O ciclo de preços da pecuária brasileira funciona por períodos alternados de alta e baixa na produção e nos preços do boi gordo e é um dos principais fatores que influenciam a dinâmica do mercado pecuário nacional, funcionando como uma engrenagem que se move conforme as variações de fatores como clima, custos de produção, oferta de pastagens e demanda por carne. Compreender este ciclo, que biologicamente corresponde aproximadamente 1000 dias, desde a fecundação de uma vaca até o seu produto ir ao abate, ajuda o pecuarista a planejar melhor seu negócio e lidar com os desafios do mercado.
Em 2024, o Brasil atravessou um momento singular no ciclo de preços do boi. Nos últimos anos, o setor esteve em uma fase de baixos preços pagos aos pecuaristas devido ao aumento da oferta de gado para abate, resultado de um ciclo de retenção de matrizes em anos anteriores, que ampliou o rebanho e aumentou a disponibilidade de animais no mercado. Por outro lado, 2024 sinalizou uma transição para um período de menor oferta, devido ao abate significativo de matrizes observado em 2022 e 2023. Essa dinâmica historicamente tende a reduzir a disponibilidade de gado no mercado, o que pode pressionar os preços para cima no decorrer do ano.
O preço da arroba do boi gordo, um dos principais indicadores do mercado pecuário, apresentou uma tendência de alta significativa no segundo semestre de 2024, saindo de R$260,00, no início do ano, para médias entre R$290,00 e R$360,00 no segundo semestre, dependendo da região. Esse aumento de preços foi impulsionado por fatores como o reaquecimento das exportações, com o aumento das vendas para a China, por exemplo, e o fortalecimento da demanda interna, devido a uma ligeira recuperação do poder aquisitivo da população.
O mercado interno de carne bovina é altamente dependente do poder aquisitivo da população. Em 2024, a demanda interna se manteve estável, dependendo da evolução da renda e do nível de emprego. A carne bovina, embora seja uma das principais fontes de proteína animal no país, enfrenta concorrência de outras proteínas, como o frango e a carne suína, que possuem preços mais acessíveis. Mesmo assim, o consumo per capita de carne bovina, que em 2024 foi de aproximadamente 26 kg, deve se manter nesse patamar no próximo ano, podendo variar conforme as condições econômicas, que deve continuar a ser um fator decisivo para a manutenção dos níveis de consumo.
Nas exportações de carne, o Brasil segue como líder mundial, com destinos-chave como China, Estados Unidos e países do Oriente Médio. Em 2024, o Brasil exportou cerca de 2,4 milhões de toneladas de carne bovina, gerando uma receita superior a US$10 bilhões, e a expectativa é de que esses números sejam mantidos ou superados em 2025. A China responde por mais de 40% das exportações brasileiras de carne bovina e deve continuar sendo o principal mercado, mas o setor também busca fortalecer sua presença em outros mercados, como o sudeste asiático, para minimizar riscos associados às dependências comerciais da China. Além disso, a moeda brasileira desvalorizada favorece a competitividade da carne bovina brasileira no mercado internacional, tornando-a mais atrativa frente aos concorrentes globais.
Apesar destas perspectivas promissoras, a carne brasileira também enfrentou desafios importantes em 2024, incluindo questões sanitárias, como o controle da febre aftosa e outras doenças, além das crescentes demandas por sustentabilidade na cadeia produtiva. O mercado internacional também observa atentamente os avanços do Brasil em relação à rastreabilidade do rebanho e à conservação ambiental, quesitos cada vez mais valorizados pelos consumidores e reguladores globais. Frente a estas demandas, o uso de tecnologias como o monitoramento de pastagens por georreferenciamento e a rastreabilidade dos rebanhos têm sido incentivadas para melhorar a eficiência produtiva e atender às demandas internacionais. Em termos de perspectiva, o ano de 2024 apresentou uma reação do mercado de carne bovina, com a recuperação nos preços para o produtor e uma consolidação do Brasil como fornecedor líder no mercado global. Porém, para manter este cenário promissor, o setor precisará equilibrar eficiência produtiva e sustentabilidade para estabelecer uma relação de confiança com os parceiros comerciais.
O acompanhamento do ciclo pecuário e das condições de mercado será essencial para produtores, indústrias e exportadores planejarem suas estratégias e aproveitarem as oportunidades que 2025 tem a oferecer, então o que os produtores devem fazer em períodos de altas:
Invista na qualidade do rebanho: Reforce o manejo nutricional e sanitário para garantir animais com maior peso e qualidade de carcaça. Esses fatores podem aumentar o valor de mercado em períodos de alta.
Antecipe a comercialização: Planeje o ciclo de produção para ter gado pronto para o abate no pico da valorização, evitando vender em baixa.
Monitore custos: Mesmo com os preços elevados, mantenha controle rigoroso sobre os custos de produção para maximizar a margem de lucro.
Valorize contratos futuros: Considere negociar contratos futuros ou travar preços antecipadamente para aproveitar condições favoráveis e minimizar riscos de volatilidade.
Diversifique a renda: Utilize momentos de alta para reinvestir em práticas sustentáveis, como integração lavoura-pecuária, que podem proteger sua produção no longo prazo.
Aproveite a demanda externa: Quando exportações estão aquecidas, certifique-se de que seus animais atendem aos requisitos de mercados internacionais, como rastreabilidade e certificações sanitárias.
Mantenha-se informado: Monitore os boletins de mercado e análises econômicas para ajustar suas estratégias às tendências.
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