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Confiança, transparência e credibilidade

Adaptado à comunicação junto ao mercado internacional, Brazilian Agro-traceability system agrega valor às exportações
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Foto: FeedFood

João Paulo MonteiroRevista Feed&Food nº 201

joao@ciasullieditores.com.br

À medida que o agronegócio brasileiro avança, a capacidade de atender às diversas demandas dos consumidores se torna vital para realizar todo o potencial projetado. 

Nesse contexto, a rastreabilidade se torna premissa para o agro brasileiro, sendo impossível desassociá-la do futuro do setor.

“O Brasil desempenha um papel significativo na produção agropecuária global, não apenas como um grande produtor, mas também como importante exportador, atendendo a uma ampla gama de países. É imperativo que, ao lidarmos com um grande número de clientes, estejamos constantemente atentos à melhoria do atendimento a esses clientes”.

O pensamento parte do pesquisador Vitor Henrique Vaz Mondo, chefe-Adjunto de Transferência de Tecnologia na Embrapa Digital Agriculture. A Embrapa é a Brazilian Agricultural Research Corporation, empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), criada em 1973 com o objetivo de desenvolver a base tecnológica de um modelo de agricultura e pecuária genuinamente tropical.

Como discorre Mondo, a necessidade de rastreabilidade não é apenas uma exigência de mercado, mas, principalmente, uma responsabilidade do Brasil como exportador. “Devemos aprimorar continuamente nossos processos, independentemente da cadeia específica em que estamos inseridos”, ele afirma.

Assim, para o pesquisador, fornecer dados confiáveis e bem organizados é essencial. “Essas informações devem ser passíveis de auditoria e capazes de sustentar certificações e inspeções. Tais critérios são fundamentais para qualquer fornecedor global de alimentos”, afirma.

Deste modo, a responsabilidade e a proatividade brasileira ao abordar essas questões e se estruturar para atender às diversas demandas de cada cliente são destacadas por Mondo.

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Brasil segue aprimorando seus processos em prol de melhores relações comerciais, destaca Vitor Mondo (Foto: divulgação)

O primeiro projeto da Embrapa na área da rastreabilidade ocorreu por meio de cooperação técnica com a Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo (Coplacana) e a Usina Granelli. Na oportunidade, a unidade Informática Agropecuária desenvolveu um sistema de rastreabilidade usando tecnologia blockchain, para produtos e processos agroindustriais da cadeia produtiva da cana-de-açúcar.

“Esse trabalho trouxe uma experiência significativa para toda a equipe da nossa empresa, assim como para os nossos parceiros, e abriu portas para diversas oportunidades em diferentes cadeias que compartilham demandas semelhantes e também necessitam desse tipo de avanço tecnológico”, conta Mondo.

Esse foi, portanto, o início do desenvolvimento de uma estratégia mais abrangente, a qual originou o Sibraar, Brazilian Agro-Traceability System.

“Trata-se de um sistema composto por um conjunto de requisitos, padrões, processos e tecnologias para a implementação e governança da rastreabilidade nas cadeias agropecuárias no Brasil”, sintetiza o chefe-Adjunto.

Por meio de um QR Code impresso na embalagem, os consumidores têm um acesso direto a informações desde a origem do produto até a distribuição e chegada ao ponto de venda, passando por todas as etapas de processamento.

A iniciativa da entidade, complementa o pesquisador e supervisor da área de Negócios na Embrapa Agricultura Digital, Anderson Alves, tem por objetivo tornar a rastreabilidade uma prática consistente e confiável, e assim promover a transparência e a segurança para os consumidores.

A Embrapa, porém, não tem a intenção de competir com empresas de rastreabilidade, garante Alves. “Pelo contrário, a ideia é normatizar a rastreabilidade, estabelecendo padrões mínimos que todas as empresas do setor devem seguir”, explica.

E ainda, como ressalta Alves, a rastreabilidade desempenha um papel multifacetado e vai além de apenas informar ao consumidor a origem do produto. “Ela também é uma ferramenta de comunicação”, insere.

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É impossível desassociar o futuro da agropecuária da rastreabilidade, afirma Anderson Alves (Foto: divulgação)

Vitor Mondo corrobora: “O setor agropecuário brasileiro é notavelmente diversificado, com uma presença significativa no mercado mundial. Ao longo das décadas, conseguimos introduzir práticas sustentáveis em diversos produtos. Compreendendo nosso papel e responsabilidade em relação à segurança alimentar global, estamos proativamente empenhados em assegurar uma comunicação eficaz para todos os envolvidos nas cadeias produtivas”.

A garantia de segurança e a conformidade com o padrão global de códigos da GS1, o GS1 Digital Link, tornam possível para quem adquire o produto integrar de maneira simples com seu próprio sistema de rastreabilidade existente.

O elevado grau de segurança se dá pelo uso do blockchain. “Com ele, garantimos a integridade das informações, pois as assinaturas digitais são automaticamente registradas e vinculadas”, argumenta Anderson Alves.

Ainda, os produtores, ao acessarem gratuitamente a plataforma e inserirem os dados de seus lotes de produção, também se qualificam para programas governamentais, como o Programa Carbono Mais e o Plano Safra. “Dessa forma, oferecemos vantagens e incentivamos o uso da plataforma para validar e qualificar seus lotes de produção”, confirma o supervisor da área de Negócios.

A plataforma, ele continua, integra informações de origem de produção, abordando questões como desmatamento, trabalho escravo e sobreposição de terras indígenas. Esse processo visa qualificar os lotes, resultando em produtos provenientes de uma produção sustentável. “Isso contribui para a visão do Brasil como celeiro do mundo, com uma produção cada vez mais sustentável e adaptada aos mercados mais exigentes”, afirma Alves.

Assim, o Sibraar tem como objetivo integrar todos os produtores. “Não se trata de eliminar aqueles que produzem de forma inadequada, mas sim de integrar esses produtores ao sistema correto”, destaca Anderson Alves.

Devido a esta experiência, a Embrapa foi convidada pelo Ministério da Agricultura para colaborar na construção, ainda em uma fase inicial de ideação, de uma plataforma chamada “Agro Brasil Mais Sustentável”. A iniciativa visa auxiliar na qualificação dos produtos agropecuários brasileiros.

Para realizar essa qualificação, é fundamental dispor de informações de qualidade sobre os lotes produzidos e os animais no processo produtivo. Essas informações organizadas formam a base para a rastreabilidade, possibilitando que clientes e outros agentes da cadeia confiem nas qualificações desses produtos.

Também participa da empreitada o Serviço Federal de Processamento de Dados, o Serpro, empresa pública de prestação de serviços em tecnologia da informação do Brasil. “Encontramo-nos na fase de concepção, com a implementação planejada para 2024”, informa Mondo.

A estratégia amadurece a cada mês, fortalecida por interações contínuas com o setor produtivo, garante o chefe-Adjunto. Nesse caso, uma abordagem colaborativa é essencial, considerando a complexidade e diversidade do setor agropecuário.

“A Embrapa não pode desenvolver isso isoladamente. O progresso depende de interações com empresas, associações, representações de classe, governo, academia e outras empresas públicas. Essas colaborações nos levam a soluções que fazem sentido para cada uma das cadeias agropecuárias brasileiras”, analisa Mondo.

Em última análise, os esforços convergem para o estabelecimento de uma produção de qualidade e confiável. E o objetivo é justamente facilitar as relações entre os diferentes atores nas cadeias produtivas.

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Confiança, transparência e credibilidade (Foto: FeedFood)

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