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Brasil pode liderar transformação de modelo agroalimentar

Com capacitação e financiamento direcionado, o país pode ser exemplo de uma agropecuária regenerativa e resiliente a momentos de crises climáticas
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Isabel Garcia Drigo é diretora de Clima, Uso da Terra e Políticas Públicas e Marina Guyot é gerente de Políticas Públicas, ambas do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)

Que as condições climáticas mudaram não dá para negar. Em agosto, uma nuvem de fumaça gerada pelas queimadas na Amazônia extrapolaram o bioma e chegaram a 10 estados, inclusive da região Centro-Sul do Brasil. Com 22 mil focos de incêndio, 10 mil acima do mesmo período do ano passado, este é o pior momento em 17 anos em termos de intensidade do fogo na região.

Um relatório recente do MapBiomas mostrou que, entre 1985 e 2023, o Brasil já havia perdido 33% de suas áreas naturais devido ao aumento de áreas destinadas à pastagem e à agricultura. A expansão de áreas utilizadas para a pecuária foi de 79% e de 228% para a agricultura, sendo a Amazônia o bioma mais afetado. Como maior exportador de sete commodities agropecuárias (soja, milho, açúcar, café, suco de laranja, carne bovina e frango), o país precisa assumir liderança na discussão de uma agropecuária sustentável e na transformação dos sistemas agroalimentares para se tornarem mais resilientes. O Brasil possui todas as condições para impulsionar essa necessária transformação e servir de exemplo para outras nações.

Marina Guyot é gerente de Políticas Públicas do Imaflora (Foto: divulgação)

Está comprovado que não é preciso ocupar novas áreas para a produção agropecuária. Existem inúmeros exemplos de intensificação sustentável tanto da pecuária (maior número de cabeças de gado por hectare) como da agricultura (maior produção em menor área). Outras técnicas, como agricultura regenerativa e Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), regeneram o solo de áreas degradadas, promovem maior resiliência em momentos de seca e atuam positivamente no balanço de emissões de gases de efeito estufa, como carbono e metano.

Para que essa mudança possa se dar de forma justa e sem solavancos para os produtores e empresas agropecuárias, é preciso financiamento que possa cobrir os custos de uma transição produtiva para modelos mais sustentáveis. É necessário também regras para uso e verificação de que os recursos financeiros e outros incentivos sejam canalizados de forma justa e transparente.

Isabel Garcia Drigo é diretora de Clima, Uso da Terra e Políticas Públicas do Imaflora (Foto: divulgação)

É aí que entra a importância do papel do sistema financeiro e da Taxonomia Sustentável Brasileira, guia para classificar as atividades econômicas e as propriedades agrícolas. Esse guia está em desenvolvimento, previsto para ser finalizado ainda neste ano, em um processo conduzido pelo Ministério da Fazenda. Com uma taxonomia clara, todas as linhas de crédito de instrumentos como o Plano Safra e o Pronaf, com juros subsidiados, serão capazes de oferecer melhores condições para quem está se comprometendo com a adoção e manutenção das melhores práticas. Também o crédito privado e investimentos contarão com um guia para direcionar melhor os montantes e, dessa forma, impulsionar a transição dos modelos produtivos. Finalmente, toda essa transformação necessitará de um sistema de monitoramento e verificação capaz de demonstrar o progresso concreto para os mercados compradores, nacionais e internacionais.

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