por Natalia Ponse | [email protected]
No vasto cenário da agricultura e agropecuária, o Brasil destaca-se como uma potência. Além da abundância de recursos naturais, o uso eficiente de técnicas e ferramentas inovadoras também agrega ao título. O país combina conhecimento técnico especializado com recursos naturais abundantes para impulsionar o setor agropecuário rumo a um futuro promissor. Entre essas práticas, a irrigação de pastagens emerge como uma estratégia fundamental.
A capacidade de manejar e otimizar o uso da água para irrigação não apenas impulsiona a produtividade agrícola, mas também promove a sustentabilidade ambiental e econômica. Um olhar atento a países com grandes áreas irrigadas, como Índia (71 milhões de ha), China (69 milhões de ha) e Estados Unidos (23 milhões de ha), mostra que a produtividade aumenta significativamente.
“No mundo, a irrigação está presente em cerca de 18% das áreas agrícolas e responde por 44% da produção e 48% do valor bruto da produção agrícola (VBP). Portanto, o aumento da área irrigada contribuirá para o aumento da produtividade e da renda da agricultura brasileira”, explica Fernando Campos Mendonça, professor da Esalq/USP e especialista do EducaPoint, plataforma de capacitação de profissionais do agronegócio.
Ele explica que a irrigação contribui para o aumento da produtividade de água, podendo ser medida em quilos de carne ou leite por cada metro cúbico de água disponível às plantas (chuva + irrigação). “Ao contribuir para aumentar a produtividade de forragem, a irrigação de pastagens reduz a necessidade de área para a produção da mesma quantidade de carne ou leite”, diz.
Além disso, sistemas de irrigação possibilitam a redução do custo de adubação, que pode ser feita via fertirrigação (aplicação de fertilizantes via água de irrigação). “A fertirrigação reduz o custo operacional, pela aplicação sem necessidade de tratores e adubadoras, e também o custo de aquisição de fertilizantes, devido ao aumento da eficiência de uso dos nutrientes aplicados”, acrescenta Fernando.
Outro ponto benéfico da irrigação é o bem-estar animal. O profissional destaca três aspectos:
“Em primeiro lugar, a maior disponibilidade de forragem é um item de bem-estar. Animais que precisam andar menos para se alimentar reduzem o gasto energético e podem aumentar a produtividade de carne ou leite;
O segundo ponto é que animais que comem o necessário em menos tempo podem ir logo para as áreas de sombra para ruminar, beber água e descansar;
E o terceiro item vem das conversas que tenho tido com profissionais técnicos da produção de leite, que relatam o aumento do tempo de pastejo em pastagens quando o sistema de irrigação é ligado durante o dia. O molhamento dos animais reduz a temperatura corporal e faz com que fiquem mais tempo na pastagem, aumentando a colheita de forragem e aumentando a produtividade animal”.
Fernando pontua que um sistema de irrigação deve ser planejado para mais de uma função, e não apenas para aplicação de água. “Ressalto a importância de usar a fertirrigação (aplicação de fertilizantes via água) como estratégia de aumento da eficiência de adubação”, acrescenta.
Além disso, também é possível fazer a bioirrigação, que é a aplicação de produtos biológicos por meio do sistema de irrigação. “Produtos de controle biológico como Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana podem ser aplicados via irrigação, com a vantagem de criar um microclima apropriado à multiplicação desses microrganismos na pastagem”, diz.
Por último, mas não menos importante, o sistema de irrigação pode ser utilizado na pecuária de precisão, pois está sempre no campo. E tudo o que vai ao campo, seja gente ou máquina, explica Fernando, deve voltar com alguma informação útil para a gestão da produção agropecuária.
A prática no campo
O primeiro desafio, de acordo com Fernando, é a mudança de mentalidade do produtor. “Agricultura irrigada não é agricultura de sequeiro + água. O produtor deve pensar e planejar as atividades de modo diferente”, define.
Ele explica que o manejo das pastagens em sistema rotacionado, a fertirrigação e a bioirrigação, a seleção de animais mais produtivos no rebanho, o aumento da profundidade do sistema radicular das forrageiras e a automatização de processos são alguns dos fatores modificados ao trabalhar em pastagens irrigadas.
De acordo com o acadêmico, o segundo desafio é a capacitação de profissionais para elaboração de projetos e assistência técnica em áreas irrigadas. Não adianta só comprar um sistema de irrigação se não houver assistência técnica qualificada.
Alinhada às principais tendências globais
“A irrigação deve crescer no Brasil, pois a atual área irrigada é cerca de 8-9 milhões de hectares e, segundo o Atlas da Irrigação da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA, 2021), podemos chegar a 55 milhões de hectares”, define Fernando.
Mas, ele também insere que esse crescimento ocorrerá nas regiões em que houver menor conflito pelo uso de água, tais como as regiões Centro-Oeste e Norte. “As tendências climáticas atuais apontam para a ocorrência de chuvas mais intensas e secas mais acentuadas em boa parte do território brasileiro. A irrigação funciona como uma espécie de seguro, uma redução de riscos de perda de produtividade, mas também aumenta a qualidade das culturas. Se tratarmos as pastagens com a mesma dignidade que damos às demais culturas agrícolas, a irrigação promoverá um enorme salto de produtividade nos sistemas de produção animal”, explica.
A irrigação de pastagens promove o aumento da produtividade de forragem, de leite e de carne, ajudando a viabilizar a produção mesmo em pequenas propriedades rurais. Com isso, acrescenta Fernando, ajuda a aumentar a renda dos produtores rurais e de todos os componentes das cadeias produtivas de carne e leite. Também produz benefícios ao comércio local, o que é evidente em regiões com grande área irrigada.
Com relação ao desenvolvimento sustentável, a agricultura irrigada com manejo adequado contribui para o aumento da produção e da produtividade dos insumos aplicados, reduzindo desperdícios e beneficiando todo o país.
Além disso, os frigoríficos, curtumes e as demais indústrias ligadas à produção de carne também são beneficiadas com a garantia de oferta de produto, gerando um fluxo mais estável de produtos. “Por sua vez, o consumidor pode desfrutar de produtos de origem animal com maior qualidade e com menor impacto ambiental, pois as produtividades de água (kg de produto por m3 de água) e de fertilizantes (kg de produto por kg de fertilizante) na agricultura irrigada são maiores”, finaliza.
Com a menor necessidade de área para produzir a mesma quantidade de carne ou leite, o produtor passa a fazer parte do grupo de profissionais que estão inseridos nas principais tendências da produção de alimentos global. E, na pecuária, isso pode ser decisivo para a continuidade no negócio.
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