Produção animal é um desafio constante, pois além das variáveis existentes no livre mercado como relação oferta x demanda, variações cambiais e legislação trabalhista, entre outros fatores, ainda enfrentamos particularidades ambientais, sanitárias, de manejo e nutricionais. Nestes últimos meses, além dos pontos citados, dois fatores vêm impactando muito o nosso negócio: Covid-19 e elevação dos preços dos grãos.
Devido à pandemia, fomos obrigados a introduzir custos que não haviam sido projetados anteriormente. No entanto, neste momento, a prioridade é proporcionar bem-estar e segurança aos nossos colaboradores. E as indústrias na área de produção animal vêm fazendo isso muito bem.
Com relação aos preços dos grãos, temos pouca flexibilidade no momento das negociações, pois embora existam disponibilidade de grãos, os produtores e grandes “traders” estão capitalizados, o que faz com que eles mantenham posições firmes durante as comercializações.
Desta forma, o que poderemos fazer é controlar os nossos custos através da eficiência operacional. (No acumulado dos últimos 12 meses, houve aumento de 38,86%. Embrapa Suínos e Aves, 2021). Se aproximadamente 76,62% dos custos de produção das aves (Embrapa Suínos e Aves, 2021) estão relacionados à alimentação é nesta área que devemos manter o foco.
Historicamente, os níveis nutricionais nas dietas dos frangos de corte têm sido determinados por fatores como taxa de crescimento e conversão alimentar.
Nos últimos anos, tem havido mais ênfase nos custos de alimentação por quilo do frango vivo, ou frango produzido, e mais recentemente, os nutricionistas estão se concentrando na formulação de dietas para maximizar métricas, como rendimento de carne e lucratividade líquida.
Com o custo recorde dos ingredientes da ração nos últimos anos, os nutricionistas estão considerando com mais cuidado o mercado final (produção de frangos inteiros, cortes ou industrializados) e os retornos financeiros ao decidir sobre os níveis de energia e aminoácidos nas dietas.
A indústria avícola está organizada de forma diferente em todo o mundo.
Em grande parte da Europa, Ásia e Canadá, a indústria continua operando como segmentos de negócios independentes.
Os incubatórios vendem os pintinhos, as fábricas de rações vendem o alimento e os frigoríficos compram os frangos dos produtores independentes.
O nutricionista (formulador) naquelas condições não leva em consideração uma conexão entre as dietas e as plantas processadoras de carne e dará pouca atenção ao impacto da nutrição no rendimento industrial. No Brasil e em outras regiões do mundo, o sistema de produção é quase sempre totalmente integrado, portanto, precisamos ter uma visão macro do negócio no momento de definirmos a estratégia nutricional.
O efeito dos níveis de energia e aminoácidos no desempenho e rendimento dos frangos de corte
O frangos modernos respondem bem a aumentos equilibrados de aminoácidos, não apenas no desempenho do frango vivo, mas no rendimento de carcaça e de peito também. Em contrapartida, a resposta aos níveis de energia nas dietas, principalmente nas fases iniciais de vida das aves, não segue a mesma tendência apresentada dos aminoácidos.
As diferentes respostas das aves a estes nutrientes podem estar correlacionadas com critérios utilizados nos programas de seleção genética. Pois, embora sejam considerados muitos atributos durante os programas de seleção dos frangos de corte, ganho de peso, conversão alimentar e rendimento de carcaça (peito), são prioridades na maioria dos programas utilizados.
Entendemos que as necessidades nutricionais destas aves mudaram e isto é de fácil compreensão quando comparamos os rendimentos de peito das aves aos 42 dias de idade, que no ano de 1990 eram de aproximadamente 15,0% e atualmente apresentam um potencial para um rendimento superior à 27,0%.
Devido a estas mudanças ocorridas nas aves associadas a oscilações dos custos dos grãos, os nutricionistas vêm mudando as estratégias nutricionais também. Na tabela abaixo, Kidd (2017), apresentou a tendência da indústria americana, com relação a utilização dos níveis de energia e proteína (aminoácidos) nas dietas de frangos de corte.
Década | 1950’s | 1970 & 1980’s | 2000’s |
Estratégia Nutricional | ↑ Energia e PB | ↑ Energia e ↓PB | ↓Energia e ↑Aminoácidos |
Os nutrientes de maior impacto nos custos das formulações de frangos de corte, são:
10) Energia
20) Aminoácidos
30) Fósforo
Portanto, são nesses nutrientes que deveremos manter o FOCO quando definirmos as estratégias nutricionais. Neste momento, onde os custos dos grãos se encontram extremamente elevados, precisamos transformar rapidamente o conhecimento científico em condições práticas. Existem muitas pesquisas disponíveis e a maioria delas, com dados estatísticos muito robustos, que nos tranquilizam no momento de introduzirmos estas dietas no campo.
Pensando mais além (Futuro) e quais seriam as tendências nutricionais dos frangos de corte moderno, Leeson (2019) demonstrou que as linhas de pesquisa deverão se concentrar em:
Tendências na Nutrição do Frango de Corte Moderno | |
· Científica | · Sociedade |
· Necessidades de Energia· Tamanho de Partículas· Microflora IntestinalCompatibilidade entre as Enzimas · Nutrição Maternal· Avaliação de Ingredientes· Metabolismo do Cálcio· Valor Nutricional AdicionadoCarne Sintética | · ABF· Meio Ambiente· Bem-Estar Animal· Composição de Ingredientes· ZoonosesDesperdício de Comida |
Vários dos pontos citados por Leeson (2019), são oportunidades para reduzirmos os custos de produção dos frangos, portanto, eles merecem a atenção dos técnicos das empresas.
Conclusões
Uma gama completa de fatores econômicos devem ser usados para determinar os níveis de nutricionais das dietas de frangos de corte.
Os dois principais fatores, são os custos das dietas e o mix de produtos que serão comercializados.
A estratégia nutricional aplicada (altos, médios ou baixos níveis nutricionais das dietas), dependerá do objetivo principal das companhias.
Autor: Vitor Hugo Brandalize é médico veterinário e especialista Mundial em Nutrição da Cobb-Vantress.