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Adesão de pescado no Brasil exige apoio governamental e profissionalização do setor

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Wellington Torres, de casa

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Entre os principais produtores de pescados, Brasil segue se destacando, principalmente quando a pauta é oferta da proteína aos mercados importadores. Contudo, adesão interna é abaixo do esperado, como aponta a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, traduzida ao português).

De acordo com os números divulgados pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, de 2019, o “consumo de peixe no Brasil gira em torno de 10 kg per capita ano, valor abaixo do que preconiza a Organização como ideal, que é de 12 kg ano”.

Para contornar esse cenário, a Semana do Pescado, resultado do extinto Ministério da Pesca e Aquicultura, chega a sua 18ª edição. Ação, que ocorrerá de 1 a 15 de setembro, é considerada, pelo varejo, como a “segunda quaresma” brasileira.

Segundo o médico-veterinário e ex-ministro da Pesca, Altemir Gregolin, a situação brasileira está atrelada a seguinte situação: “Diferente de outros países em que o consumo de pescado está acima da média mundial, o Brasil tem uma grande produção e oferta interna de outras proteínas como o frango, suínos e bovinos e que são altamente competitivas a nível global. Isso torna a competitividade do pescado com outras proteínas muito mais desafiadora”.

Por isso, para deixar os pescados mais competitivos ao consumidor final, é importante atuar em duas frentes, uma com o governo e outra com profissionalização.  “O governo, através de políticas públicas, precisa melhorar o ambiente de negócios reduzindo tributos como o PIS/COFINS sobre a ração, impostos sobre importação de máquinas e equipamentos sem similar nacional, ofertar linhas de crédito mais acessíveis, assim como assistência técnica, investimentos em pesquisa e uma legislação mais adequada e menos burocrática”, explica Gregolin.

Perante a segunda, o profissional afirma que o setor precisa fazer a sua parte profissionalizando cada vez mais a atividade ao longo da cadeia através de capacitação, adoção de novas tecnologias, organização, logística, elevação de escala e oferta de produtos na forma e na qualidade que o consumidor realmente procura.

Comportamento do consumidor Brasileiro

Ao que se refere à baixa do publico consumidor brasileiro, o integrante do comitê também pontua que existe uma razão relacionada à cultura – associada a ideia de consumo principalmente durante a Semana Santa – mas que também guarda relação com a farta oferta de outras proteínas e a escassa oferta regular de pescados.

“Basta ver que ao longo do litoral brasileiro e na Região Norte do País, onde há oferta regular, o consumo é muito maior. Associado a isso, existe a falta de conhecimento no preparo de pratos pelas famílias, bem como algumas dificuldades na oferta de produtos na forma e na qualidade que o consumidor busca, aspecto que a indústria vem melhorando muito nos últimos anos”, destaca Gregolin.

Outro ponto dessa situação, é o preço, que tende a pesar muito na hora de tomar decisão sobre qual proteína comprar, como relembra Altermir. “É preciso que o preço caiba no seu bolso. As pesquisas, inclusive mostram que nos períodos em que há aumento de renda, há também aumento no consumo de pescados”.

Para ele, é preciso que o setor produtivo atue estrategicamente aumentando a competitividade com outras carnes através da redução do preço final ao consumidor e, por outro, ajuste a oferta à demanda, através do desenvolvimento sistemático de pesquisas de mercado visando identificar o que o consumidor realmente procura e assim, alinhar a produção ao consumo.  “Neste sentido, podemos seguir o exemplo bem-sucedido da cadeia de carne suína que, baseados em pesquisas qualitativas de mercado, se reinventou, e elevou de forma significativa as vendas”, indica.

“SEGUNDA QUARESMA”

Como o foco da Semana do Pescado é ressaltar o consumo da proteína em território nacional, o coordenador da campanha e, também, integrante do comitê organizador, Pedro Pereira, conta como foi a elaboração da edição de 2021, dividida em três pilares: mobilização e engajamento; comunicação e consumo.

