Natalia Ponse | [email protected]
As enchentes que acometeram o Rio Grande do Sul no início deste mês impactam todo o País. Brasileiros de todas as regiões se unem para enviar suas doações, atuar como voluntários e até mesmo disseminar e esclarecer informações sobre o ocorrido.
O estado, responsável por produzir 11% da carne de frango, encaminha sua produção para consumo nas gôndolas do próprio RS e para a exportação. E os avicultores, assim como tantos outros empresários e munícipes, foram acometidos pela destruição da água barrenta.
A prefeitura do município de Tupandi (RS) divulgou, por exemplo, a situação de Antenor Brum, de 55 anos de idade. Ele viu o deslizamento de terra levar todo o seu aviário de frango de grande porte na localidade de Monte Belo. A estrutura, de 130 metros, estava composta por 14 mil frangos que haviam sido trazidos em torno de 40 dias atrás. Infelizmente, todo o lote foi perdido.
“A vida precisa seguir, mas é um choque para todos nós que perdemos tudo em pleno lote. Radicalmente não estarei realizando mais novos investimentos, está cada vez mais difícil para nós agricultores que ainda buscamos trabalhar com a terra. Prejuízos que certamente também afetam toda uma economia que não contará mais com esses empreendimentos”, disse o avicultor, segundo a publicação da prefeitura.
Essa história, infelizmente, se repete – em maior ou menor proporção – pelo Rio Grande do Sul. No dia 3 de maio, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgou que as fortes chuvas interditaram rodovias e pontes, comprometendo o transporte que atenderia à demanda em parte das regiões sul-rio-grandenses e também de fora do estado. “Além disso, produtores relatam dificuldade em adquirir insumos, como rações e também embalagens e caixas, no caso de ovos. Relatos de agentes consultados pelo Cepea também indicam que algumas propriedades de produção suinícola e avícola foram danificadas, e agentes ainda estão à espera de que a situação seja normalizada para que os prejuízos sejam calculados”, pontua o comunicado.
O QUE SERÁ PRECISO PARA SUPERAR?
A Organização Avícola do Estado do Rio Grande do Sul, composta pela Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) e Sindicato da Indústria de Produtos Avícolas no RS (Sipargs), emitiu uma nota na última quarta-feira (08).
“As indústrias que não foram afetadas ou possuem filiais em outros estados têm colaborado consideravelmente com a doação de alimentos para os abrigos e regiões mais afetadas. Sobre os prejuízos, ainda estamos em fase de diagnóstico, o que nos impossibilita fazer um anúncio com mais exatidão”, comunica a organização, reforçando que, nos últimos dias, o setor vem trabalhando e apoiando ações de salvamento das vítimas, tanto dos trabalhadores da avicultura quanto de pessoas da sociedade como um todo.
Mas, o que será necessário para dar sequência à avicultura no Estado? De acordo com as entidades, o setor precisará de recursos, linhas de créditos especiais para reestruturação e aquisição de matéria prima e capital de giro para manter a atividade. “Por outro lado, também estaremos dando total atenção aos avicultores abalados por essa catástrofe que atingiu o nosso Estado. Foram perdas expressivas de aves, material genético, equipamentos e estruturas”, complementa a nota.
O Vale do Taquari, área seriamente afetada em um curto espaço de tempo, é uma região que contém um alto número de plantas de aves, as quais foram parcialmente ou totalmente destruídas. Além disso, os grupos pontuam que a localidade também precisará de um plano especial para recomposição, reconstrução e retomada da vida socioeconômica das indústrias, trabalhadores e suas famílias.
“Continuaremos dando suporte ao setor avícola, com ações assistenciais e de amparo aos voluntários e ao governo do Estado para que juntos possamos sair o mais breve possível dessa situação. Estamos mobilizados para a superação desta tragédia, e precisamos todos unidos, iniciativa privada, parlamento e demais lideranças e autoridades, somarmos com os pleitos do governo estadual junto ao governo federal para que tenhamos um retorno efetivo, robusto, justo e emergencial ao estado do Rio Grande do Sul”, finaliza o comunicado.
ANTES DA ENCHENTE, JÁ ESTAVA DIFÍCIL PARA A AVICULTURA
A avicultura gaúcha já não atuava de forma “confortável” antes das enchentes. O setor, inclusive, atuava junto à parte pública para a adoção de medidas emergenciais de enfrentamento à elevação do custo da atividade após três estiagens sucessivas. A situação ficou mais grave após a quebra estimada em 40% na safra 2022/2023 de milho, cereal que responde por 70% da nutrição das aves e suínos.
Conforme o presidente da Asgav, José Eduardo dos Santos, pontuou em entrevista ao Correio do Povo, a desvantagem competitiva da avicultura gaúcha frente a outros estados já foi amplamente apresentada ao secretariado do atual governo, inclusive em agenda realizada neste ano.
Ele pontua que os produtores não tinham milho e, para trazer o produto de outros estados, seja em grão ou em ração, pagavam, em média, R$ 30,00 a mais por saca devido ao preço do próprio insumo, que estava inflacionado, além do frete e da logística.
O cenário era agravado pela redução no percentual de créditos presumidos concedidos pela Receita Estadual sobre a base de cálculo do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente em insumos agropecuários beneficiados fora do Rio Grande do Sul – como ração animal, plástico e papelão. Adotada em janeiro de 2022, a Política de Fruição Condicionada de incentivos fiscais tornou o diferimento variável, em especial para as compras interestaduais.
Até então, a alíquota de ICMS cobrada na comercialização interestadual de insumos agrícolas e pecuários ficava entre 7% e 12%, percentuais incidentes sobre as rações animais. Porém, conforme o Convênio 100/97, renovado até 2025 pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), a base de cálculo para o ICMS dos segmentos foi reduzida em 60%, chegando a 2,8% e 4,8% respectivamente, dependendo do estado de origem e de destino dos produtos.
DIA MUNDIAL DO FRANGO – 10/05
Mesmo diante das adversidades, o Dia Mundial do Frango se apresenta como uma oportunidade para destacar a resiliência e a determinação dos avicultores em superar os desafios. Apesar das perdas sofridas, há uma forte mensagem de esperança impulsionando esses produtores a reconstruir suas atividades e a contribuir, mais uma vez, para o abastecimento alimentar e o desenvolvimento econômico local. Este momento de solidariedade e união no setor demonstra que, juntos, é possível enfrentar e superar até mesmo as situações mais adversas.
É claro que, após os recentes acontecimentos no Rio Grande do Sul, tudo mudou. Agora, o que será necessário para reerguer a atividade no Estado contempla uma união de forças sem precedentes – desde associações e produtores, passando por poder público e iniciativa privada.
Embora as perdas sejam significativas e as dificuldades para se reerguer sejam inegáveis, é fundamental lembrar que a resiliência e a solidariedade sempre emergem como forças motrizes em momentos de adversidade. Juntos, comunidades e setores se unem para superar obstáculos, reconstruir o que foi perdido e construir um futuro mais forte e resiliente.
Que este Dia Mundial do Frango nos inspire a olhar para frente com esperança, confiança e determinação, sabendo que, juntos, podemos superar qualquer desafio.
A FeedFood acompanha a triste situação do Rio Grande do Sul e se solidariza com as famílias e produtores do estado neste momento tão difícil. Entenda a situação para outras proteínas na postagem em nosso Instagram e saiba como ajudar (e se proteger de fraudes) também neste outro post do Instagram.
LEIA TAMBÉM:
Governo do RS toma medidas emergenciais em apoio aos produtores de leite
MAPA e Farsul desenvolvem plano emergencial para o agro no RS