei o serviço público, assumi a presidência da Frimesa. Fiquei entre presidente e vice-presidente dois anos e meio. Depois de 84 a 86, ocupei o cargo de diretor-secretário da LAR – diretor-secretário é como se fosse um vice-presidente, mas a cooperativa enfrentava alguns desafios naquela época e acabei ficando de 87 a 89. Depois voltei para as minhas atividades de arrendamento de terra. Neste período, eu também realizava consultorias em alguns projetos que eram solicitados pelo Banco do Brasil, foi quando retornei para a minha atividade profissional.
Mais tarde, em 1990, quando o presidente Collor assumiu, passei a ser o presidente do atual Sicredi Vanguarda, com sede em Medianeira (PR), e ali fiquei por 10 anos. E no ano seguinte, assumi a presidência da cooperativa. Neste momento, procurei dar um impulso para ela se desenvolver e cumprir o seu papel de fomentar e melhorar a vida das pessoas.
Atualmente, a LAR tem em torno de 13.700 associados e 23.500 colaboradores. Como o próprio slogan diz, a cooperativa é feita de gente. O que você prioriza dentro da sua gestão para valorizar todo esse capital humano? Sigo muito a doutrina cooperativista e os sete princípios, onde o quinto princípio da educação, para mim, é algo que faz muito sentido para continuar sendo uma cooperativa raiz. Então, o nosso propósito é valorizar as pessoas e investir nelas, porque uma cooperativa é feita de pessoas, ela é uma sociedade de pessoas, não é de capital, o que a diferencia das empresas mercantis ou empresas de sociedade anônima.
E a LAR teve um progresso muito grande por investir no quadro de funcionários. Hoje todos os executivos da LAR incentivaram, desde jovens, colaboradores que estudaram muito para ocuparem os cargos mais importantes hoje.
Também há um trabalho forte com a família associada, não falando só com a sociedade, mas com a família, porque muitas vezes a pessoa mais preparada na família nem sempre é o associado, pode ser a esposa ou um filho maior que já estudou.
Então, existe também um trabalho intenso de preparar, levar conhecimento às famílias associadas e aos agricultores. E com as mulheres, nosso objetivo é prepará-las para o mercado profissional, compreendendo melhor mercados, tecnologia e tudo mais. E o sucesso da LAR se deve muito a ela continuar investindo em educação. É o que deu muito certo. E é o que as cooperativas têm que fazer.
Essa valorização da família tem destacado muitas mulheres, as quais possuem funções importantes dentro da cooperativa, como no quadro social. Atualmente, dos seis associados, duas associadas estão no Conselho Fiscal, portanto um terço do nosso quadro do Conselho Fiscal é presidido por mulheres, mas isso pelo reconhecimento que é feito a elas, não que seja indicado pela diretoria. É um processo de eleição importante, democrático e por voto secreto, no qual cresce a presença das mulheres.
E mais um dado: das nossas seis divisões de gestão, três divisões são presididas por mulheres, ou seja, 50% de todo o quadro de gestores da LAR, a presença das mulheres, inclusive liderando complexos industriais, é muito forte.
Ainda falando sobre a estrutura da LAR, os cortes de frangos estão habilitados para chegar a mais de 80 países, e dentro do Brasil, os produtos chegam a todos os Estados brasileiros. Para manter o alto padrão, a combinação pessoas mais inovação é essencial nessa jornada, não é mesmo? Quais foram os principais investimentos da cooperativa nos últimos anos para modernizar as estruturas? A LAR viu na pecuária de pequeno porte, como a suinocultura e a avicultura, uma necessidade de desenvolver essas atividades para diversificar as pequenas propriedades – que não se viabilizariam só com a produção de soja e milho.
Soja e milho viabilizam as grandes propriedades americanas, do Centro-Oeste brasileiro, da Argentina ou do Paraguai. No Oeste do Paraná, na região Sul do Brasil, pequenas propriedades têm que ter uma diversificação e a melhor diversificação que existe é na pecuária.
Por isso, a LAR incentivou a produção leiteira, a suinocultura e a produção de ovos. Mas o grande impulso que a cooperativa teve foi em 1999, quando começou a abater frango.
Hoje, a LAR cresceu muito. Abate 1 milhão e 100 mil frangos por dia. É a terceira maior empresa de abate de frango do País e a quarta maior da América Latina A LAR é, portanto, a quarta a nível de América Latina e a terceira a nível de Brasil.