“Com relação à mobilização, que é o primeiro pilar, estamos realizando desde fevereiro reuniões com toda a cadeia produtiva, abrangendo desde os varejistas, associações do varejo –  a Abras por exemplo, que é nossa apoiadora –  as associações estaduais, do food service, indústrias, importadores e distribuidores de pescado em todo o País, o governo (através da Secretaria Especial de Pesca e Aquicultura, ligada ao MAPA), e, principalmente, as entidades de classe que que coordenam os produtores de pescado no Brasil”, inicia.

A segunda parte, da comunicação, como também explica Pereira, contou com a criação de um logo novo, “muito elogiado no mercado”. “Estamos fazendo as peças de banners, cartazes, tudo digital, para que todas as pessoas possam ter acesso. Também vamos criar uma landing page e haverá vários eventos on-line que estamos pensando em construir. Essa comunicação se baseia muito na centralização das ações que serão realizadas por esses parceiros e apoiadores que nós mobilizamos”.

Perante o pilar de consumo, haverá a divulgação de vídeos e receitas de produtores e entidades. Assim como um guia de informação sobre como escolher o pescado, disponível nas redes sociais da iniciativa.

“Sempre promovemos um maior consumo de pescado nacional por se tratar de uma proteína saudável, muito saborosa, com inúmeras possibilidades de preparo. O pescado possui um potencial gastronômico gigante, pois quando se fala das proteínas vermelhas, estamos falando de uma espécie e alguns tipos de corte, mas no caso do pescado, são de 150 a 200 espécies conhecidas e comerciais incluindo camarão, crustáceo e moluscos”, ressalta Pedro.

De acordo com ele, cada espécie possibilita sabores e preparos diferenciados. “É fato que os brasileiros preferem a proteína vermelha, mas eles estão descobrindo cada vez mais a proteína do pescado por perceber que o produto melhorou muito de qualidade nos últimos anos. A oferta de qualidade vem melhorando, o preço ganhou muita força atualmente – motivado pelo aumento expressivo das proteínas vermelhas que aconteceu nesse último período –, então o pescado automaticamente ganhou uma representatividade muito boa, pois foi uma das proteínas que menos subiu de preço desde o início da pandemia”, conta.

Um novo olhar para o pescado

Em questão de expectativa para a edição de número 18, o coordenador declara estar atento a algo que ocorreu nas edições anteriores. Segundo ele, quando uma rede de varejo se engajou, foi percebido um aumento de 30% nas vendas, em comparação aos meses anteriores. Sendo assim, a edição também usará como parâmetro a comparação de meses “normais”, fora da sazonalidade.

“A expectativa é que a Semana do Pescado traga um pico de vendas muito positivo. Há quem diga que a ação já se tornou o terceiro evento sazonal do ano que mais gera movimentação, aparecendo na lista junto com o Natal e a Páscoa, que é considerado o período mais importante de vendas do pescado”, comemora, ao complementar que “a Semana do Pescado agita a categoria até mesmo para as vendas do Natal”.

“Os clientes começam a comprar o pescado na Semana do Pescado e isso eleva os patamares de venda até dos meses seguintes, outubro e novembro. De uma maneira geral, as vendas se aquecem e melhoram na categoria. É uma proposta muito positiva. Só precisamos do engajamento de setores como o varejo e os restaurantes para essa campanha”, afirma o profissional.

Para Gregolin, a iniciativa, que acontecerá em todos os estados brasileiros, irá “promover o que tem de melhor em todas as regiões do País, gerando oportunidades de negócios para todos os segmentos envolvidos e experiências gastronômicas das mais diversas para todos os consumidores”. “Queremos fisgar mais consumidores e consolidar a cultura de consumo de pescados no Brasil”, finaliza.

Ficou interessado em saber mais? Acesse o site oficial da Semana do Pescado. Clique aqui.