Wellington Torres, de casa
Em colaboração com Gabriela Salazar, de casa
Que o mercado árabe tem se destacado já não é novidade. Contudo, entender as perspectivas e a movimentação do mesmo para os próximos meses é uma ação essencial, inclusive para o Brasil.
Neste cenário, ainda movido com uma boa parcela de incerteza, por conta da pandemia que assola todo o globo, a certificação Halal tem muito o que dizer. De acordo com o CEO da SIILHalal, Chaiboun Darwiche, desde o início da pandemia, “o Brasil permaneceu na liderança de maior exportador mundial de carnes Halal. Em 2020 as exportações foram de 400 mil toneladas de carnes bovinas (receita de US$ 1.302.641.520,00) e 1.900 milhão de tonelada de frango (US$ 2.395,20 milhões) exportadas para os países árabes e Ásia”.
Desses embarques constatados, os principais destinos da carne de frango foram Arábia Saudita (467,5 mil toneladas), Emirados Árabes (303 mil t), África do Sul (237,2mil t), Singapura (124,2 mil com acréscimo de aproximadamente 28%) e Iêmen (112,4 mil toneladas). Já no caso da carne bovina, foram Egito (127.5 mil toneladas), Arábia Saudita (40.6 mil t), Emirados Árabes (40,4 mil t), Filipinas (39.6 mil t) e Singapura (21.7 mil t).
“Quando olhamos para o mercado como um todo – alimentos e bebidas – entidades setoriais apontaram queda de 8,7% em 2020 frente a 2019, movimentação de US$ 6,19 bi. Contudo, os países árabes permanecem como segundo maior cliente de alimentos e bebidas nacionais”, destaca Darwiche.
Segundo o Ceo, o consumo por produtos Halal tende a crescer. “Isso porque a população islâmica no planeta supera 1.8 bilhão de pessoas e é uma comunidade que aponta crescimento de 30% até 2050, chegando a quase 2,8 bilhões de muçulmanos no mundo”.
“Quando olhamos para estes dados, vemos que o recuo é pontual em função ao cenário, mas as projeções são extremamente favoráveis para as indústrias de alimentos e bebidas brasileira. Movimento que exigirá a busca pela certificação por parte dos interessados que queiram acessar este promissor mercado”, explica o profissional.
Quando questionado se acredita na possibilidade de que, as exportações brasileiras possam apresentar altas ainda neste ano, ele é enfático: “Sim, existe esta possibilidade devido ao histórico relacionamento entre os países.Os laços econômicos entre o Brasil e os países árabes estão se intensificando com esforços vindo de ambos os lados e tudo indica que podem alcançar escalas ainda maiores no futuro próximo”.
Peça de importância. No jogo de xadrez que é o mercado, algumas peças também agem como facilitadores na relação citada por Darwiche, como é o caso da Gulfood, feira de alimentos realizada em Dubai (Emirados Árabes Unidos). Como nós da feed&food divulgamos anteriormente, a ação que ocorreu de 21 até 25 fevereiro, pode gerar mais de US$ 130 milhões em exportações, a partir das projeções dos encontros de negócios ocorridos no evento, como é o caso do setor de carnes bovinas.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), foi recebido um feedback positivo das empresas participantes, apesar de o número de contatos e negociações ter sido inferior aos anos anteriores, principalmente por causa das restrições de circulação causadas pela pandemia de Covid-19. “No entanto, os compradores que estavam dispostos a viajar, também estavam focados em fazer negócios. Dessa maneira, mesmo em menor número, os contatos foram efetivos gerando US$ 1.350.000,00 durante a feira e uma expectativa de US$ 6.500.000,00 em negócios a serem fechados nos próximos 12 meses”, destaca a instituição.