A LAR fez uma avicultura com muito preparo técnico e estudo. Também desenvolvemos a marca LAR, que é uma marca consagrada. Por isso, nós exportamos para mais de 90 países.
Estamos presentes em todos os Estados brasileiros. E como embaixador da nossa marca, temos o Michel Teló, que inclusive nasceu em Medianeira.
Junto a tudo isso, a LAR promove o seu produto, a sua marca, participando de quatro feiras anuais no Brasil e de duas feiras internacionais, a de Dubai, no meio de fevereiro, e, de forma alternada, uma feira Sial da França, que ocorrerá agora, em 2024, e, no ano seguinte, será a feira de Anuga, na cidade de Colônia, na Alemanha.
E também participa de outras feiras, como já ocorreu no México, na China, mas aí não com o estande próprio, mas junto da ABPA, que abre um espaço para os associados poderem participar desses encontros também.
Isso tem uma importância enorme. Então, ter escala, volume de abate, padrão de qualidade, inovação e uma presença forte no mercado externo, inclusive, rotineiramente visitando clientes no exterior, como estou fazendo nesta semana (20/05), visitando diversos clientes nossos na Coreia do Sul e também na China, é o que torna a LAR uma grande cooperativa.
E, no próximo ano, estaremos visitando clientes no Japão e Vietnã. Em 2023, por exemplo, visitamos clientes na Alemanha e na Inglaterra. Então, estamos sempre em contato com os clientes por meio de feiras, ou mesmo recebendo-os na LAR ou visitando em seus mercados. Estamos presentes nos mercados mais exigentes. Então, os negócios têm sido um grande sucesso.
É importante salientar que todo esse trabalho da cooperativa impacta positivamente na sustentabilidade. Há geração de emprego e impactos na comunidade. Na parte ambiental, quais são as principais iniciativas? A LAR não é diferente de outras cooperativas, ela se importa com o território onde está. O sétimo princípio do cooperativismo é o interesse pela comunidade. Pode ocorrer um momento mais difícil no mercado, mas as cooperativas nunca saem do seu território, nunca abandonam, nunca procuram reduzir o seu impacto positivo.
Então, realmente, a LAR impacta muito a região onde está. Somos os maiores empregadores em diversos municípios onde atuamos. Somos a cooperativa que mais emprega no País, em torno de 23.500 funcionários, possuímos quase 14.000 associados e mais 100 mil pessoas direta e indiretamente são impactadas positivamente no território onde a LAR está instalada.
E o que é o importante; dando condições para que as pessoas possam evoluir de forma social, econômica e intelectual.
Agora, ao assumir uma cadeira na ABPA como presidente do Conselho Diretivo, quais serão suas prioridades dentro da nova ocupação? Eu já participava desse conselho como um dos conselheiros, admiro muito o trabalho que é feito pela ABPA, e foi uma escolha, podemos dizer, consensual, ou assim, de forma unânime, de poder estar, nos próximos dois anos frente a esse conselho, cujo trabalho é sempre continuar levando harmonia a todos os associados da entidade.
A associação é uma das maiores entidades do País na área da proteína animal, especialmente na suinocultura e avicultura de corte e postura. Então, espero dar continuidade às ações do antigo presidente, Leomar Somensi, fortalecendo o trabalho do presidente executivo, Ricardo Santin, e toda a sua equipe.
E, por fim, quais são suas expectativas em relação ao crescimento dos setores de aves e suínos no Brasil? Quais são as principais oportunidades daqui para frente? Tanto a ABPA quanto o governo brasileiro têm procurado abrir mercados para esses setores que, de fato, estão tendo muito sucesso.
Então, na medida em que houver abertura de mercados, o setor pode se desenvolver mais, pois já cresceu de forma significativa. Ao mesmo tempo, precisa se preocupar para não ter um descontrole na produção, ou seja, não deixar faltar o produto no mercado brasileiro. A exportação é importante, sem dúvidas, mas é preciso haver uma preocupação com o mercado local de abastecimento e de produtos de qualidade.
Mas o mundo precisa da proteína brasileira, então, abrir mercado é um papel que o governo está fazendo muito bem em conjunto com a ABPA e Apex-Brasil. Esse trabalho em conjunto ajuda a consolidar mercados, porque as atividades pecuárias trazem um resultado financeiro e econômico extraordinário para os produtores brasileiros e para o nosso País na geração de divisas e riquezas internas.