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Adriane Zart defende produção agropecuária alicerçada na boa relação entre animal e produtor

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Wellington Torres, de casa

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A virada de século, ao apresentar as mais diversas tecnologias focadas em conectividade, tem como um de seus resultados mais característicos a robusta aproximação entre consumidor e produto. Atualmente, acompanhar todo o processo de produção – da recria do boi aos cortes disponíveis nas gôndolas – influência nas escolhas do público final.

Ao levar este novo cenário em consideração, o médico-veterinário Paulo Loureiro criou e desenvolveu a técnica ‘Nada nas Mãos’. A iniciativa, com foco no bem-estar animal, ocorre a partir de uma abordagem empírica e instintiva, com foco na relação de confiança entre humanos e bovinos.

O método, que a cada dia ganha mais notoriedade em território nacional, utiliza dos instintos naturais do gado em prol dos manejadores, o que resulta em benefícios para a produção setorial e tem como forte representante a pecuarista e, também, médica-veterinária, Adriane Zart, sócia da Personal PEC.

A profissional, que por tamanha referência se encontra na lista ‘100 Mulheres Poderosas do Agro’, concebida pela Forbes, conta sobre sua experiência no setor agropecuário, assim como ponta curiosidades sobre a ação que defende.

De acordo Adriane, residente de Campo Grande (MS), ela já teria nascido médica-veterinária: “Como muitos outros que se encontram na profissão, eu já sabia o que queria desde muito nova. Fui criada em fazenda e faço parte da terceira geração familiar dentro do agronegócio. Sempre lidando com o gado”.

A paixão, passada e incentivada pelo pai, resultou em um espaço na lista citada anteriormente. Para ela, foi uma maneira de entender que está no caminho certo, dando mais força para seguir firme no propósito que tem muito claro na minha mente e no trabalho. “É focar cada vez mais no ato de poder ajudar a tornar a vida das pessoas que trabalham no campo e lidam com os animais melhor, assim como a do gado”, afirma.

Por isso, ao falar sobre a técnica ‘Nada nas Mãos’, ela deixa claro que bem-estar animal é um caminho sem volta para o setor produtivo. “Primeiro que é correto, não tem que ser questionado: é o que é.  A iniciativa facilita em tornar esse trabalho – a lida com os animais – mais fácil. Só o fato de desarmar a equipe ajuda a ter um bom relacionamento com o gado, pois não há base em ameaça e medo”.

Ainda segundo ela, com a ação também se destaca a importância de os produtores exporem como as fazendas trabalham, pois a pecuária é sinônimo de um bom tratamento, mas segue estigmatizada pela imagem de maus-tratos e exploração. “Tratamos muito bem do gado, essa é a grande verdade. Um funcionário – peão, vaqueiro, produtor – desde quando acorda, monta o cavalo, e vai fazer o serviço, foca nos cuidados, seja para trocar de pasto, realizar vacinação ou tratar diferentes outras questões de saúde”.

“A natureza é cruel, se não fossemos nós [criadores] todos os dias realizando as mais diferentes funções, com certeza a vida do bovino seria muito mais difícil”

Para a médica-veterinária, a técnica pode ser considera um fator de aproximação entre produtor e consumidor, possibilitando que seja conferida a beleza de um manejo bem-feito, de forma harmoniosa, sem gritos e nem ameaças.  “Uma fazenda que se preocupa em como seus animais são manejados, com certeza tem responsabilidade em todas as outras etapas do processo produtivo”, complementa.

Atualmente, como forma de divulgação e ampliação do projeto, o Selo Nada nas Mãos é fornecido às fazendas que melhor representam e se encaixam às práticas de bem-estar propostas. “O processo para conquistá-lo inicia com um treinamento da equipe, do qual se explica quais são os principais princípios da técnica. Depois, realizamos visitas recorrentes nas propriedades, que variam do tamanho da equipe e das questões internas de cada local, sendo adaptadas para cada realidade”, conta, ao mencionar que o mais importante nesses casos é a gerência comprar a ideia, “fazendo com que se torne uma cultura e o selo conferido”.

Adriane Zart: O bem-estar animal mudou minha vida
Foque em se sentir bem dentro do ambiente em que está escolhendo pertencer (Foto: reprodução)

Bem-estar animal ao bom desenvolvimento do produto

Quando questionada sobre os benefícios da prática ao animal em vida e aos resultados, Adriane menciona que a principal vantagem das fazendas que passam a compor a iniciativa é ressaltar a harmonia entre homem e animal, o que fomenta pontos positivos em quesitos produtivos e sanitários.

“No final das contas o gado é como todos nós: quando estamos bem, produzimos mais. Quando estamos com problemas, não. Gado calmo dentro das instalações e bem manejado vai ofertar melhores resultados, inclusive às vacinações, com respostas imunológicas eficientes, e em relação ao desempenho, tendo em vista que o ganho de peso, consequentemente, será mais efetivo”, exemplifica

Comentário vai de encontro às mais diversas outras ações que focam na criação de animais livres ou em regimes menos estressantes. Tais mudanças, como também pauta a profissional, reflete na qualidade da carne, pois “animais mal manejados dentro de um curral, que possuem lembranças ruins de momentos de embarque ou de interações com pessoas, serão mais estressados, liberando cortisol, o que atrapalha a qualidade da proteína”.

“É uma conquista do lado feminino estar cada vez mais presente, ocupando cargos importantes”

Em posição de liderança e pertencente a um setor majoritariamente masculino, a sócia da Personal PEC, ao refletir sobre sua vivência dentro do agro, afirma que nunca se sentiu diferente ou estranha por pertencer ao setor.

“Nunca encontrei barreiras pelo fato de ser mulher – muito pelo contrário – sempre foi muito confortável estar em meio a eles. Digamos que, por conta do cavalheirismo, sou sempre protegida pelo grupo”, brinca, ao sitar um tipo de admiração por parte dos colegas de trabalho, o que acaba sendo repassado para dentro das famílias.

Adriane Zart: O bem-estar animal mudou minha vida
A profissional se encontra na lista ‘100 Mulheres Poderosas do Agro’ (Foto: reprodução)

Como mostram os dados coletados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) de 2004 a 2015, a quantidade de trabalhadoras nos setores de insumos, agropecuária, agroindústria e agrosserviços passou de 24,1% para 28% do total de trabalhadores.

A maior participação feminina, como analisa Adriane é algo muito positivo. “Esse espaço vem sendo alcançado, naturalmente, como em todas os outros seguimentos. É uma conquista do lado feminino estar cada vez mais presente, ocupando cargos importantes”.

Neste Dia Internacional das Mulheres, pensando naquelas que desejam ingressar à agropecuária, ela aconselha: “Não pense que sofrerá preconceitos. Foque em se sentir bem dentro do ambiente em que está escolhendo pertencer, tenha vivência, visite fazendas, acompanhe manejos e entenda o lado das demais pessoas que estão no campo”.