Em 2023, estivemos diante de um dos anos mais desafiadores para a pecuária leiteira. Nos últimos meses de 2022 observamos os maiores patamares de preços do leite pago ao produtor. Com isso, começamos 2023 com as cotações em patamares acima do registrado em anos anteriores. A primeira metade do ano foi marcada por uma menor produção, o que colaborou para o cenário de alta nos preços.
Porém, mesmo estando em um momento sazonal de produção menor no inverno, junho – julho, em que normalmente observamos recuperação de preços, as cotações ao produtor caíram em plena entressafra (figura 1).
Figura 1. Cotação média nacional ponderada do leite ao produtor – em R$/litro, sem o frete, valores nominais.
O aumento na disponibilidade interna de leite via importações foi o principal motivo da pressão sobre os preços.
Ao mesmo tempo, a produção no campo começou a reagir gradativamente com as margens melhores ao produtor (menor custo de produção), corroborando para a pressão de baixa.
Importação brasileira de lácteos
O aumento da importação de leite em 2023 chamou a atenção dos agentes do setor. O grande volume internacionalizado foi apontado como um dos principais motivos da queda nos preços no mercado brasileiro.
Em 2023, o volume de produtos lácteos adquirido de outros países cresceu 63,8% quando comparado ao mesmo período de 2022.
Considerando o leite em pó, principal produto adquirido pelo país, o preço médio do produto importado em 2023 foi de US$3,71 por quilo, 7,9% menor na comparação com a média do mesmo período de 2022, cuja cotação estava em US$4,03 por quilo.
Para comparação, o quilo no mercado doméstico (mercado atacadista), em 2023, ficou cotado, em média, em R$28,11 ou US$5,63, considerando o câmbio médio no período em R$5,00 por dólar.
O produto importado custou 34,0% menos que o nacional, sendo este o fator relacionado ao aumento nas importações em 2023.
E para 2024, qual a expectativa?
O ano começou com a produção em desaceleração, fruto do aumento nos custos e redução da remuneração para o produtor de leite ao longo dos últimos meses.
Este fato, reverteu o movimento de baixa no preço do leite pago ao produtor. Depois de seis meses consecutivos de quedas, o preço do leite ao produtor subiu no pagamento de dezembro, referente ao leite entregue em novembro (movimento que raramente se observa no período).
No mercado internacional, a recuperação nos preços, que está acontecendo desde agosto de 2023, deverá continuar ocorrendo. A desaceleração da oferta internacional, causada justamente pelo desestímulo com os recuos nos preços, deve manter o mercado firme.
Com isso, para o Brasil, os preços internacionais maiores reduzem a competitividade do leite importado. Cabe lembrar, porém, que o câmbio, o preço do mercado interno e a competitividade com o leite do Mercosul (nossos principais fornecedores) serão fatores importantes para definir o rumo das compras brasileiras. Além disso, as medidas do governo brasileiro para conter a importação de lácteos entra em vigor a partir de fevereiro, o que pode afetar o volume importado.
Com relação a oferta de leite no campo, o ritmo de crescimento observado em 2023 deve se manter, porém fatores relacionados ao clima, com possíveis efeitos do fenômeno El Niño, podem gerar desafios à produção.
Do lado da demanda, a situação do consumidor brasileiro deve mudar repentinamente. O mercado espera mais um ano de crescimento econômico, porém em um ritmo menor comparado a 2022 e 2023. Os preços dos produtos lácteos nas gôndolas devem ser menores do que observamos em 2023, o que pode estimular o consumo. Em média, os preços dos lácteos no varejo de São Paulo, em janeiro de 2024 estão 6,9% menores que em 2023.
Para os custos de produção, a perspectiva é de que as despesas com alimentação animal aumentem este ano. Estamos assistindo ao evento climático causado pelo fenômeno El Niño, que tem desafiado a produção de grãos. A expectativa é de que a produção brasileira seja menor que no ciclo anterior.
Muitos desafios rondarão o mercado ao longo do ano, como o limite de alta nos preços, o cenário de importação e mudança nos custos.
Fonte: Scot Consultoria.