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A nutrição da vaca prenhe – efeitos do feto ao rendimento de carcaça

Por: German Holguin Sanabria¹, Leonardo Saalfeld², Daniele Zago3, Júlio Barcellos4
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A nutrição adequada durante a gestação da fêmea bovina é aspecto fundamental para garantir a saúde da mãe, o desenvolvimento apropriado do feto e condições para um bom desempenho produtivo do rebanho. Os efeitos que a nutrição parental terá sobre o desenvolvimento da progênie, e a possibilidade de otimizar esse desenvolvimento são conhecidos por programação fetal. A programação fetal não se refere apenas ao desenvolvimento dos órgãos e tecidos do feto, mas também à forma como as condições nutricionais da mãe, em especial, podem influenciar a futura capacidade reprodutiva, a saúde metabólica e a eficiência produtiva dos seus descendentes. E esses efeitos, nos mamíferos em geral, têm sido percebidos até a terceira geração.

Durante a gestação ocorrem diversas alterações fisiológicas que exigem uma adaptação na dieta para garantir que tanto a vaca quanto o bezerro recebam os nutrientes necessários. O período embrionário e fetal constitui a fase com a taxa de crescimento mais acelerada de toda a vida de um bovino, já que em aproximadamente 282 dias, uma única célula terá dado origem a um bezerro de aproximadamente 40 quilos. Diferentemente da nutrição pós-natal, na nutrição fetal não há perdas, uma vez que todos os nutrientes digeridos, que forem absorvidos pela mãe, serão disponibilizados ao feto, o que garante um eficiente aproveitamento e conversão alimentar dos nutrientes.

Para efeitos práticos, a gestação da vaca é dividida em três trimestres. Em cada um deles, ocorre a formação de tecidos específicos. Em especial, os tecidos de maior interesse comercial, muscular e adiposo, têm seu pico de formação no segundo e terceiro trimestres, respectivamente. Esses períodos são determinantes para a qualidade da futura carcaça, uma vez que neste momento é determinada a quantidade de células (hiperplasia) musculares e adiposas que o animal terá durante toda a sua vida. Após o nascimento, essas células crescerão apenas em volume (hipertrofia), mas não em quantidade (Figura 1).

Tabela 1 – (Fonte: NESPro/UFRGS)

No terço inicial da gestação ocorre a miogênese primária, que é a formação das primeiras fibras musculares no feto. No segundo trimestre acontece a miogênese secundária, pico de formação muscular. Já no terço final e a partir do nascimento, só ocorre a hipertrofia das células musculares. Dessa forma, a disponibilidade adequada de nutrientes às vacas prenhes nos dois primeiros trimestres da prenhez, resultará na expressão completa da capacidade genética de musculosidade da progênie. Uma vez que com mais fibras, os bezerros serão propensos a ter maiores feixes musculares, maior ganho de peso até o desmame, e consequentemente maior potência para gerar mais carne no futuro.

Esse princípio se aplica ao terço final, período em que o feto produz células adiposas e, devido à hipertrofia das células musculares formadas previamente, deposita 75% do peso que terá ao nascimento. Esses últimos três meses de gestação serão determinantes para a formação das células adiposas subcutâneas, que protegem a carcaça da oxidação do músculo no resfriamento da carcaça, e das células adiposas inter e intramusculares que conferem sabor, suculência e maciez à carne. Além disso, o desenvolvimento fetal nessa fase refletirá no peso ao nascimento, no ganho de peso até o desmame, e no aparecimento da puberdade em novilhas e touros.

Muitas dessas alterações que os nutrientes disponibilizados pela mãe provocam no feto, são explicadas pelo imprinting metabólico, fenômeno pelo qual a super ou subnutrição da fêmea prenhe pode alterar a expressão gênica de características da progênie através de mecanismos epigenéticos. Esses mecanismos epigenéticos podem ativar, desativar ou alterar a magnitude da expressão fenotípica de características como o crescimento, a eficiência alimentar e a modulação da resposta imunológica da progênie, entre outras, sem alterar a sequência de DNA.

Durante a gestação ocorrem diversas alterações fisiológicas que exigem uma adaptação na dieta (Foto: Reprodução)

Portanto, os estudos recentes estão focados na epigenética, a fim de aumentar o leque de informações sobre as influências das variações da nutrição materna sobre a progênie. Além disso, novas linhas de pesquisa estão surgindo, tais como os efeitos da nutrição materna pré-concepção e da nutrição paterna sobre o desenvolvimento do bezerro. No entanto, estas pesquisas ainda estão em fase inicial e ainda não apresentaram dados conclusivos.

Dessa maneira, a programação fetal oferece alternativas que têm sido tão demandadas para melhora na eficiência dos rebanhos de cria. Porém, a aplicação dessa tecnologia, demanda dos gestores uma visão de longo prazo, visto que seus efeitos sobre o rendimento de carcaça se aplicam no final do ciclo produtivo de um bovino de corte. Porém, toda a cadeia produtiva se beneficia desses investimentos, desde o produtor, que busca animais com alto potencial produtivo, até a indústria e varejo, que demandam carcaças e cortes pesados, e carne de máxima qualidade possível. Portanto, a nutrição adequada da vaca prenhe não é apenas um investimento na produtividade e bem-estar materno, mas também na eficiência do uso dos recursos genéticos e ambientais, que reflete em maior produtividade e sustentabilidade integral dos sistemas de cria.

Autores: 1Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFRGS; 2Graduando do curso de Medicina Veterinária da UFRGS; 3Pós-Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFRGS; 4Prof. Titular no Departamento de Zootecnia da UFRGS e Coordenador do NESPro.

Figura 1. Períodos de formação e desenvolvimento dos tecidos muscular e adiposo em fetos bovinos. Fonte: Elaborada pelos autores.

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