Nos últimos anos, temos observado um crescimento significativo na utilização de animais provenientes da pecuária leiteira para a produção de carne de alta qualidade. Essa abordagem, por meio do cruzamento industrial com genética melhoradora de gado de corte, oferece uma oportunidade para os criadores de gado leiteiro, com o melhoramento genético do rebanho leiteiro utilizando as ferramentas do genoma bovino e sexagem de semên, além de diversificarem e gerarem valor agregado à sua produção.
A estratégia do programa “Beef on Dairy”, amplamente utilizado em países como Estados Unidos e México, envolve o cruzamento de vacas leiteiras, como as raças holandesa e jersey, com touros de raças de corte melhoradoras dos padrões de qualidade carne, como o angus. Nos últimos anos, essa metodologia tem sido aplicada com sucesso aqui no Brasil, resultando em avanços significativos na qualidade da carne produzida.
Em nossa experiência, iniciamos o processo com a inseminação de vacas leiteiras das raças holandesa e jersey com sêmen de angus. Esses animais são criados em sistemas intensivos de confinamento, visando otimizar tanto a qualidade quanto a eficiência da operação. Em 2024, os resultados de abate de cooperados Capal mostraram carnes com excelente padrão de marmoreio e gordura subcutânea, superando as expectativas.
“Alguns cooperados que também possuem gado leiteiro aderiram ao programa com a inclusão de raças como angus e wagyu, buscando diversificar a produção e melhorar a genética de seus rebanhos“
Durante a última edição da Expointer, realizada entre agosto e setembro deste ano, os resultados obtidos com o programa ganharam destaque, sendo reconhecidos por indústrias e associações de criadores de bovinos de corte, que passaram a certificar a carne resultante desses cruzamentos. Alguns cooperados que também possuem gado leiteiro aderiram ao programa com a inclusão de raças como angus e wagyu, buscando diversificar a produção e melhorar a genética de seus rebanhos.
O “Beef on Dairy” está presente em fazendas em crescimento de animais lactantes, normalmente quando o cooperado, ao atingir a capacidade máxima de animais leiteiros desejada no plantel e valorizar a possível venda de genética leiteira, opta por adotar a estratégia de cruzamento, como uma forma de aprimorar a eficiência operacional e o controle do rebanho. Um caso específico é o da Fazenda Lagoa Dourada, que desde 2019 adicionou à missão de produzir leite a de produzir carne de qualidade, utilizando 100% das vacas em lactação para inseminação com sêmen de angus e wagyu, além de empregar a sexagem e o genoma para controlar o nascimento de fêmeas leiteiras. Os machos e fêmeas nascidos do cruzamento são direcionados para a pecuária de corte.
Com manejo e aplicação de protocolos adequados e uma dieta balanceada, o cuidado com a ambiência da vaca leiteira, a programação fetal e posteriormente com o bezerreiro, o que já está na rotina do produtor de leite, obtemos resultados muito positivos em termos de ganho de peso, construção de marmoreio e demais parâmetros de qualidade da carne. Tendo a redução no tempo de abate como meta, hoje com 13 a 15 meses, sem comprometer a qualidade da carne produzida.
Essa experiência com o programa “Beef on Dairy” tem se mostrado uma excelente alternativa para agregar valor aos nossos produtores associados e contribuir para uma cadeia produtiva mais eficiente e sustentável, tendo a importante relação com a longevidade do rebanho e a possível melhoria no manejo de transição pré e pós-parto, bem como a consequente taxa de descarte e percentual da recria necessária para repor ou acrescer os animais em leite.
“Estratégia do programa “Beef on Dairy”, amplamente utilizado em países como Estados Unidos e México, envolve o cruzamento de vacas leiteiras, como as raças holandesa e jersey, com touros de raças de corte melhoradoras dos padrões de qualidade carne, como o angus”
Também o ganho na eficiência alimentar e a soma da produção anual de litros de leite com kgs de carne proporciona ao sistema de produção, como um todo, mais proteína consumível pelo ser humano, um importante diferencial no cálculo da pegada de carbono e diluição dos gases do efeito estufa, podendo acompanhar as necessidades do atento mercado de carne e leite atual.
Além disso, representa uma solução viável para muitos pecuaristas que enfrentam limitações de espaço ou que buscam alternativas para diversificar ou aumentar a renda por área. O sucesso dessa abordagem reforça a importância de uma pecuária integrada, tecnológica e sustentável, capaz de atender tanto às demandas do mercado quanto aos desafios ambientais.
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