Ao revisitar o início da pandemia, a Abiec também pontua que, em 2020 a chegada da pandemia do novo coronavírus acabou por causar uma desorganização comercial no mercado, trazendo em sua esteira questões como indisponibilidade de contêineres e de navios. Com isso, as exportações brasileiras para os países árabes somaram 362,5 mil toneladas. Em faturamento, as vendas foram de US$ 1,3 bilhão. Esse mercado respondeu por 18% do volume exportado pelo Brasil em 2020 e 15% da receita total.
“No entanto, esse volume foi 30% inferior às 518,2 toneladas embarcadas em 2019 e 25% inferiores à receita daquele ano pré-pandemia. Paralelo a isso, trabalhamos de forma consistente no reforço das medidas de segurança de produção e de transporte e a nossa expectativa é de que em um cenário pós-pandemia possamos retomar os volumes anteriores de exportação para o mercado árabe”, ressalta a Abiec.
Perante a eficiência do encontro presencial, a instituição ressalta algumas coisas: “sem dúvidas, a retomada das feiras internacionais é um desafio para todos os envolvidos. Tanto expositores como visitantes ficam apreensivos com a possibilidade de cancelamento de voos e com o aumento da exposição em um momento tão delicado como o que estamos vivendo, por causa da pandemia de Covid-19. No entanto, deve-se elogiar o trabalho feito pela organização da Gulfood, que ampliou os espaços de circulação e criou protocolos que foram amplamente seguidos”.
“Essa edição trouxe novos desafios por conta da pandemia, pois precisamos fazer ajustes na dinâmica do estande. Assim, para seguirmos os protocolos e garantirmos a segurança e menor circulação de pessoas, precisamos abrir mão da tradicional degustação do churrasco brasileiro e tivemos também uma reduzida quantidade de expositores e visitantes. Ainda assim, a procura pelo pavilhão brasileiro e o interesse pela nossa carne foi mantido e conseguimos realizar importantes contatos comerciais. Após quase um ano de isolamento, foi importante estar presente no evento para estreitar e manter esses laços”, afirma a Abiec.
E como também aponta a Associação, mesmo que os contatos virtuais ganhem cada vez mais espaço, a presença física facilita principalmente novos relacionamentos comerciais. “Na visão das empresas que estiveram presentes, outro ponto positivo foi o menor número de expositores, pois com isso os importadores tiveram mais oportunidades para aprofundarem seus contatos com novos parceiros comerciais”, comenta.
Por questões logísticas causadas pela pandemia, a SiilHalal não pode participar com representantes da edição de 2021 da feira. Mas o CEO comenta que, “a feira acompanhou a tendência mundial de recuo, percebemos que houve um menor fluxo de pessoas. Os negócios para as 42 empresas brasileiras, que participaram da edição sob o guarda-chuva da APEX,renderam cerca de US$ 33,2 milhões, enquanto que, em 2020 a feira rendeu para as empresas brasileiras participantes US$ 851 milhões em negociações imediatas e alinhavadas para os 12 meses subsequentes ao evento”.
Rumo ao futuro. Sempre de olho em relações duradouras e favoráveis, as perspectivas para 2021 em relação ao mercado árabe são positivas. “Tivemos recentemente a finalização do acordo sanitário com o Kuwait e acreditamos que isso pode facilitar as negociações com Bahrein, porém o momento de pandemia dificulta o andamento dessas conversas”, pondera a Associação, lembrando que a relação com o Brasil segue sendo muito positiva.
“Percebe-se que há uma aceitabilidade muito boa da carne brasileira no mercado árabe, principalmente para utilização nas preparações domésticas. Os consumidores sabem que encontram uma carne de qualidade e que normalmentetem um preço mais competitivo em comparação à carne australiana e americana”, resume a Abiec.
Ainda visualizando tal futuro, para 2021 a SillHalal acredita que haverá um aumento de 15% pela busca da certificação Halal, mas não só nos setores de alimentos e bebidas, mas como os demais segmentos aptos para receber a certificação Halal, em especial a indústria cosmética e farmacêutica, deixando o Brasil ainda mais atento.