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Calendário sanitário marca mês de maio na bovinocultura

Enrico L. Ortolani é Professor titular do Departamento de Clínica Médica da FMVZ -USP
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Dois meses, maio e novembro, são marcantes para o calendário sanitário de diferentes Estados do Brasil Central (regiões Sudeste e Centro-Oeste, Paraná, Norte de Santa Catarina, Tocantins, Rondônia, Acre, Sul do Amazonas e do Pará, Oeste e Sul da Bahia). Nestes meses um conjunto de vacinações e de vermifugação estratégica acontecem. Vamos a eles:

Vacinação contra brucelose:

A vacinação é obrigatória em todo o território nacional, em bezerras de 3 a 8 meses de idade, com o emprego da vacina B19. A brucelose ainda é um problema, principalmente nos Estados do Pará e do Amazonas. Constitui uma exceção o Estado de Santa Catarina, que desobrigou a vacinação com a B19, devido ao baixíssimo nível de infecção nos rebanhos. Porém, por um descuido, a brucelose acometeu vários planteis no planalto catarinense, no final da década passada. Desde então, obriga-se a vacinação com a vacina RB51 nas fêmeas de rebanhos diagnosticados com a doença.

Tanto as vacinas B19 como a RB51 são produzidos com cepas de Brucela abortus que não causam mal para bovinos (mas sim para seres humanos; daí a necessidade de todo cuidado na vacinação, pois uma espetada com a agulha da vacina pode dar origem à doença). A vacina B19 produz anticorpos que podem interferir em provas laboratoriais diagnósticas corriqueiras, enquanto que RB 51, não provoca tal interferência em bovinos.  

Não vacine bezerras ao mesmo tempo contra brucelose e clostridioses

Pesquisa feita na UFMG identificou que a vacinação em bezerras (3 a 8 meses de idade) no mesmo dia contra brucelose e clostridioses diminuiu a produção de anticorpos contra as clostridioses, em especial contra o botulismo e a enterotoxemia. Isso ocorre, pois exige-se dos bovinos duplamente vacinados a produção de anticorpos contra múltiplos agentes das clostridioses, que serão de alguma forma menos formados pela interferência momentânea da vacina de brucelose. Assim, recomenda-se que a vacinação contra clostridioses seja feita um mês após a de brucelose.        

Vacinação contra febre aftosa em bovinos e bufalinos

Após o MAPA suspender recentemente a vacinação contra febre aftosa em rebanhos de seis estados e o DF do bloco IV (em azul no mapa), agora ainda necessitam vacinar 15 estados (em branco), entre eles São Paulo, Pará, Bahia e Rio de Janeiro. Em alguns deles a vacinação deve ser feita em todos os animais do rebanho (AL, AM, CE, MA, PA, PB, PI, RR e RN), enquanto que em outros a vacinação é só em bovinos e bufalinos até 24 meses (BA, RJ, SE e SP). O plano do MAPA é parar a vacinação em todo país até o ano de 2026, sendo que nos dias de hoje cerca de metade da população destas espécies (113 milhões) deixou de ser vacinada. Estados que já fizeram a lição de casa (alta percentual contínuo de vacinação, treinamento de agentes estaduais de defesa animal para vigilância contra a doença e adoção de fundo monetário para ressarcir possíveis focos da enfermidade que surjam, entre outras medidas) já não necessitam vacinar. Dizem as “boas-línguas” que São Paulo deve entrar nessa lista em breve. Vamos ver o andar da carruagem.

Vermifugação estratégica no Brasil Central

Estudos bem conduzidos pela EMBRAPA e a UFMS, indicaram que os estados do Brasil Central (regiões sudeste e centro-oeste, Paraná, norte de Santa Catarina, Tocantins, Rondônia, Acre, sul do Amazonas e do Pará, oeste e sul da Bahia) devem vermifugar estrategicamente bovinos da desmama até dois anos de idade nos meses de Maio (5), Agosto (8) e Novembro (11), no famoso esquema 5-8-11. Bovinos dessa idade são os que mais têm verminose e que contaminam as pastagens. Esse esquema além de combater os parasitas, ajuda a descontaminar as pastagens. Fiz minhas próprias pesquisas e para o mês de Maio (5) recomendo a vermifugação com dois princípios ativos: o albendazole (na sua forma pura ou na de sulfóxido) ou o fembendazole, sendo o primeiro injetável e o segundo via oral. Vários cuidados devem ser tomados na vermifugação oral, para que a mesma seja mais eficiente.

Vacinação obrigatório contra raiva em GO e no PA

Em Goiás e no Pará, são obrigatórias as vacinações contra raiva bovina em todos os animais dos rebanhos de 121 e 50 municípios, respectivamente. Consulte as listas dos municípios nos seguintes sites: Goiás (clique aqui) e no Pará (clique aqui) No Pará a comprovação deve ser feita pelo produtor, junto ao Adepará, até o dia 15 de junho.

Recomendo uma única vacinação anual em todos os bovinos brasileiros, com mais de três meses de idade.

Confinamento de “seca”: prevenção à pneumonia

 Basicamente, temos dois grandes períodos de confinamento no Brasil: o das secas e o das chuvas. Cerca de 70 % do gado é engordado no ciclo de confinamento das secas, que se iniciam agora. A principal enfermidade reinante nos confinamentos é a pneumonia, sendo responsável por um pouco mais de 50 % de todas doenças. Acompanhamos a frequência de pneumonia nos ciclos de confinamento nas chuvas e nas secas, sendo 70 % maior neste último período do ano. No período seco os quadros respiratórios triplicaram em ambientes que têm poeira. Para aplacar a poeira nos piquetes empregam-se dois tipos de sistemas os pulverizadores (por rede suspensa) e jatos d’água (com caminhão pipa e por estaca).

Segundo constatei em confinamentos, os pulverizadores por rede suspensa são mais eficientes na prevenção das pneumonias, que os com jatos d’água, pois se bem empregados geram menos lama e problemas de casco, que neste último método. Num levantamento que fiz verifiquei que bois com problemas de casco tem um risco 1,7 superior a terem de pneumonia que os sadios. Assim, agora é hora de checar sua fonte de abastecimento de água, os encanamentos e bicos aspersores de água para evitar a poeira.

Muitos me perguntam sobre a eficácia das vacinas contra as pneumonias. Temos boas vacinas no mercado. Porém, essas vacinas para terem plena eficiência necessitam ser empregadas duas vezes (1º: 20 d antes do embarque, e 2ª no primeiro dia de confinamento), pois grande parte das pneumonias ocorrem até os 30 dias de cocho. Com duas vacinações a quantidade de anticorpos produzidos nesse período é maior. Assim, combine com seu fornecedor de bois magros para vaciná-los com antecedência.

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