Natália Ponse, da redação
Após o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro apresentar oito trimestres de quedas consecutivas, no primeiro trimestre deste ano houve uma boa surpresa: o índice despontou uma alta de 13,4%. O responsável pelo maior crescimento desde o 4º trimestre de 1996 foi justamente o agronegócio, que cresceu 15,2% sobre os primeiros três meses de 2016.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF), a safra recorde de grãos 2016/2017 ajudou a impulsionar o resultado, já que o clima favorável é o principal fator para o aumento da produção. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, Brasília/DF) estima uma produção de 232 milhões de toneladas de grãos neste ciclo agrícola.
Números demonstram facilmente a vocação verde e amarela para a produção de alimentos não só para o mercado interno, mas para o mundo. “Um dos fatores que melhor explica o desempenho de destaque do setor, como o forte crescimento registrado no PIB do primeiro trimestre divulgado pelo IBGE, é o conjunto de estratégias voltadas para aumento na eficácia da produção”, revela o professor do MBA em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV, Rio de Janeiro/RJ), Felippe Serigati. Para o acadêmico, há tempos o setor tem intensificado seus esforços a fim de colocar em prática um planejamento com este objetivo.
O agronegócio, aponta Serigati, é um dos únicos setores da economia brasileira a não apresentarem deficiência em produtividade. Esse cenário ocorre porque o País apoiou-se em um plano que envolve: desenvolvimento de máquinas e equipamentos, sementes e demais insumos de melhor qualidade, forte apoio para pesquisa, seja pública ou privada, ampla disseminação de inovações, novamente tanto por agentes públicos como privados e outros.
“O agronegócio brasileiro exerce um papel estratégico para economia brasileira. Entre outros fatores, contribui decisivamente para aquecer a economia do interior do País; atrair dólares para a economia brasileira via exportações; auxiliar no combate à inflação tornando o preço dos alimentos mais acessíveis; garantir a segurança alimentar e energética do Brasil”, diz. Serigati aponta que as atuais pesquisas do setor confirmam o agronegócio como o setor de maior crescimento e impacto no PIB brasileiro.
Os efeitos destes fatores no bolso do consumidor não poderiam ser melhores. “Parte da forte desaceleração da inflação é devido à excelente safra que o universo agro tem colhido. Essa ‘super’ safra tem permitido que os brasileiros e pessoas de outros países tenham acesso a alimentos com um custo menor, liberando renda para gerar demanda para todos os demais bens e serviços da nossa economia”, salienta o profissional.
Elencando os produtos a serem mais exportados neste ano (complexo soja, proteína de aves, bovina e suína e outros), a qualidade da carne é um grande destaque para o professor. Produto que além de apresentar essa característica, é pautado na sustentabilidade. “Com frequência a produção de carne bovina é apontada como uma das vilãs do aquecimento global. Por trás dessa acusação existem as emissões de gases causadores do chamado efeito-estuda via flatulência bovina, todavia, caso seja feito o manejo adequado do pasto, o processo de crescimento do pasto captura carbono em um volume maior do que a flatulência bovina emite. É uma carne carbono-neutra. Por que não divulgar isso para o mundo?”, questiona.
Além disso, os produtos de qualidade devem ser divulgados fronteiras afora, ressalta Felippe Serigati. “O desafio é grande e nossa melhor estratégia será prosseguirmos no esforço contínuo de aumentar a produtividade do setor”, finaliza o professor. A prospecção do Brasil é manter o título de “celeiro do mundo” e, para isso, o trabalho dos produtores e da indústria não pode parar.