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Desafios da mão de obra na Suinocultura Pós-Pandemia

Quatro dicas para enfrentar os desafios deste novo cenário
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A suinocultura experimentou mudanças significativas no período pós-pandemia, especialmente no comportamento e expectativas dos trabalhadores. Essa transformação trouxe à tona desafios antigos e novos em atrair e reter mão-de-obra nas granjas. Muitos gestores relatam incertezas sobre como assegurar a permanência dos colaboradores, evidenciando a necessidade de se repensar a gestão de equipes.

A pandemia, com suas experiências de isolamento e perdas, incitou os trabalhadores a reavaliarem suas vidas e aspirações profissionais. Especialmente os mais jovens estão buscando mais do que serem meros “peões”; eles aspiram a ambientes de trabalho que ofereçam respeito e oportunidades de crescimento. Esta mudança de perspectiva não é apenas uma questão ética, mas também uma estratégia decisiva para impulsionar o desempenho e os resultados financeiros das granjas, afetando tanto a rotatividade de pessoal quanto a eficiência de quem permanece.

Neste contexto, torna-se imperativo para os gestores de granjas adaptar suas estratégias às novas expectativas e comportamentos dos trabalhadores. Neste artigo eu trago 4 dicas essenciais para enfrentar os desafios deste novo cenário, concentrando-o em estratégias eficazes para melhorar o desempenho das equipes operacionais e a estabilidade da mão-de-obra, com o intuito de aprimorar tanto o desempenho das equipes quanto os resultados financeiros do setor.

1) Atualize as práticas de gestão para o novo cenário da força de trabalho

O período pós-pandemia marcou uma mudança significativa nas expectativas dos trabalhadores, motivada por uma série de fatores. A experiência do isolamento social e as dificuldades enfrentadas durante esse período trouxeram uma nova percepção sobre o que valorizam em suas atividades profissionais. Muitos tiveram tempo para refletir sobre suas vidas, aspirações e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Houve um despertar coletivo para a importância dos cuidados pessoais e familiares, do respeito, do reconhecimento e das oportunidades de crescimento no local de trabalho.

Além disso, os trabalhadores, especialmente os mais jovens, não se contentam em ser apenas mais um na equipe; eles buscam um papel mais significativo e ambientes onde tenham oportunidade de se desenvolver como pessoas.

Para a suinocultura, um setor tradicionalmente resistente a mudanças na gestão de equipes, essa nova realidade representa um desafio bem significativo. E essa resistência tem impactado fortemente o desempenho e o engajamento das equipes e, consequentemente, sobre os indicadores chave de desempenho das granjas.

Neste cenário, torna-se essencial abandonar a visão de que o problema reside nos trabalhadores e compreender que adaptar-se a essas novas expectativas é um passo fundamental para atrair e reter talentos.

2) Capacite supervisores e encarregados para criar ambientes de trabalho acolhedores

Diante das transformações do ambiente de trabalho pós-pandêmico, é vital para os gestores de granjas capacitarem supervisores e encarregados no estabelecimento de ambientes motivadores e acolhedores. Estes profissionais, que mantêm contato direto com as equipes operacionais, desempenham um papel chave na promoção de relacionamentos de qualidade e na definição do clima organizacional.

A capacitação destes líderes deve focar em competências essenciais como comunicação eficaz, resolução de conflitos, gerenciamento de relacionamentos e técnicas de engajamento. Estas habilidades são fundamentais para criar um clima de trabalho baseado na confiança e no reconhecimento, onde os colaboradores se sintam parte integrante e valorizada do sucesso da granja. Além disso, é importante que critérios além das habilidades técnicas sejam considerados na avaliação e seleção de futuros supervisores, valorizando as competências relacionais e de liderança.

Supervisores e encarregados devem ser incentivados a equilibrar tarefas operacionais com o apoio e desenvolvimento de suas equipes, adotando uma gestão mais empática e eficiente. Esta abordagem, focada tanto na eficácia operacional quanto no bem-estar da equipe, contribui para a retenção de talentos e melhoria do desempenho geral da granja.

3) Implemente Treinamentos de Liderança com Foco Prático e Realista

A eficácia dos treinamentos de liderança na suinocultura depende de uma abordagem prática, que ultrapasse os limites das teorias de gestão tradicionais. Os métodos convencionais, focados em aspectos teóricos e técnicos, muitos até com enfoque simplesmente motivacional, frequentemente falham em proporcionar resultados práticos e efetivos para o contexto de granja. Um treinamento eficiente deve conectar o aprendizado com sua aplicação direta nas rotinas diárias, focando em resolver desafios específicos do setor e aprimorar habilidades de gestão reais.

Portanto, ao selecionar um processo de desenvolvimento de líderes, é fundamental questionar como o aprendizado será implementado na prática e como o progresso será mensurado. Essa estratégia garante que o investimento em treinamento se traduza em melhorias concretas na performance da equipe e na eficiência operacional da granja, refletindo-se na evolução do desempenho zootécnico e econômico da produção.

4) Utilize um método para desenvolver liderança profissionalmente

No desenvolvimento de lideranças, é fundamental adotar um método estruturado que considere as peculiaridades do ambiente de produção de suínos. A liderança eficaz não segue uma fórmula padrão; ela precisa ser adaptada à cultura específica da granja, ao nível de maturidade dos líderes e às suas necessidades individuais das pessoas e do negócio. Além disso, deve ser contextualizada no dia a dia da granja, com foco na mudança de comportamentos e atitudes, evitando a rotina automática e estimulando um desenvolvimento contínuo e intencional.

A partir da minha experiência no setor e na educação de adultos, desenvolvi o Método BPL (Boas Práticas de Liderança), um programa de treinamento específico para a suinocultura. Este método oferece ferramentas práticas e personalizadas para o desenvolvimento de lideranças, assegurando que o investimento em treinamento gere resultados tangíveis no desempenho das equipes e na eficiência operacional das granjas. O BPL é direcionado não apenas a diretores e gerentes, mas também aos supervisores e encarregados, personagens-chave no engajamento e retenção de talentos nas granjas.

Conclusão

Para os gestores da suinocultura, adaptar-se a essa nova realidade pós-pandemia é fundamental. Mas essa adaptação não é apenas sobre compreender e responder às necessidades dos trabalhadores; é sobre assegurar a eficiência, a produtividade e a sustentabilidade do negócio. É um investimento que se traduz em equipes mais engajadas, menor rotatividade e melhores resultados para a granja. Neste novo cenário, a capacidade de um gestor de adaptar sua liderança será o diferencial para o sucesso.

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Leandro Trindade é Médico Veterinário, com mais de duas décadas de atuação na suinocultura, com especialidade em engajamento de equipes de granjas (FOTO: REPRODUÇÃO)

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